Rogério Miguez
Escritor, expositor e articulista
de periódicos espíritas.
São José dos Campos/SP
Escritor, expositor e articulista
de periódicos espíritas.
São José dos Campos/SP
Que tal fazer de O livro dos espíritos o livro dos espíritas? (12/04/2025)
Há 168 anos, a Livraria E. Dentu, Galeria de Orléans, nº 13, Palais Royal em Paris, presenciou o nascimento de uma nova e extraordinária luz para a Humanidade. Esta surpreendente claridade se deu por meio da publicação de um livro, até então sem paralelo no universo da literatura, intitulado O livro dos espíritos. Era 18 de abril de 1857, mais um sábado na primavera francesa, quando seu autor - Allan Kardec - se apresentou ao mundo, mais uma vez, e ofereceu sua primeiríssima obra de cunho espiritualista - particularmente espírita -, a primeira de uma sequência de cinco obras fundamentais que formariam o arcabouço da recém-criada Doutrina dos Espíritos.
Dissemos que o autor se apresentou mais uma vez, pois este Espírito já havia vivido entre os gauleses na antiguidade com o nome de Allan Kardec, vindo daí a sugestão da Espiritualidade Superior que ele retomasse o antigo nome para se desvincular do seu atual nome francês de batismo, evitando, desta forma, mal entendidos entre aqueles que já o conheciam como um pedagogo de renome nacional.
Inicialmente, o lançamento da obra não acusou um sucesso retumbante no meio literário, pois era tudo novidade e seu autor era mais conhecido por Hippolyte Léon Denizard Rivail, um professor consagrado, mas como adepto do espiritualismo ainda desconhecido da grande maioria. É fato que conheceu e praticou as leis do magnetismo animal, por algumas décadas, mas este contato com esta dádiva de Deus não o tornou mais conhecido do que já era.
O pouco tempo em que esteve envolvido com os fenômenos espiritualistas - de 1855 até o início de 1857 – com o objetivo de entender os inusitados fenômenos das mesas girantes, comuns àquela época, terminando por redigir esta obra, não o tornou conhecido, de imediato, fora do âmbito da pedagogia tradicional, área de atuação em que também brilhou com a produção de obras educacionais usadas pelo sistema francês de educação escolar.
Entretanto, gradativamente, o brilho daquela luz foi se expandindo e chamando a atenção dos parisienses e, um pouco mais à frente, do mundo inteiro, a ponto de Allan Kardec afirmar que em breve o Espiritismo estaria presente em âmbito mundial, pois na França já estaria praticamente consolidado.
Contudo, como sabemos, esta expectativa deste filho de Lyon não se concretizou, pois após a sua morte o Movimento Espírita, gradualmente, foi se distanciando da pureza original, mesmo que estivessem agora à frente de sua divulgação seus seguidores mais próximos. Infelizmente, eles não souberam manter a Doutrina nos seus trilhos iniciais, permitindo que aqui e ali se infiltrassem práticas e literaturas que não correspondiam aos ideais originais.
O resultado não se fez esperar: em curto espaço de tempo o Movimento se perdeu sob influências nefastas, permitidas e aceitas por aqueles que tomaram as rédeas da divulgação espírita, mas não souberam honrar os princípios doutrinários que, em última instância, explicam como funcionam as Leis de Deus. O cuidado do autor em bem consolidar os pilares do Espiritismo foram deixados de lado e não houve outro remédio, por parte da Espiritualidade Superior, senão providenciar a migração da divulgação do Espiritismo para outra região do planeta.
O país escolhido se situava agora abaixo da linha do Equador, particularmente, a grande e promissora nação brasileira.
E assim se deu. O primeiro Centro Espírita foi fundado em Salvador, Bahia, por Luís Olímpio Teles de Menezes. Em 1873 fundou-se o Grupo Espírita Confúcio no Rio de Janeiro. Entretanto, os primeiros exemplares do Espiritismo aportaram em terras brasileiras no idioma nativo do autor, o francês, e coube a Joaquim Carlos Travassos traduzir O livro dos espíritos para o português em 1875. Até então, apenas aqueles que dominavam a língua do povo que se originou dos antigos gauleses, podiam apreciar os inolvidáveis ensinos contidos naquela filosofia espiritualista vinda d’ além-mar.
A partir de então, o povo pôde ler a primeiríssima obra de Allan Kardec e o Movimento tomou impulso vertiginoso, espalhando-se nos quatros cantos do país, permitindo que as massas também pudessem conversar com as almas do outro mundo, como Allan Kardec e os europeus de então fizeram à vontade, recebendo orientações e mensagens dos chamados mortos sobre todos os assuntos de interesse.
Embora tudo estivesse caminhando bem, ainda surgiram dedicados e fiéis médiuns como Zilda Gama, o mineiro Chico Xavier, mais à frente na Bahia, Divaldo Franco e, em seguida, José Raul Teixeira no Rio de Janeiro, entre tantos outros. Entretanto, os novos e alguns antigos adeptos do Espiritismo – talvez seja da natureza humana, característica de Espíritos ainda inferiores –, começaram mais uma vez um lento processo de adaptação da teoria espírita original aos seus particulares costumes e inclinações, aos modelos aprendidos e vivenciados em antigas participações de outras vertentes religiosas, nesta ou em outras vidas, introduzindo práticas e conceitos que não se alinhavam com os pilares doutrinários.
Uma das muitas razões para tanto, se deve ao costume de não se ler, muito menos estudar as obras básicas, particularmente a primeira, a pedra angular, ou seja, O livro dos espíritos.
É impressionante o surgimento na atualidade de uma quantidade imensa de propostas e ensinos divulgados distantes da realidade espírita, sem que muitos percebam que o que defendem, em muitas situações, não se encaixa na estrutura doutrinária espírita, mas, deixam de lado este aspecto, pois, afinal, o que apenas desejam é se sentirem satisfeitos com a forma que idealizam o Espiritismo, mas não com aquela que de fato o representa.
Esta preocupante situação se reflete na literatura produzida em nome do Espiritismo, que invade o ambiente espírita com propostas estranhas, com o poder de, aos poucos, modificar a forma de se entender e viver esta maravilhosa Doutrina; um ambiente que faz lembrar ou revive os anos posteriores à desencarnação de Allan Kardec, quando, por exemplo, a Teosofia de Helena Petrovna Blavatsky era divulgada abertamente na Revista Espírita, para desespero dos reais seguidores do Espiritismo, leitores deste importante periódico também criado por Allan Kardec em 1858.
Talvez estes antigos adeptos tenham voltado, agora encarnados nas terras brasileiras, com a missão de refazer seus destoantes passos doutrinários, embora alguns deles, novamente, estejam se deixando levar pelo conhecido canto da sereia, que os encantou no passado, ou seja, abraçando as propostas dos inimigos de Deus, de Jesus e, portanto, do Espiritismo, na figura dos obsessores que pululam na atmosfera terrena.
Será que o cenário da Europa do século XIX, pós Kardec, está se tornando realidade novamente?
O disparate chega a tal ponto que existe proposta de que todo livro, em cuja contracapa conste a afirmação de que se trata de obra espírita, seja considerado, só por isso, como espírita, bastando esta simples menção para comercializar, estudar e divulgar o livro por todos os meios, inclusive estimulando a formação de grupos de estudo destas literaturas, logo alçadas a representantes das novíssimas revelações doutrinárias.
Espera-se que haja uma reversão urgente destas condutas sob pena de assistirmos repetir-se o que aconteceu na Europa quando do surgimento do Espiritismo, só que agora em outra nação, o Brasil, impedindo, pelo menos provisoriamente, que haja a definitiva implantação da Doutrina neste planeta-escola, a Terra.
Para tanto, uma providência simples que poderia ser implementada, imediatamente, seria o retorno sistemático ao estudo das obras fundamentais em todas as instituições espíritas, como se fazia no passado, pois, naquela época, afora as obras básicas, havia poucos títulos de livros verdadeiramente espíritas, não havendo motivo algum para se dar valor a outras literaturas e modismos pseudodoutrinários, pela simples razão de que não existiam...
As obras básicas deveriam receber prioridade quando se fala em novas programações de estudos. Há muitos novos interessados em aprender o que diz o Espiritismo, do que se trata, quais são os seus fundamentos, e a porta de entrada para estes novatos poderia e deveria ser o estudo de O livro dos espíritos.
Para se ter uma ideia da importância deste livro, o médium Divaldo Franco já relatou que, quando de seus primeiros contatos com a Espiritualidade Superior, na figura de Viana de Carvalho, advertindo-o sobre a sua missão, lhe foi sugerido que lesse O livro dos espíritos por três vezes consecutivas. Após a terceira advertência, o médium baiano não deixou de estudar esta obra ao longo de toda a sua existência, assim fazendo até os dias de hoje.1,2
Além dele, Raul Teixeira também recebeu, ao iniciar sua valorosa missão na difusão do Espiritismo, a mesma orientação dos Benfeitores do espaço. E o médium fluminense, a partir de então, não deixou de estudar esta obra, refazendo seus estudos sobre este extraordinário livro todos os anos. À época em que revelou esta prática, já o havia estudado por 42 anos seguidos, além de ter o costume de realizar consultas diárias quando necessário.3
E, para aqueles que imaginam que seja uma tarefa muito difícil de cumprir, entre tantas atividades que possuímos, basta lembrar que Yvonne Pereira lia todas as obras fundamentais, todos os anos, durante a sua última reencarnação.4 E para nos convencermos da factibilidade de também reviver este salutar costume da médium fluminense, observemos que há aproximadamente duas mil páginas de escritos de Allan Kardec no pentateuco espírita, ou seja, em média quatrocentas páginas por livro. Se dividirmos este número por 365 dias, o resultado não chega a seis páginas de leitura por dia. Ah! se assim agíssemos! Infelizmente, quanto tempo perdido na frenética utilização dos telefones celulares, enviando e lendo mensagens e imagens, de modo geral absolutamente desnecessárias, divulgando fake News, entre tantos outros usos inadequados desta dádiva da tecnologia! Se não nos falta tempo, por qual razão não nos dispomos a ler seis páginas destas cinco obras básicas por dia, ao longo de um ano!?
Desta forma, quem sabe, em breve tempo, O livro dos espíritos poderá ser novamente considerado, como foi no passado, O livro dos espíritas.
Referências:
1 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uOloypdKjyA Acesso em: 23 de nov. 2024.
2 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=RFsO53fcFU8 Acesso em: 23 de nov. 2024.
3 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Vt2tKsf8vBE Acesso em: 23 de nov. 2024.
4 Reformador, jul. 2002, p. 16(206). Ano 120. nº 2080. Kardec estudado em apenas um ano. Affonso Soares.
Rogério Miguez
24 - Ano novo, convite à renovação (27/01/2025)
O posicionamento da Terra na estrutura do Sistema Solar determina a existência de períodos cíclicos de 365 dias que são designados por nós, os habitantes deste planeta, de anos, ou por palavras equivalentes em outros idiomas. Estes períodos ajudam-nos a organizar a passagem do tempo ao longo de nossas muitas existências.
Ao nos aproximarmos do término de mais um ano e, em consequência, início de outro, sempre há muita expectativa de que o novo ano será melhor do que aquele que o antecedeu. Tudo indica que a novidade de mais uma longa etapa de 365 dias deverá trazer novas alegrias e oportunidades, melhores do que aquelas que se foram.
É fato, a vida sempre se renova e convida aqueles que ainda lhe estão submetidos a se superarem, através da construção de uma existência mais produtiva, promovendo a própria evolução, buscando dias melhores, tranquilos e felizes.
Entretanto, para concretizar esta renovação tão desejada e, diga-se, invariavelmente possível, se faz necessário o desejo real em aperfeiçoar-se, uma verdadeira disposição íntima para mudar.
No entanto, sabemos que toda mudança carrega em si mesma certo desconforto pessoal e, por conta deste conhecido incômodo, certamente já experimentado outras vezes em situações diversas, muitos preferem não abandonar a posição de conforto, adiando provisoriamente seu processo evolutivo - afinal somos livres e senhores de nossos destinos -, ditando o ritmo do próprio progresso.
Embora, para muitos, não seja gratificante mudar, para Espíritos ainda vinculados às lições que a Terra proporciona, esta renovação é absolutamente necessária, pois por aqui, em sua esmagadora maioria - por enquanto - só aportam Espíritos compromissados negativamente com as leis divinas e, se não se dispõem a reformar-se, não deixarão a condição de devedores e não vencerão as muitas provas previstas dentro do processo evolutivo previsto para qualquer Espírito, seja da Terra, seja de outros mundos.
Toda transição de ano é momento oportuno para realizarmos uma avaliação das nossas conquistas, e também das derrotas, obtidas e sofridas, respectivamente, no ano que se encaminha para o término.
Há uma conduta que pode ser muito útil para todos nestes momentos de transição, podendo ajudar-nos sobremaneira: preparar uma lista de objetivos ou, quem sabe, desejos para o iniciante ano.
Para bem rechear esta relação de metas, sugere-se que cada qual faça uma sincera análise pessoal, identificando suas condutas positivas, construtivas e edificantes; em contraposição às negativas, egoístas ou prejudiciais, para si mesmo e para o próximo.
Uma vez identificados os campos de trabalho ou de atuação que precisamos renovar ou transformar, anotemos cuidadosamente em nosso inventário e, no desenrolar do próximo ano, devemos fazer atenção redobrada aos itens que assinalamos como danosos ou lesivos; por outro lado, as ações reconhecidas como nobres e salutares devem ser fortalecidas o quanto pudermos.
Alguns, versados na lei das muitas vidas, equivocadamente argumentam que como teremos muitas oportunidades pela frente, não irão esforçar-se com muito empenho pela busca de sua melhora íntima, sob o entendimento de que Deus, sendo Pai amoroso, trará outras oportunidades de aprendizado, tantas quantas forem necessárias.
É fato, teremos muitas chances de evoluir, contudo, quando não aproveitamos a dádiva oferecida no momento exato e no modo em que se apresenta, no futuro outra oferta divina acontecerá, mas modificada, pois ela não pode acontecer nas mesmas condições anteriores, seguramente não será a mesma. Se assim sucedesse, não nos educaríamos, uma vez que cruzaríamos os braços à espera de nova possibilidade de progresso idêntica àquela desperdiçada.
Mas... vamos retornar à nossa lista.
Um setor que pode alimentar em muitos itens a relação de melhoramentos possíveis é o do aspecto das leis morais. Como ainda estamos bem distantes da condição de pureza espiritual, as muitas virtudes existentes não são características presentes em nossas personalidades.
Assim, em tempos de corriqueira intolerância, como ocorre atualmente, caso também nos observemos intolerantes, empenhemo-nos em adquirir as virtudes da paciência, da compreensão, do apaziguamento e, quem sabe, nos tornaremos mais tolerantes.
Pelo outro lado da moeda, ou seja, na aquisição de conhecimentos, particularmente no campo doutrinário, existe uma proposta desafiadora: ler as obras fundamentais da Doutrina espírita em um ano. Como!? Lendo algumas páginas das obras básicas por dia, começando por O Livro dos Espíritos.
As obras básicas de Allan Kardec contam-se em 5 volumes. Ora, cada uma possui aproximadamente 400 páginas, perfazendo algo em torno de 2000 páginas. Se dividirmos esta quantidade por 365 dias, teremos de ler em média 6 páginas por dia. Contudo, quando poderemos ler estas páginas na loucura em que hoje caminha a sociedade? Por exemplo, na hora da consulta médica, enquanto aguardamos ser chamados, em vez de sintonizarmos com programas de televisão absolutamente desnecessários que são exibidos nas salas de espera; nos deslocamentos quando tomamos o metrô; nas horas em que estamos hipnotizados pelas notícias, em sua maioria totalmente irrelevantes e negativas, nas chamadas redes sociais; utilizando um pouco do tempo que dedicamos à assistir programas inúteis nas redes de televisão em nossas casas; ou seja, oportunidades não faltam, o que falta é disposição, empenho, vontade e um pouco de organização.
Sejam itens compondo o campo das virtudes, sejam na área intelectual, é preciso exercitar continuamente as atitudes positivas compondo a nossa lista e tentar evitar aquelas prejudiciais, de modo que as primeiras se incorporem em definitivo à nossa personalidade e caráter, enquanto as últimas vão perdendo força em nossa existência.
É oportuno lembrar que como não estamos acostumados a seguir fielmente as leis divinas, algumas propostas elencadas em nossa lista não serão atendidas e nos surpreenderemos descumprindo mais uma vez os projetos de melhoria incluídos em nossa lista de novo ano. Nesta hora, não há outra atitude a tomar a não ser reconhecer mais uma vez o equívoco e seguir em frente, jamais estacionar na estrada da vida lamentando-se, julgando-se o último dos últimos, incapaz de cumprir as próprias decisões.
Como esta prática nos desafiará de modo intenso interiormente, e o homem velho ainda é poderoso em seus princípios de vida, peçamos ajuda, roguemos apoio, solicitemos sustento aos nossos, por hora, vacilantes esforços visando à nossa melhoria.
Mas, à quem devo clamar? A Deus em primeiro lugar, a Jesus, nosso amigo incondicional, e a nosso guia espiritual, este último é um trabalhador incansável que se encontra ao nosso lado, desde o momento em que nos ligamos à célula-ovo, no momento da concepção e, em muitos casos, mesmo antes de reencarnarmos.
Sim, o ano vai começar, façamos deste Novo Ano um marco em nossa jornada evolutiva, avancemos destemidos, convictos, com entusiasmo rumo aos braços de Deus nosso Amoroso Pai.
Rogério Miguez
23 - A busca da paz e o ano novo (23/01/2025)
Mais um ano vai iniciar. Quantas expectativas! Esperança mais uma vez a brilhar em nossos olhos. Incontáveis pedidos. Entre os muitos formulados nesta hora de transição, quando um período de 365 dias se encerra e outro novíssimo desponta, destaca-se um: obter paz no ano começante.
Solicitação das mais justas, muito apropriada, pois, com paz temos tranquilidade para viver e melhor aproveitamos as possibilidades de aprendizado oferecidas pela vida, que são inumeráveis.
Contudo, raros são aqueles realmente dando-se conta do significado de solicitação tão especial. Desconhecem, em sua grande maioria, a própria participação neste processo, por não perceberem ser fundamental e indispensável o próprio envolvimento na aquisição de tão nobre estado.
Alguns creem que dormirão e acordarão sem a existência das guerras e conflitos mundiais; outros esperam de Deus a promoção da paz por decreto; ajuízam mais alguns que os conflitos sociais que marcam diariamente o nosso noticiário jornalístico, envolvendo os contraventores e as diversas forças de segurança, desaparecerão como por encanto, num passe de mágica; soluções milagrosas, surgidas do nada, devem aparecer: afinal, é um ano novo que se inicia...
Este justíssimo desejo expressa-se sem que os solicitantes percebam, desde a passagem do ano, que estão agindo e criando as bases para que o anseio não se realize. Vivem um paradoxo: embora desejem algo ardentemente, insistem por destruir as condições básicas que poderiam levar à concretização do que avidamente aspiram.
Sim, infelizmente é um fato!
Como uma pessoa pode pedir e almejar paz, se durante o ano que se finda, e mesmo durante as comemorações do que se inicia, pauta a existência sob toda a sorte de abusos e condutas comprometedoras que se opõem a uma convivência pacífica?
· Alguns saem armados para se “divertirem” e, quando os multicores fogos de artifício são lançados na virada do Ano, disparam literalmente suas armas em direção ao espaço, numa demonstração inequívoca dos princípios truculentos que lhes caracterizam a existência.
· Adquirem estes mesmos fogos de artifício e os lançam em todas as comemorações julgadas apropriadas, tais como aniversários, casamentos e jogos de futebol, apavorando os animais e incomodando os idosos, os doentes e as crianças, em um total desrespeito à ordem pública.
· Outros bebem alcoólicos, consomem drogas ilícitas, dando, desse modo, acesso e guarida a obsessores de todos os tipos. Acabam se envolvendo em brigas e discutindo por migalhas, sem nem mesmo saberem, ao final da refrega, a razão da rixa em que se envolveram. Tomam seus veículos e trafegam desnorteados pelas ruas, sob sério risco de atropelarem e matarem transeuntes... Mantém a família sob o terror de suas manias e idiossincrasias, agindo como verdadeiros déspotas, cujas vontades não podem ser questionadas.
· Compram armas para supostamente se defenderem de agressões e, se preciso for, matar os “inimigos” infiltrados na sociedade em que vivem, responsáveis, segundo eles, por impedir a conquista da paz que tanto ambicionam, justificando-se sob a infeliz máxima: antes ele do que eu.
· Não respeitam os mais comezinhos direitos alheios, não cumprem os próprios deveres, discutem nas reuniões de condomínio, brigam na rua por nonadas, xingam no trânsito, dirigem como alucinados, desrespeitam sistematicamente todas as regras do trânsito e, ao se verem envolvidos em acidentes, procuram quase sempre fugir à responsabilidade que lhes compete, inventando justificativas absurdas, baseadas em mentiras descaradas, e muitos são crentes em Deus, que, segundo dizem, tudo vê e provê.
· Equipam suas residências com medidas protetivas, tais como alarmes, câmeras, ferozes animais de guarda, conexões com firmas de segurança, na ilusória tentativa de assegurarem a própria paz, bem como a de seus familiares, como se a paz pudesse vir do exterior e não do interior do ser.
· Desrespeitam as mais básicas diretrizes da vida em sociedade quando usam equipamentos sonoros em volumes incompatíveis com o bom senso, em avançadas horas noturnas, perturbando toda a vizinhança, sem se importarem se há recém-nascidos ou não na comunidade.
· Adquirem animais por pura diversão, que uivam, latem, rosnam, a qualquer hora do dia, perturbando o sono e a paz dos “amigos” com quem convivem nos condomínios e prédios. Além disso, confinam animais de grande porte em apartamentos muitas vezes exíguos e saem para trabalhar e realizar afazeres diversos sem se importar se os animais incomodam os vizinhos ou não, nem mesmo em avaliar se este ambiente é adequado para um animal de tamanho avantajado. Em vez de adestrá-los, preferem deixá-los à vontade; afinal, educar e treinar um animal irracional dá trabalho e, sobretudo, gera despesas.
Poder-se-ia elencar incontáveis atitudes totalmente destoantes de uma convivência salutar, harmônica, pacífica, em uma comunidade, e cada qual deve analisar-se para identificar de que maneira pode melhorar a sua participação no meio em que vive, tornando-se um verdadeiro e honrado cidadão.
Mas o que é a paz?
Seria poder desfrutar de uma vida ociosa, num repouso sem-fim, como se estivesse deitado em berço esplêndido, sem necessidade de trabalhar, de ocupar-se utilmente, sem contratempos de espécie alguma, saúde quase perfeita, inexistência de inimigos, desafetos e opositores, dinheiro farto nos bolsos para fazer face a todas as extravagâncias, ausência de problemas de qualquer ordem?
Cremos que não, pois muitos desfrutam de tudo ou quase tudo isso e algumas vezes ainda mais; entretanto, continuam insatisfeitos, intranquilos, inquietos, desconfiados, mau humorados, irritadiços, ou seja, sem paz interior. Desconhecem o que falta, não identificam onde está a lacuna, ignoram qual parte estaria ausente no conjunto da própria existência, mas têm certeza de que algo está faltando. Por isso reagem, alguns com violência diante dos fatos corriqueiros e absolutamente necessários que caracterizam o mundo de muitas provas e expiações no qual vivemos.
A milenar civilização romana pautava-se no ditado: Se queres a paz, prepara-te para a guerra.
Contudo, durante os anos romanos, quando o mundo ocidental conhecido de então vivia e existia sob a égide da Pax Romana, nasceu o maior e mais excelso Pacificador de todos os tempos, aquele que jamais levantou a mão para agredir fosse quem fosse, que nunca acusou nem mentiu. Sobre Ele não há registro de qualquer ato violento, de qualquer desrespeito aos costumes e opções de vida do próximo, a quem jamais prejudicou. Viveu uma vida simples, sem ouro, prata, seda ou púrpura; nada temia, pois, era detentor da única e verdadeira Paz: a proporcionada pela consciência tranquila, fruto do dever cumprido e da retidão de conduta moral.
Este exemplo de pacificação legou-nos o seguinte princípio, registrado nos Evangelhos: “A minha Paz vos deixo, a minha Paz vos dou [...]” [João, 14:27].
A Paz Cristã, a Paz do Cordeiro, a Paz do Ungido!
Se desejamos a verdadeira Paz para a Terra e para o nosso mundo íntimo, não há outro caminho senão vivenciar, em sua plenitude, os ensinamentos que o Cristo nos legou há mais de dois mil anos, contidos em seu Evangelho de Amor e Redenção.
Rogério Miguez
23 - No ano novo, a vida é nova? (17/01/2025)
Quando o final de mais um ano se aproxima, surge muita expectativa sobre o próximo, quando acreditamos tudo será diferente. Começamos a sonhar, idealizando as coisas boas desejadas e não realizadas no período a se findar, entretanto, segundo o nosso entendimento, certamente no próximo ano se tornarão realidade. É de se esperar esta posição, nada a condenar.
Enchemo-nos de esperança, afinal, o que passou, passou, agora é olhar para frente com fé, e nada melhor do que um ano novinho em folha para nos insuflar a confiança.
Não há a menor dúvida sobre a propriedade do pensamento positivo, faz bem e é salutar, contudo, reflitamos: como esperar uma existência melhor se não construirmos os caminhos a nos conduzir para estes momentos de alegria, satisfação e de prazer em viver?
A natureza não dá saltos, ensina a Doutrina, e a nossa evolução também não se dá aos pulos. Tudo acontece gradativamente, em resposta direta aos nossos esforços em nos melhorarmos, se não fosse assim, algo estaria errado na providência divina, pois, por acaso, sem empenho e trabalho, poderíamos acordar melhores do que somos, ao longo de apenas uma noite, exatamente a noite da virada do ano: o espírita está muito bem informado sobre a inexistência do acaso.
Esclarece o Espiritismo ser necessário repetir testemunhos de aprendizado e renovação, dia após dia, em razão de ninguém evoluir em um dia apenas e para um dia somente. De modo a consolidar reais avanços em nossas virtudes e conhecimentos, deve haver trabalho e dedicação persistentes de nossa parte para com convicção esperarmos algo melhor do futuro. Por outro lado, não basta apenas pedir a Deus, é preciso dar sustentação ao pedido através de boas ações, continuamente, por largo tempo.
Tomemos como exemplo o querido Francisco Cândido Xavier. No livro No Mundo de Chico Xavier1, Elias Barbosa – autor do livro -, fez um exercício matemático aproximado descortinando alguns números da vida do médium mineiro, após 40 anos de atividades mediúnicas, isto se deu em 1967. Chico teria participado de 6240 reuniões; haveria realizado 1.000.000 de contatos pessoais; totalizava 73.000 horas de serviço doutrinário, na base de cinco horas diárias, equivaleria a 8 anos, 12 dias e 10 horas de tempo integral de vida dedicado à Doutrina, entre outras muitas atividades, inclusive profissionais. É claro não se esperar obra de tamanho vulto de todos nós, Espíritos ainda muito acanhados e noviços na prática do bem, nada obstante, nos dão uma dimensão, a ser atingida no futuro, do significado de trabalhar na seara bendita.
O ano novo se apresentará com novas oportunidades de aprendizado, é fato, pois a Divindade sempre nos proporciona novas chances de evolução, assim, não nos aprisionemos ao passado, somos imortais, nunca é tarde para recomeçar, aproveitemos, porquanto, outras portas se abrirão, avancemos, sejamos agora vitoriosos.
Confiemos em Deus, em razão de já haver sido dito: Ajuda-te e o céu te ajudará. E como nos ajudaremos? Trabalhando, nos esforçando, vigiando, orando, estudando, sem estes requisitos, jamais poderemos aguardar novos e iluminados horizontes, pois tudo fica como está, quando não promovemos mudanças.
Sabemos ser o tempo relativo, uma convenção, teremos todo o tempo que se fizer necessário para alcançar a relativa perfeição, contudo, quando não aproveitamos a oportunidade oferecida na existência atual, o cenário no futuro se modifica, e a nova ocasião favorável de aprendizado voltará, porém, seguramente modificada, normalmente mais limitada.
Quando for ano novo aqui, em outras regiões do mundo ainda é ano velho, e em outras partes já estão no ano novo faz algumas horas, então, por maior seja a magia emprestada àquela badalada do sino soando à meia noite do dia 31 de dezembro, observemos ser tudo relativo, nada se modificou no primeiro segundo do primeiro minuto da primeira hora do primeiro dia do ano que se inicia, tudo está como sempre esteve. A diferença aparecerá como resultado de nossa atitude ao longo deste novo ano.
Alguns, mais “precavidos”, acreditam nos velhos costumes criados ao longo do tempo, assim, deliberam segui-los à risca, sob pena de, não os praticando, serem “amaldiçoados” no futuro, afinal, se não fizer bem mal não faz, argumentam! Há muita superstição e fantasia, entre tantas, podemos elencar as seguintes:
ü Entrar o ano com o pé direito traz sorte e felicidade, todavia, para muitos é com o pé esquerdo;
ü Comer bolinho japonês;
ü Vestir-se de branco, afinal a cor branca é a cor da paz, vestindo-se assim, certamente se encontrará a tão almejada pacificação interior;
ü Pular sete ondas, mas só se for de costas;
ü Tomar sopa de lentilha traz fartura à mesa;
ü Colocar uma nota de dinheiro dentro do sapato é garantia de mais riquezas ao longo do novo ano;
ü Fazer oferendas, usar fitas multicores no pulso, andar com patuás...
Nada disto tem qualquer valor, já tendo afirmado Emmanuel: o melhor talismã é o bom coração.
Inventamos todo o tipo de esdrúxulas práticas e atitudes, em função de nossa significativa ignorância, visando viabilizar a presença da saúde, paz, fortuna e alegria em nossas existências, porém, esquecemos: Deus não se impressionará e jamais se sensibilizará com ações exteriores, toda transformação deve acontecer no nosso interior.
Outros ainda se deixam enganar pelos autointitulados bruxos, quiromantes, feiticeiros, magos, avidamente os procurando em suas tendas. Iludidos, assim o fazem, de modo a serem informados sobre o próprio futuro, cruzando os braços após as consultas, porquanto o porvir, segundo estes aproveitadores da fé pública, já estaria delineado. Quão distantes estamos de Deus para darmos crédito a supostas previsões realizadas pelos embusteiros de todos os tempos.
Ajuda menos quem tarde serve, sendo assim, sirvamos agora, a hora é esta, nem precisamos esperar o próximo ano, não deixemos para amanhã aquilo a ser feito agora.
Se realmente desejamos um ano novo repleto de alegrias, modifiquemo-nos para melhor, porquanto, ninguém poderá promover a nossa evolução, a não ser nós mesmos.
Referência:
1 BARBOSA, Elias. No mundo de Chico Xavier. 1. ed. São Paulo: Editora Calvário, 1968. cap. 6. Diálogo com Chico Xavier.
Rogério Miguez
22 - Mais uma vez, o paraíso perdido (29/11/2024)
Em O Evangelho segundo o Espiritismo, quando Santo Agostinho aborda o tema Progressão dos Mundos1, é dito que:
Ao mesmo tempo que os seres vivos progridem moralmente, os mundos que eles habitam progridem materialmente.
Sendo assim, conclui-se que a nossa Mãe Terra também vem avançando na escala dos mundos, para nós, imperceptivelmente, contudo, progride sempre, atendendo ao chamado das imutáveis leis físicas do Criador, que, tanto nos regem, quanto regulam o princípio material, conforme o mesmo autor ainda assim registrou1:
Marcham assim, paralelamente, o progresso do homem, o dos animais, seus auxiliares, o dos vegetais e o da habitação, porquanto nada em a Natureza permanece estacionário.
De fato, Santo Agostinho confirma o que Allan Kardec contemplou em O Livro dos Espíritos2 e, oportuno ponderar que existe a possibilidade de ter sido o próprio Santo Agostinho quem respondeu à pergunta do Codificador na publicação de 1861, considerando que esse sábio Espírito superior é o segundo da lista, em Prolegômenos, daqueles que colaboraram na confecção da primeira obra fundamental da Codificação:
O estado físico e moral dos seres vivos é perpetuamente o mesmo em cada globo?
Não; os mundos também estão sujeitos à lei do progresso. Todos começaram, como o vosso, por um estado inferior e a própria Terra sofrerá transformação semelhante. Tornar-se-á um paraíso terrestre, quando os homens se houverem tornado bons.
Mais tarde, o Mestre de Lyon ratificaria esta lei divina, mais uma vez, ao registrar o mesmo princípio, agora em A Gênese3:
Isto posto, diremos que o nosso globo, como tudo o que existe, está submetido à lei do progresso. Ele progride, fisicamente, pela transformação dos elementos que o compõem e, moralmente, pela depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam.
Sendo assim, atendendo a este inevitável chamado, o nosso planeta alcançou, após bilhões de anos, a condição para migrar de escala, e, desejoso de se colocar na ordem dos orbes de regeneração, promove as mudanças necessárias para tanto, tudo sob a supervisão do seu Governador – Jesus, o Cristo de Deus.
É de se observar que os Espíritos que por aqui permanecerão reencarnando regularmente, herdeiros da Terra – os mansos -, conforme profetizou Jesus4, já estão sendo assinalados, há bom tempo, bem como todos aqueles ainda ávidos em continuar a ferir com a espada. Os últimos serão daqui conduzidos para outra casa do Pai, pois há muitas moradas no Universo, contudo, adequada ao nível rudimentar de entendimento e vivência dos princípios divinos que lhes caracterizam, moral e eticamente.
Nenhuma ovelha do Pai se perderá, disso tenhamos a certeza!
Entretanto, estas ovelhas integrantes do rebando divino, apartadas provisoriamente do todo, ao aportar nas novas terras, talvez estranhem os costumes, os hábitos, a rudeza do trato entre os habitantes desta nova escola, pois, certamente, esse mundo novo estará classificado em escala inferior à Terra, talvez um mundo primitivo, mais provável, outra casa de provas e expiações.
Diante de tal quadro, ficarão pensativos, ensimesmados, notando que algo está estranho nesta nova moradia celeste. No inconsciente de cada um, talvez soe uma espécie de aviso íntimo, alertando-os de que foram retirados de uma moradia melhor.
Nessa hora, saudosos da Terra, intimamente desajustados, tal qual os habitantes de Capela, quando aqui chegaram, poderão criar e disseminar de novo a tese do Paraíso Perdido, conforme narra Emmanuel5:
As raças adâmicas guardavam vaga lembrança da sua situação pregressa, tecendo o hino sagrado das reminiscências. As tradições do paraíso perdido passaram de gerações a gerações, até que ficassem arquivadas nas páginas da Bíblia.
A tese do Paraíso Perdido, ressurgirá naturalmente, pois estes antigos Espíritos, nesse novo mundo, rapidamente sentirão que perderam algo valioso. Também no íntimo, perceberão que, se promoverem mudanças em seus costumes e hábitos, na forma de pensar, aprimorando suas qualidades morais, poderão voltar ao mundo de origem, que continua a progredir e que certamente os receberá de braços abertos.
É interessante observar que a ideia do Paraíso Perdido poderá atingir alguns Espíritos pela segunda vez, considerando que conforme narra Emmanuel, a grande massa de Espíritos de Capela já retornou ao planeta de origem, contudo, alguns ainda permanecem na Terra. Caso sejam retirados outra vez, por conta de continuadas condutas refratárias ao bem, poderão experimentar um segundo degredo.6
A propósito, é bem possível que, repetindo a conduta dos capelinos, proponham também, novamente, o conceito do Pecado Original.
Observe-se da mesma forma que, paralelamente a este encaminhamento de Espíritos para outro planeta, incontáveis entidades de outros orbes estão sendo convidadas a auxiliar neste processo de Regeneração, trazendo padrões éticos avançados, de modo a ajudar as ovelhas herdeiras da Terra a avançarem mais rápido, todas juntas, apressando o passo rumo à novos patamares evolutivos.
Embora os sinais dos tempos estejam presentes em nossa civilização, há bom tempo, destacados particularmente nas obras da Codificação Espírita, os seguidores da novel Doutrina parecem não perceber a gravidade do momento, pois muitos continuam com suas condutas desalinhadas, insistindo em agir e pensar fora dos trilhos divinos, desperdiçando o tempo com práticas e estudos que não encontram ressonância nos padrões doutrinários. São: Os últimos chamados, os trabalhadores da última hora!
A Doutrina dos Espíritos deve ser muito bem guardada em nossos corações e mentes, sob pena de nos vermos - quando o convite para ultrapassar a aduana da morte finalmente nos chegar, rumando uma vez mais para a vida verdadeira -, surpreendidos, atônitos, com a notícia de que a reencarnação passada foi a última nas cercanias da Terra.
Do espírita se espera: trabalho – vigilância – oração, constantes.
Sem observar esta simples receita, mas de tão difícil prática em nosso dia a dia, corremos o risco de nascer novamente, pois a lei é das reencarnações sucessivas, em terras estranhas, de onde suspiraremos, ansiosos por voltar ao ninho de arminho perdido, ao convívio fraterno com os nossos irmãos de coração que, permanecendo por aqui, seguirão com a nau Terra, viajando agora em mares mais calmos rumo ao Pai.
E mais, hoje há espíritas que já foram seguidores da Doutrina no passado, e, talvez agora, estejam nas fileiras kardecianas pela terceira vez, até mesmo pela quarta vez. Basta fazer um exercício matemático considerando períodos de existências desde o lançamento, em 1857 de O Livros do Espíritos, para se convencer desta possibilidade. Contudo, ainda permanecem inseguros, indecisos em tomar da charrua e não olhar mais para trás. Esses, são candidatos naturais ao degredo provisório, pois atravessam a derradeira chamada.
À parte os espíritas anteriormente mencionados, há imensas massas que insistem em viver segundo princípios materialistas, permitindo que o egoísmo e o orgulho conduzam suas atitudes e comportamentos nas sociedades em que convivem.
Adicionalmente, há multidões de cristãos sem Cristo que perambulam pela Terra, sem a menor preocupação em atender aos nobres chamamentos de suas particulares Igrejas e Templos, convidando-os, regularmente, a viver em plenitude segundo os exemplos do Rabi, a quem veneram, mais de boca, do que de coração.
Nem se dão sequer ao trabalho de observar o Antigo Testamento que há milênios já assinalava7:
E acontecerá em toda a terra, diz o Senhor, — que as duas partes dela serão extirpadas, e expirarão; mas a terceira parte restará nela.
O expurgo iniciou, há décadas. A Espiritualidade nos dá notícias, desde meados do século passado, de que muitos desencarnam e não mais retornam; não conseguem o bilhete de volta... Para seus lugares foram e são destinados novos Espíritos de outros orbes, nem todos, ao que entendemos, exilados propriamente ditos, mas muitos missionários, abnegados trabalhadores que compreenderam o chamamento do Cristo. Todos desejosos de nos ajudar, neste processo regenerativo, reencarnando em massa para que saiamos em definitivo deste ciclo de repetição de provas e, aparentemente, infindáveis expiações.8
E nós, os que habitamos mais uma vez a Terra, nesta fase aguda que o planeta atravessa? Por que ainda continuamos vacilantes, indolentes, receosos, a despeito de recebermos as mais elucidativas explicações e orientações sobre o funcionamento das Leis de Deus?
Estaria o chamamento de Jesus acima de nossas forças? Precisamos de algo mais? Bons livros os temos aos milhares, exemplos também são inúmeros, provindos dos incansáveis batalhadores que nos antecederam e de alguns que conosco ainda partilham a jornada. Muitos deles ofereceram literalmente as suas próprias vidas: foram martirizados, torturados, humilhados, escravizados. Perderam a saúde, os bens materiais, todavia, não descansaram, trocaram as alegrias proporcionadas por uma família para viverem solitários, às vezes, reclusos do convívio social, para abraçar a família maior, representada pela Humanidade inteira, enfrentando com muita nobreza as dificuldades da vida mundana e daqui se retirando como vencedores deles mesmos!
Dispomos do Evangelho de Jesus e da rica literatura espírita, faróis reluzentes a nortear as nossas ações, neste oceano turbulento que caracteriza o século XXI; igualmente, conhecemos as vidas dos mártires e abnegados servidores do Cristo, testemunhos inolvidáveis em todos os tempos, para nos incentivar e inspirar! De que mais precisamos?
Referências:
1 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Brasília: FEB, 2013. cap. III. item 19.
2 ________. O Livro dos Espíritos. 3ª ed. Comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB, 2007. pt. 2, cap. IV. q. 185.
3 ________. A Gênese. Brasília: FEB, 2002. cap. XVIII. item 2.
4 BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 5, vers. 5.
5 XAVIER, Francisco Cândido. A Caminho da Luz. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 2016. cap. III, item Quatro grandes povos.
6 Op. Cit. cap. III, item Origem das raças brancas.
7 BÍBLIA, A. T. Zacarias. Português. O antigo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 13, vers. 8.
8 FRANCO, Divaldo Pereira. Transição planetária. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. Salvador: LEAL, 2010. cap. 2.
Rogério Miguez
21 - Como conversar com os mortos (15/11/2024)
A percepção intuitiva de que os falecidos continuam vivos é de tempos muito recuados. Além disso, a possibilidade de percepções do Plano Espiritual sempre foi oferecida à Humanidade, assim, muitos conseguiam vislumbrar, não só por se encontrarem temporariamente médiuns, mas também com os olhos da alma pelos fenômenos da dupla vista. Diante de tais visões, a certeza de que algo restava após a morte foi se fortalecendo em todas as culturas; tome-se como exemplo, os pagãos, com os seus rituais dedicados aos mortos. Afinal, faz sentido homenagear ou se reunir em memória de um ente querido, se houver a possibilidade de que ele continua, de alguma forma vivo.
Após séculos de rituais envolvendo os ainda vivos a relembrarem ou a homenagearem seus mortos, finalmente a bondade de Deus permitiu que esta Humanidade recebesse informações detalhadas sobre a realidade do mundo dos falecidos, e muito mais ainda, sabemos disto.
Esta revelação, ou consolidação do sentimento que tínhamos, embora intuitivo, se tornou realidade por meio da formalização do entendimento e da prática de como interagir com os mortos.
Tudo foi apresentado como resultado do esforço de um Espírito, francês de nascimento, que no século XIX, após alguns anos de estudos, observações e registros, consolidou o material aprendido, estruturando-o em uma obra de referência sobre os médiuns e a mediunidade: O livro dos médiuns.
A partir da publicação deste compêndio, a Humanidade adquiriu a condição de interagir com os mortos, diretamente e com segurança, sem qualquer subterfúgio, por meio de práticas simples à disposição de todos.
É de se notar que, antes do início das publicações dos livros compondo a Doutrina espírita, incluindo O livro dos médiuns, houve um extraordinário fenômeno que permitiu, embora de forma bastante rudimentar e cansativa, estabelecer conversações com as almas do outro mundo, utilizando, para tanto, pesadas mesas, muitas de boa madeira de lei, por meio de pancadas produzidas pelos seus pés obedecendo um código primário. Contudo, logo se concluiu que este método era improdutivo, principalmente quando se desejava estabelecer longos discursos.
Após algumas tentativas e adaptações para melhorar este incipiente meio de comunicação, chegou-se à conclusão de que a melhor forma de dialogar com estas entidades era incentivando-as a escreverem diretamente pelas próprias mãos daqueles que possuíam a capacidade de estabelecer estes contatos, os médiuns.
Mensagens e relatos fluíram, a partir de então, em um turbilhão de informações ditadas por aqueles que se supunham mortos.
As práticas espíritas, permitiram e permitem que conversemos com os finados em reuniões organizadas especificamente com este propósito, em instituições cujo objetivo maior é o de divulgar o Espiritismo.
Entretanto, nem todos têm acesso aos poucos grupos mediúnicos espalhados pelo mundo, considerando a totalidade da população mundial e o reduzido número de espíritas, para solicitar ao vivo e a cores testemunhos de seus entes queridos, pois é preciso ter se preparado com muito cuidado por meio do estudo e aquisição de conhecimentos específicos sobre a atividade mediúnica.
Então como fazer!? Há outras formas para estabelecer estes contatos?
Felizmente sim, senão, colóquios com os mortos só poderiam ocorrer em salas mediúnicas.
Um outra opção seria desenvolvendo o sentido íntimo.
Infelizmente, a maioria esmagadora ainda não despertou as potências da alma, e precisariam conhecer obras de Léon Denis quando afirma:
Já dissemos que muitas pessoas têm, sem o saberem, a possibilidade de comunicar com seus amigos do espaço por intermédio do sentido íntimo. Nesse grupo estão as almas verdadeiramente religiosas, isto é, idealizadas, em que as provações, os sofrimentos e uma longa preparação moral apuraram os sentidos sutis, tornando-os mais sensíveis às vibrações dos pensamentos externos. [...]1 (Grifo nosso).
Interessante destacar que o filósofo do Espiritismo, um dos veros continuadores da obra espírita em conjunto com Gabriel Delanne, exatamente por ser conhecido como um “Homem de Bem”, viveu a experiência de receber pedidos de aflitos de toda a ordem, de modo a ajudá-los na obtenção de revelações ou mensagens do Além. Diante destas solicitações, sugeria esta sábia recomendação, que, por experiência própria já sabia funcionar:
[...] Concentrai-vos – dizia-lhes eu – em retiro e no silêncio; elevai os pensamentos para Deus; chamai o vosso Espírito protetor, o guia tutelar, que Deus nos dá para a viagem da vida. Interrogai-o sobre as questões que vos preocupam, desde que sejam dignas dele, livres de todo o interesse vil; depois, esperai! Escutai em vós mesmos, atentamente, e, ao cabo de um instante, ouvireis nas profundezas de vossa consciência como que o eco enfraquecido de uma voz longínqua ou, antes, percebereis as vibrações de um pensamento misterioso que expulsará vossas dúvidas, dissipará vossas angústias, embalar-vos-á e consolará.2
Como não somos todos médiuns videntes, ou possuímos a vista da alma de modo generalizado, não vemos propriamente dito estes dedicados e valorosos Espíritos acompanhando-nos, ao nosso lado. Aliás, mesmo se possuíssemos faculdades mediúnicas acentuadas, definição apropriada do médium, raríssimos são aqueles a percebê-los ao seu lado; o fato, contudo, é que, mesmo não os enxergando, podemos registrar-lhes a presença ao serem chamados, escutando-os, através do desenvolvimento de nossa capacidade de melhor captar as suas muitas intuições, pelo exercício continuado do recolhimento íntimo.
Esta recomendação de Léon Denis foi feita no sentido de conversar com o Espírito protetor, também Espírito de um morto. Sendo assim, percebem-se duas possibilidades aplicadas ao nosso caso em estudo:
1)Podemos entrar em contato com o Espírito protetor e indagar sobre os particulares mortos de nosso interesse; ou
2)Podemos tentar estabelecer comunicação direta com os mortos, sem intermediários, contudo, deve-se atentar para o fato de que os Espíritos só comparecem se estiverem em plenas condições para tanto; em outras palavras, não poderemos estabelecer comunicação mental com os mortos pelo simples desejo de fazê-lo.
Por outro lado, como nos emancipamos durante todas as noites, e sempre que dormimos – é Lei de Deus -, enquanto o corpo descansa, podemos solicitar aos protetores para, se for útil para ambos os lados, providenciar um encontro, mesmo breve, entre o nosso querido e afeiçoado falecido, e nós mesmos.
Para tanto, também é preciso certo recolhimento íntimo, uma preparação continuada no cotidiano, de preferência com atividades nobres de ajuda ao próximo, leituras, estudos, condutas éticas e moralizadas, mantendo a mente sintonizada com os protetores. E, por qual razão se sugere estas atitudes, por conta de outra Lei Divina que é a do merecimento.
Sempre que pedirmos algo para Deus, a rogativa deve ser fundamentada para realizar tal pedido e esta base é construída pelo bem proceder, quanto mais fizermos pelo próximo, mais consistente é a nossa súplica, esta é uma lei geral.
Assim, à noite, quando estivermos nos preparando para dormir, oremos com fé e sinceridade e nesta oração peçamos ao nosso anjo da guarda ou diretamente a Deus para, se possível, nos permitir entrar em contato com o nosso ente querido, seja um familiar ou não. É preciso também ter bom senso no sentido de que não será através de um simples pedido que esta graça poderá ser concedida. Devemos orar com continuidade, e aguardar com muita fé.
Relatos dos que conseguiram entrar em contato com entes queridos mortos, afirmam que guardaram reminiscências deste contato, lembrando-se vagamente do Espírito querido, ou acordaram com seus corações mais tranquilizados. Cada qual terá impressões pessoais destes encontros no Plano Espiritual, caso ocorram.
Finalmente, ainda há mais uma possibilidade vislumbrada no momento.
Como enfatizado anteriormente, podemos conversar mentalmente direto com o Espírito protetor. Entretanto, existe outra forma de receber informes, orientações, sugestões destas abnegadas entidades. E esta prática também está ao alcance de todos.
Há uma conduta muito simples, outro mecanismo divino, permitindo entrar em contato mais direto com o nosso protetor: basta fazermos uma oração, no silêncio do nosso íntimo, sem necessidade de pronunciar palavras em alto e bom som, pois tais abnegados trabalhadores abraçaram a tarefa de nos ajudar e, pelo pensamento, respondem imediatamente, isto se antes mesmo do pedido já não estavam ao nosso lado, pacientes e solícitos escutando os diversos e aparentemente infindáveis reclamos.
Feita a oração, nascida de nossos corações, tomemos um livro de mensagens espíritas, desses com diversas abordagens, de autoria de Emmanuel, André Luiz, Joanna de Ângelis, dentre tantos outros, e fixemos nossa atenção pensando detidamente no que desejamos. Em seguida, ao acaso, mas com fé, abramos o livro.
É impressionante a quantidade de mensagens que se apresentam ao acaso, abordando diretamente a nossa particular questão. É possível receber uma orientação relativa ao caso em questão, ou seja, informes sobre os nossos mortos. A mensagem, inclusive, pode ser uma direta comunicação do ente querido, que estará sob supervisão de outras entidades mais evoluídas, abordando um tema que seja de conhecimento comum, da época em estávamos juntos na Terra, para nos demonstrar que eles se encontram muito vivos e no local.
E sobre o tradicional Dia de Finados?
Poderíamos iniciar lembrando que o morto está morto, o ano inteiro... Sendo assim, por qual razão nos lembrarmos dele apenas em um especial dia do ano!?
A nossa lembrança pode ser feita a qualquer dia e horário. Caso mantenhamos contato regular pelo pensamento com os nossos entes queridos, não há razão para, no dia especial de Finados, ir aos cemitérios, onde, de modo geral, lá não se encontram.
Pelas sugestões apresentadas é possível tentar manter contato com os ditos mortos sempre que a saudade apertar, e, em princípio, não há contraindicação ao uso destas práticas com o poder de nos colocar em contato com eles, exceto, se por conta de nossa ansiedade e tristeza, insistirmos, constantemente, em estabelecer estes colóquios, pois os mortos também precisam de descanso, paz de espírito, de modo a se reintegrarem novamente ao Plano Espiritual, se preparando para um futuro retorno à matéria.
A propósito, muito cuidado na busca de cartas consoladoras. Há muita leviandade nestas atividades, algumas conduzidas por supostos médiuns afirmando possuírem a capacidade de trazer mensagens dos mortos aos seus aflitos familiares encarnados.
Estão assim apresentadas as despretensiosas sugestões sobre o tema: oremos e escutemos através das mensagens e em nosso íntimo, o que os Espíritos têm a nos falar.
Já foi dito que a vida continua. Sendo assim, mais cedo ou mais tarde estaremos de novo com eles, ao nosso lado. Enquanto este dia não chega, aprendamos a nos tranquilizar, mantendo-os bem vivos em nossos corações e mentes, hoje e sempre.
REFERÊNCIAS:
1 DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB. 3ª pt., cap. 21 – A consciência. O sentido íntimo.
2 DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor. 7. ed. Rio de Janeiro: FEB. 3ª pt., cap. 21 – A consciência. O sentido íntimo.
Rogério Miguez
20 - Decálogo dos doentes (14/11/2024)
1. Você não está sozinho: estamos todos doentes
Males de todos os matizes - físicos, espirituais, morais, sociais - têm servido de justificativa para que as criaturas busquem as propostas do Espiritismo, no afã de encontrar respostas e, principalmente, a cura desses momentâneos distúrbios, afinal, todas as criaturas adoecem, exceto os anjos – Espíritos que alcançaram a perfeição relativa. Entretanto, a Doutrina Espírita não veio ao mundo para curar corpos físicos, mas sim as almas imortais. Sendo assim, não a procuremos para tratar apenas de nossas muitas moléstias corporais, mas sim para sanar as imperfeições morais. Essas, criam e agravam as disfunções de nossos corpos biológicos. A cura real advirá pela construção de uma mente sadia, condição raramente encontrada, nestes dias turbulentos, quando a maioria busca apenas a satisfação dos prazeres imediatos e fugidios. A missão espírita é reformar a Humanidade por meio da educação e esclarecimento, e, como resultado dessas duas providências, a ignorância, que tantas mazelas já provocou em nossa história, deixará de existir. Por esta razão se diz: não há doenças, mas sim doentes. E mais, a nossa dor, seguramente, não é a maior de todas.
2. O Espiritismo não faz milagres
Nos tempos modernos, substituímos, gradativamente, os antigos santos pelos novos e destacados médiuns. Como resultado dessa conduta equivocada, realizamos peregrinações, a qualquer custo, na busca dos médiuns-curandeiros. Alguns poucos, de fato, detêm o poder da cura, contudo, a maioria...Basta informar que em determinado centro, houve o início de um novo trabalho de cura para que se formem as filas dos desesperados, movidos pelos sofrimentos e dores enfrentadas. Contudo, jamais nos dispomos a, caso haja uma verdadeira cura física, trabalhar a nossa personalidade e caráter, as posturas éticas, continuando assim a repetir os mesmos desacertos que, certamente, levaram ao surgimento das moléstias. É preciso existir sincera vontade em mudar. Afinal, nem mesmo o Médico Celeste promoveu milagres. Ele prometeu alívio às nossas muitas dores, e, aliviar não significa curar, portanto, não confundamos a proposta crística que é de renovação do Espírito imortal, e não dos corpos biológicos perecíveis.
3. Não há dor ao acaso
Impera no Universo a perfeita ordem, justiça e misericórdia do Deus Pai. Nenhuma enfermidade experimentada se lastreia em qualquer injustiça, sendo muitas delas previamente acertadas através da escolha das provas ou expiações necessárias ao nosso aprimoramento moral e intelectual. Outras surgiram em função de certas condutas na vida presente, acabando por danificar as nossas células, tais como: uso de alcoólicos e do fumo - as drogas lícitas -, isto sem falar das ilícitas, fazendo surgir incontáveis moléstias. Somos sempre os artífices de nossa própria desdita, sejam as causas forjadas em passado delituoso, sejam as de origem na atualidade. Contudo, quando sofremos as consequências do passado e as agravamos no presente, a existência se torna quase insuportável, surgindo em muitos a ideia de lançar mão da indecorosa proposta do suicídio direto. Este ato tresloucado, trará graves doenças nas futuras reencarnações, agravando todos os sofrimentos, passando o infrator a conviver com cérebro retardado e moléstias nervosas de dificílimo trato.
4. Doentes não estão sendo punidos
Em relação às doenças, a punição é condição incompatível com as bondosas e misericordiosas leis divinas. Têm por meta a retificação e educação dos que sofrem preparando-os para grandiosas missões no futuro. Sendo assim, se formos surpreendidos com a melhora física, indicando que o processo de aprendizado e reajuste foi alcançado, não abandonemos as recomendações propostas por aqueles que procuramos para atenuar as nossas dores, e não voltemos a praticar as condutas antigas que construíram as atuais enfermidades. Caso assim ajamos, novas aflições nos povoarão os caminhos e, mais uma vez, bateremos às portas daqueles que prometem a cura de nossos males, aparentemente sem fim.
5. Não busque os feiticeiros
Mandingas ou bruxarias não nos protegerão das doenças. De nada vale colocar fitas multicores nos pulsos ou ao redor do pescoço. Objetos, supostamente mágicos, não possuem nenhum valor, tais como: trevos de quatro folhas, pés de coelho, ferraduras e muito menos crucifixos. Lançar mão de benzedeiras também não nos livrarão dos infortúnios físicos. Magos e feiticeiras não detêm qualquer poder sobrenatural capaz de reconstruir um órgão em mau funcionamento. Entretanto, muitas vezes, desesperados e abatidos, desacreditados e sem ânimo, aturdidos diante de tantas agonias, nos dirigimos aos aproveitadores da fé pública, nos entregando cegamente a esses desaviados. Eles desconhecem o mau que estão praticando ao prometerem curas instantâneas para males elaborados ao longo, às vezes, de várias existências. Não incentivemos o surgimento de falsos profetas, eles visam apenas prestígio e fama e, quem sabe, obter algumas moedas. Utilizemos as quantias pagas por supostos serviços espirituais de forma mais nobre, fazendo-as chegar às mãos dos famintos e estropiados, pois essa conduta nos fortalece mais do que supostas beberagens ou pomadas mágicas, ocasionalmente, oferecidas pelos falsos Cristos. Por esta razão, Emmanuel asseverou que o melhor talismã seria, única e exclusivamente, o bom coração.
6. Cultive a sua fé
Podemos nos curar pela fé e pelas ações nobres, contudo, talvez não encontremos a cura completa, nessa particular existência, em função da inexorável lei de causa e efeito, mas, certamente, tudo que fizermos de positivo para sanar agora as deficiências de nossa vestimenta material refletirá positivamente no futuro. Muitas vezes a causa é antiquíssima, sendo o efeito agora duradouro, aguardando do doente uma mudança radical em seus pensamentos, palavras e ações. Entretanto, a fé deverá ser sustentada pela razão, e, a última, precisará ser iluminada pela fé. Ambas se apoiam e se sustentam, autoajudam-se, uma sem a outra conduz ao fanatismo e ao ceticismo, respectivamente. Não foi em vão que o Médico Celeste afirmava: Tua fé te curou, vai e não peques mais.
7. Use a medicina da Terra e do espaço
Busquemos os atendimentos médicos, pois a medicina é dádiva de Deus para cuidar de nossos corpos, contudo, não creiamos que apenas com o uso de alguns comprimidos, certas injeções e possíveis cirurgias, possamos ser conduzidos à integral restauração física. Há necessidade de cuidar do perispírito e, principalmente, do Espírito. Neste sentido, o Espiritismo possui em seu arsenal farmacológico significativas providências de apoio: fluidoterapia - materializada pelos passes magnéticos -, e a água fluidificada, que podem trazer imenso bem-estar a todos os sofredores, ambas baseadas nas leis do magnetismo humano, uma ciência ainda por ser descoberta pelo pensamento cético. Adicionalmente, a vigilância, a mudança de conduta e o estudo, tão bem incentivados pela Doutrina, são elementos valiosos no processo de reajuste corporal e mental. Além desses, a laborterapia e a caridade irrestrita são estimulantes poderosos das nossas forças espirituais, tão importantes para a manutenção de nosso bem-estar.
8. Cuide do seu coração e da sua mente
Os males, em última instância, procedem do coração e da mente. Dessa forma, de que vale buscar avidamente tratamentos físicos se continuamos rebeldes, desanimados, tristonhos, encolerizados, insatisfeitos com tudo e com todos, maledicentes, orgulhosos, intolerantes, desesperados, doentemente apegados aos bens materiais provisoriamente em nossa precária posse...? O desânimo, por exemplo, é atitude anestesiante dos sentidos, destruindo pouco a pouco as nossas energias, possuindo o poder de nos conduzir ao suicídio inconsciente. A rebeldia e a intolerância geram vibrações perturbadoras e, se produzidas com constância e intensidade, adoecem qualquer organismo. A maledicência poderá provocar desarmonias no aparelho fonador, tais como o câncer laríngeo ou até o lábio leporino em próximas etapas de aprendizado na Terra. A tristeza e a melancolia possuem efeito maléfico, com a capacidade de impedir o progresso do Espírito. É imperioso sanear o nosso mundo mental com pensamentos de alegria, gratidão, esperança, tranquilidade, tolerância, brandura e submissão aos desígnios de Deus. O último, se traduz pela aceitação das doenças, após termos envidado todos os esforços lícitos para sanar os desajustes do nosso implemento material.
9. Faça por merecer
Em qualquer processo de desajuste material consideremos, para seu término, o indispensável merecimento. Foi este elemento que permitiu a Jesus promover algumas curas aparentemente milagrosas. Tome-se como exemplo, a cura da mulher hemorroíssa. Além do alívio prometido, o Médico das almas, em situações particulares, podia fazer por terminar um processo de doença, pois a etapa de aprendizado do doente havia atingido o seu término. Além disso, para bem entendermos essas curas, é oportuno lembrar que alguns que receberam essa chamada graça, foram eunucos que se fizeram de eunucos para que houvesse o maravilhoso desfecho. Ou seja, foram Espíritos que solicitaram as doenças, como um dos cegos curados por Jesus, reencarnando sem a possibilidade da visão, não por terem algum resgate a realizar, mas como demonstração de fé e compromisso com a missão do Cristo. Aguardaram pacientemente a chegada do Mestre para dar fim ao seu testemunho, dessa forma, fortalecendo a fé dos que tiveram o privilégio de assistir tal fenômeno, previsto nas leis naturais de Deus.
10. Seja paciente e ore com fervor
Podemos evoluir na saúde e mesmo na doença por meio da paciência, que nos permite refletir sobre as razões de termos sido procurados pelas moléstias. Enfrentemos os nossos sofrimentos com nobreza, sempre atentos à farmacopeia dos Céus ao nosso alcance. Jamais deixemos de orar, por nós mesmos e pelo próximo. Ao orarmos, lembremos de que se não há injustiças, devemos merecer esta doença, há que existir um justa causa. Assim, devemos nos submeter sem queixas a esses sempre sábios desígnios, pois o sofrimento que agora experimentamos só pode ter por fim o nosso bem. Ao orar por outros doentes peçamos que a Divindade lhes inspire a paciência, a resignação e a submissão às determinações divinas. Em ambos os casos, se não aceitarmos essas provas, blasfemando e nos rebelando contra Deus, a prova perderá seu objetivo e, além de não acontecer o seu fim, em futuro próximo, a mesma provação nos procurará.
Rogério Miguez
19 - O FUTURO A DEUS PERTENCE? (08/11/2024)
Esta conhecida máxima vem sendo repetida frequentemente por muitos ao longo dos tempos, entretanto, sem se dar conta do real significado destas palavras, ou seja, do seu alcance, da sua abrangência.
Sem uma justa reflexão sobre este dito popular, pode-se ter a impressão de tudo estar escrito, ou mesmo que tudo fica ao sabor dos desígnios de Deus, sem nenhuma participação de nossa parte, ou seja, posso tentar mudar o presente, consequentemente o meu futuro, através de renovadas ações e condutas, contudo, nenhum efeito teriam estes esforços, sejam quais forem, pois Deus em última instância é quem decidiria o resultado final, nosso empenho em mudar a situação vivida seria em vão.
Todavia, ajuizemos: Se Deus nos criou simples e ignorantes para avançarmos a partir desta condição por Ele definida, alcançando a evolução possível em função de nosso empenho e de nossas conquistas, qual seria a razão para este mesmo Deus decidir tudo sobre o nosso porvir? Não parece paradoxal!?
Assim sendo, como devemos entender este refrão popular?
Todos os acontecimentos em nossas vidas são sempre o resultado de uma conjunção de eventos e decisões anteriores, ocorridos e deliberados nesta ou em épocas passadas, podemos resumir este mecanismo no princípio de causa e efeito. Visando este fim Ele elaborou sabiamente todas as leis conhecidas e aquelas ainda por descobrir, sendo exatamente estes princípios que regem o caminhar da humanidade, estamos sempre sujeitos a estas leis. Deus não precisa interferir diretamente, as Suas normas e regras, em todos os campos da vida, nos regulam sem que a maioria o saiba.
As situações que nos alcançam, são invariavelmente consequência do que plantamos ontem e estamos semeando hoje, sem que seja preciso a contínua intervenção divina, como alguns acreditam, afinal, somos livres, construímos o nosso livre-arbítrio, temos o poder de escolha em nossas ações, desta forma, vamos edificando o nosso amanhã, e este, por sua vez, nada mais sendo do que o reflexo do conjunto de atitudes e ocorrências passadas. Efetivamente, Deus espera que trabalhemos, não cruzemos os braços à espera de um “milagre”.
Realmente o Todo Poderoso, como o título já indica, pode tudo, quem seria louco para afirmar o contrário, no entanto, Ele atua sempre por intermédio de Suas leis eternas e não as derroga, muito menos modifica, embora possa alterá-las como desejar, é evidente, mas sabiamente não o faz, caso contrário, a vida seria incompreensível, uma vez que jamais saberíamos por quais leis estaríamos sendo governados.
Quando estamos na erraticidade, no mundo espiritual aguardando para reencarnar, mais uma vez, podemos debater com Espíritos mais elevados quais serão os grandes marcos de nossa futura vida material, por quais expiações passaremos, quais provas suportaremos, porém, quando retornamos à Terra, muito daquilo decidido pode se modificar, pelo curso de nossas novas atitudes e opções de conduta durante esta vida, sem qualquer interferência de Deus, porém, ao alterarmos as deliberações ajuizadas na erraticidade, por exemplo, modificamos igualmente o futuro previamente delineado, mas não definido.
Não faz sentido algum conduzirmos nossas atuais vidas se os resultados futuros de nossas ações já estão fixados e são imutáveis, se assim fosse, qual seria então o objetivo da existência?
Estamos todos destinados à perfeição relativa, meta final, como alcançaremos esta condição depende de cada um, alguns avançam rápido, outros mais lentamente, assim, esforcemo-nos para que sejamos aqueles avançando mais depressa pois, a construção do futuro está seguramente em nossas mãos, uma vez que somos os artífices do nosso amanhã.
Rogério Miguez
18 - MAGNETISMO, A MEDICINA DOS DESVALIDOS (16/10/2024)
Um dos maiores e desejados bens, inquestionavelmente, é a saúde do corpo. Ferramenta do Espírito, o corpo físico, em boas condições, proporciona ao seu detentor possibilidades múltiplas de evolução.
De modo a manter este instrumento de trabalho “operacional”, viabilizando o progresso, é preciso bem cuidar do corpo humano, através das ciências médicas, com suas múltiplas terapias. Entretanto, em nosso país, poucos podem bem utilizar o sistema vigente de apoio à saúde, pois, além de se apresentar geralmente muito oneroso aos usuários, apresenta muitas falhas e só o tempo poderá saná-las.
Contudo, a bondade e misericórdia divinas sempre ofereceram indiscriminadamente, um possível caminho de cura das mazelas orgânicas através do Magnetismo Animal.
Desde priscas eras, esta caridosa lei se fez presente, sem que ao menos soubéssemos, e mesmo nos dias atuais, nem todos a utilizam, descrentes ou desinformados, não buscam a saúde, somatória do equilíbrio físico e psíquico, por meio dos fluidos movimentados seguindo os princípios da ciência do magnetismo.
Recurso gratuito, embora alguns poucos cobrem para transmitir os salutares fluidos magnéticos, é de fácil ação, não exigindo nenhum complexo aparato para sua realização.
Nestes tempos, quando as grandes corporações impõem suas caríssimas drogas, em muitos casos, sequer foram exaustivamente testadas de modo a determinar efeitos colaterais e se são mesmo plenamente eficazes em suas propostas terapêuticas, o magnetismo se apresenta como providencial mecanismo colaborando no combate às doenças de toda ordem.
No passado, notadamente nos séculos XVIII e XIX, o magnetismo foi extensamente utilizado, não só entre os mais necessitados, bem como nos salões da nobreza das maiores cortes europeias, estas muito se utilizaram dos fluidos curadores.
Foi Mesmer, certamente um Espírito missionário, quem iniciou esta verdadeira avalanche de curas se realizando nas barbas do pensamento científico, sem que este se curvasse às evidências, apoiando e incentivando o saneamento das doenças pelos populares passes magnéticos. Neste, como em outros capítulos de nossa História, os homens de ciência responderão pelas posições conservadoras adotadas, impedindo o deslanchar da marcha da humanidade, neste caso particular, na área da saúde.
Allan Kardec, outro missionário divino, também magnetizador, soube bem aproveitar a sua particular experiência neste campo, metodicamente registrando e consolidando informes sobre esta verdadeira dádiva de Deus, não só na teoria como na prática, trazendo de novo à tona as imensas possibilidades do magnetismo, lei divina ao alcance de nossas mãos, que em princípio todos podem praticar.
Atualmente, inspiradas pelos escritos de Kardec, as agremiações espíritas mantém serviços de passes magnéticos sem distinção a qualquer um procurando pelos efeitos salutares desta prática. Os cursos se multiplicam, as reuniões com aplicação de passes prosperam, pois a demanda é imensa.
Aos passistas, a lembrança da importância em se apresentarem aptos moral e fisicamente ao trabalho, pois a responsabilidade é grande ao lidar com os doentes e suas variadas doenças.
Não sendo outra razão do Apóstolo do Espiritismo ter escrito1: “[...] o magnetismo vem a ser a medicina dos humildes e dos crentes, do pai de família, da mãe para seus filhos, de quantos sabem verdadeiramente amar.”
Referência:
1DENIS, Léon. No invisível. Trad. Leopoldo Cirne. 9. ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1981. Parte 2, cap. XV.
Rogério Miguez
17 - Não podemos esquecer-nos do Alzheimer (18/09/2024)
Demência é um termo usado para várias doenças que afetam a memória, o pensamento e a capacidade de realizar atividades diárias. Resulta de uma variedade de doenças e lesões que afetam o cérebro. O mal de Alzheimer é a forma mais comum de demência e pode contemplar entre 60 e 70% dos casos.1
O dia 21 de setembro foi escolhido pela Associação Internacional do Alzheimer como representante do Dia Mundial de Conscientização da Doença de Alzheimer, um dia que não deve e não pode ser esquecido. O objetivo foi o de fortalecer a divulgação de informações sobre os principais sintomas da doença, suas propostas de tratamento e como aconselhar os familiares sobre o modo de lidar com esses doentes.
Aloysius Alzheimer – 14/06/1864 - 19/12/1915, foi um psiquiatra alemão conhecido por descrever em 1906 a patologia que recebeu o seu nome: doença de Alzheimer ou mal de Alzheimer. Ele observou uma alemã saudável - Auguste Deter - que, aos 51 anos, desenvolveu um quadro de perda progressiva de memória, desorientação, distúrbio de linguagem (com dificuldade para compreender e se expressar), tornando-se incapaz de cuidar de si. Após o falecimento da paciente, aos 55 anos, Alzheimer examinou seu cérebro e descreveu as anomalias que hoje são conhecidas como características dessa moléstia.
O Mal de Alzheimer é uma enfermidade incurável, que se agrava ao longo do tempo, mas pode e deve ser tratada, pois pode-se retardar o seu avanço. Grande parte das suas vítimas são pessoas idosas - acima de 65 anos. Talvez, por isso, a doença tenha ficado erroneamente conhecida como “esclerose” ou “caduquice”.
Células se deterioram (neurônios) de forma lenta e progressiva, provocando uma atrofia do cérebro. Em consequência, a memória e o funcionamento mental são afetados, além de mudanças de humor e desorientação no tempo e no espaço.
Caracteriza-se por esquecimentos progressivos: iniciando com a chamada memória curta, também denominada memória recente; em seguida, o quadro vai-se agravando e o doente começa a perder a lembrança de fatos mais distantes no tempo, ou seja, a memória longa ou distante; ao final, perde-se a chamada memória da rotina, e o paciente não consegue mais desenvolver tarefas triviais do cotidiano sem a ajuda de outrem.
É como viver em um casarão todo iluminado e, aos poucos, lâmpadas começarem a falhar em função do uso continuado, cômodo por cômodo, até a escuridão total.
Na visão do Espiritismo a doença se caracteriza como provação/expiação, como se pode confirmar por esses textos:
A alienação mental, sob qualquer aspecto considerada, não deixa de ser áspera provação necessária ao restabelecimento da paz no Espírito rebelde.2
Chama-me a atenção, porém, na atualidade, a alta estatística de portadores do mal de Alzheimer, padecendo de lamentável degeneração neuronal, em processo expiatório aflitivo para eles mesmos e para os familiares, nem sempre preparados para essa injunção dolorosa.3
Entre os principais sinais e sintomas do Alzheimer podemos relacionar:
📌 Falta de memória para acontecimentos recentes;
📌 Repetição da mesma pergunta várias vezes;
📌 Dificuldade para acompanhar conversações ou pensamentos complexos;
📌 Incapacidade de elaborar estratégias para resolver problemas;
📌 Dificuldade para dirigir automóvel e encontrar caminhos conhecidos;
📌 Dificuldade para encontrar palavras exprimindo ideias ou sentimentos pessoais;
📌Irritabilidade, suspeição injustificada, agressividade, passividade, interpretações erradas de estímulos visuais ou auditivos, tendência ao isolamento.4
Embora a doença não apresente cura, no momento, pode-se atuar para retardar os seus efeitos por meio de uma série de atitudes na vida presente, mesmo cientes de que nossas condutas em existências anteriores já tenham gravado em nosso perispírito certas necessidades que se expressam agora por meio de provas e expiações. Algumas destas providências são:
📌 Trabalhar a rigidez de caráter, evitando posturas inflexíveis e conservadoras;
📌 Tentar superar sentimentos de culpa, pois a vergonha atormenta o faltoso;
📌 Orar e vigiar para não ser aprisionado em processos obsessivos graves;
📌Buscar a superação da depressão, caso exista, eliminando também sentimentos doentios, tais como o ódio e a mágoa;
📌 Manter uma vida social saudável evitando o isolamento e o sedentarismo;
📌 Ler e estudar sempre, mantendo a mente em atividade constante...
Além dessas medidas de prevenção, caso o quadro da doença já tenha se instalado, os familiares podem lançar mão de terapias espirituais:
📌 Frequência à casa espírita;
📌 Recepção do passe magnético e da água fluidificada.
A prática do Evangelho no Lar – prevenção e terapia -, também é de importância capital, bem como o incentivo continuado ao estudo do Espiritismo, visando obter esclarecimentos sobre questões ligadas à culpa e ao remorso, tanto quanto sobre as variadas formas da instalação de processos obsessivos.
REFERÊNCIAS:
1 https://www.who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/dementia - Acesso em: 24/06/2024.
2 FRANCO, Divaldo Pereira. Entre dois mundos. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. ed. 3. Salvador/BA: LEAL, 2004. Parasitoses Físicas. cap. 15.
3 FRANCO, Divaldo Pereira. Transtornos Psiquiátricos e Obsessivos. Pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda. ed. 1. Salvador/BA: LEAL, 2008. As obsessões sutis e insidiosas. cap. 7.
4 https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/alzheimer - Acesso em: 24/06/2024.
Rogério Miguez
16 - A lição dos Banquetes Magnéticos (16/07/2024)
Antes de iniciar a missão de elaboração do Pentateuco espírita, em 1823 com apenas 19 anos, Allan Kardec teve a atenção voltada para os fenômenos magnéticos passando a frequentar os trabalhos da Sociedade de Magnetismo de Paris.
O Magnetismo assumiu tal relevância à época de Kardec que em todo dia 23 de maio, aniversário natalício de Franz Anton Mesmer, estudioso do Magnetismo Animal, realizavam-se dois banquetes anuais reunindo a nata dos magnetizadores de Paris, conforme registro na Revista Espírita de 1858.
Como participante, o Mestre de Lyon indagava: Por qual motivo a solenidade comemorativa era sempre celebrada em dois banquetes rivais, onde cada grupo bebia a saúde do outro e onde, sem resultado, erguia-se um brinde à união?
O fato se “justificava”, pois, havia uma cisma entre os simpatizantes e praticantes do Mesmerismo.
Refletia ainda: Tem-se a impressão de que estão prestes a se entenderem. Por que, então, uma cisão entre homens que se dedicam ao bem da humanidade e ao culto da verdade? Têm eles duas maneiras de entender o bem da humanidade? Estão divididos quanto aos princípios de sua Ciência? Absolutamente. Eles têm as mesmas crenças e o mesmo mestre, que é Mesmer, desencarnado em 1815. Se esse mestre, cuja memória invocam, atende aos seus apelos, como o cremos, deve sofrer ao ver a desunião dos discípulos.
Os magnetizadores buscavam através de técnicas com movimentação ou imposição de mãos transmitir os salutares fluidos magnéticos, visando a cura de quantos os procuravam, vindo deste fato o questionamento do Sábio de Lyon, afinal o objetivo era nobre, restituir a saúde aos doentes, como poderiam divergir sobre este intento?
Continuando a raciocinar: Por mais inofensiva que seja essa guerra não é menos lamentável, embora se limite aos golpes de pena e ao fato de beber cada um no seu canto. Gostaríamos de ver os homens de bem unidos por um mesmo sentimento de confraternização. Com isso a Ciência Magnética lucraria em progresso e em consideração.
E quem não gostaria? A perplexidade do Codificador se justificava plenamente, pois não podia compreender como adeptos da Ciência do Magnetismo pudessem se dividir, deixando para a posteridade, exemplo pouco edificante.
Isto se deu há décadas atrás, o Sábio Gaulês acabara de publicar O Livro dos Espíritos, em 1857, contudo, o fato apresenta um paralelo surpreendente ao momento atual. Mudou o foco, os adeptos são outros, mas a cisão continua agora entre os seguidores da própria Doutrina dos Espíritos.
A espiritualidade tem enviado vários chamamentos, entretanto, cremos, não tem surtido o efeito desejado, pois as divisões continuam, seja na prática, na teoria ou em ambas, apesar dos livros básicos espíritas serem exatamente os mesmos, nada mudou.
Cada agremiação espírita quer possuir a sua verdade. Argumentam ser a Doutrina de inteira liberdade, e não estão errados, mas concluem equivocadamente que cada qual deve decidir como: praticá-la, interpretá-la, quais livros seguir..., esquecem-se de que liberdade deve sempre ser acompanhada por reponsabilidade.
De onde estiver Kardec seguramente refletirá sobre a situação, com a agravante de que agora não se trata apenas do seguimento de praticantes do Magnetismo, mas de todo o conjunto do movimento espírita brasileiro.
Como evitar tal quadro? Uma possível sugestão, talvez a mais eficaz, seria manter-se fiel aos conceitos contidos nas obras básicas, e só adotar outras literaturas comprovadamente espíritas.
Rogério Miguez
15 - SOB OS RIGORES DO INVERNO (14/06/2024)
Um mundo de provas e expiações, como a nossa Terra, abriga Espíritos que embora sempre evoluindo, o fazem entre sucessos e deslizes morais ao longo de suas particulares existências. São aqueles que optaram por não seguir o caminho reto desde o início, possibilidade real, conforme Allan Kardec assim bem registrou1:
“124. Uma vez que há Espíritos que, desde o princípio, seguem o caminho do bem absoluto e outros o do mal absoluto, haverá, talvez, gradações entre esses dois extremos?
– Sim, certamente, e constituem a grande maioria.”
É a realidade deste orbe, bem como em incontáveis outros compondo o Universo. Desta forma, é de se esperar esta pequeníssima parte da Humanidade corriqueiramente infringindo as leis divinas, por variadas razões e motivações. Nada a estranhar, basta recordar as palavras de Jesus, quando advertiu2: “Ai do mundo por causa dos escândalos: pois é necessário que venham escândalos; mas ai do homem por quem o escândalo vem.” (Mateus 18:7)
Sim, o escândalo, representando na visão espírita qualquer desvio à ordem divina, deve acontecer enquanto os homens não alinham o passo com a conduta moral e ética esperada daqueles pretendentes a alcançar a tranquilidade de consciência.
Quando o escândalo se materializa, surge para o autor, quando consciente de seu desvio, um turbilhão de sentimentos: vergonha, descredito em si mesmo, humilhação, incertezas atrozes, remorso, angústia, depressão, solidão, entre outros, passando a atormentar o infrator, perturbações estas passíveis de serem de muito aumentadas pela ação de Espíritos desencarnados, desorientados e desconhecidos, ou mesmo antigos inimigos do autor.
A vida do transgressor passa então e ser um desenrolar de dúvidas e questionamentos, no sentido de tentar esclarecer ou entender por quais causas ou motivos, chegou-se àquele desfecho. Passa então a viver como se estivesse dentro de um pesadelo interminável, nas profundezas de um mar sem fim.
Observemos a natureza: ela expressa em suas diversas fases do ano algo semelhante ao que acontece rotineiramente em nossas vidas, ou seja, há o verão, outono, inverno e a finalmente a primavera. Normalmente o inverno não é muito apreciado, pois o frio intenso provoca desconforto e representa, fazendo um paralelo nesta singela análise, ao período no qual o Espírito vive as indefinições provocadas pelo escândalo cometido.
No inverno, tudo fica cinzento, não há mais a alegria de viver, as muitas situações se colorem de tons sem vivacidade, tudo permanece sem graça, as árvores apresentam-se despidas de suas folhas e flores multicoloridas. A cena é comum em países do hemisfério norte, diante de invernos rigorosos. O mesmo se passa entre os transgressores da ordem divina. Dependendo da falta cometida e da forma como enfrentam a situação, cogitam mesmo em abrir a traiçoeira e ardilosa porta do suicídio e, quando assim procedem com “sucesso” se arrependem amargamente mais à frente, suportando então expiações severas, em resposta ao ato mais grave que a criatura pode cometer contra o seu Criador.
O escândalo, quando chega, abre a caixa de Pandora, liberando todos os males do mundo passíveis de alcançar o violador da Lei.
A Doutrina, como em qualquer situação, possui orientações seguras e precisas nestes casos, e não poderia ser diferente, dadas as favoráveis condições ainda vigentes neste mundo viabilizando a ocorrência de desacertos morais, em suas muitas modalidades:
1. Colocar as mãos no serviço de preferência em direção aos menos felizes;
2. Colaborar na edificação do bem e da verdade, em favor de si mesmo;
3. Dedicar-se aos estudos e meditações recordando e fortalecendo o entendimento das regras divinas;
4. Servir sem questionar, àqueles a se apresentarem necessitados;
5. Não se afastar da casa espírita onde milita ou frequenta, pois sozinho pode não encontrar forças renovadoras;
6. Buscar o atendimento fraterno para, se desejar, conversar sobre a situação;
7. Refazer o passo e buscar o anjo guardião pelo pensamento;
8. Orar e pedir forças novas ao Criador.
Estas são medidas simples, mas infalíveis, estando todas ao nosso alcance, podendo auxiliar na retomada da caminhada, pois estagnar nunca será a melhor opção. Martirizar-se, crendo-se o último dos últimos, igualmente não resolverá, só agravará a situação, deixando o infrator mais exposto aos rigores do inverno. Se daqueles a nos cercar, vier a condenação, saibamos aceitá-los humildemente, equivocados estão, e mais cedo ou mais tarde, reconhecerão, porquanto ainda agem no momento conforme padrões estabelecidos em nossa sociedade, que ditam e impõem o julgamento e a consequente aplicação da pena, sem maiores avaliações do quadro amplo caracterizando qualquer desvio cometido contra as Leis divinas.
Desta forma, se o escândalo alcançar a nossa particular jornada, seja de que monta for, olhemos para o alto, elevemos o nosso pensamento em direção a Deus, solicitando sinceramente o perdão do Eterno, e prossigamos decididos, agora mais sábios diante da experiência vivenciada, certos de que o Deus Pai, não pune Seus filhos eternamente, pelo contrário, é o Seu desejo que nos libertemos de nossas limitações e marchemos resolutos rumo à perfeição ralativa, meta fatal a nos alcançar, mais hoje, mais amanhã.
Não deixemos nos envolver pelo frio inverno da incerteza e da tristeza, a primavera sempre retornará, colorindo de flores mais uma vez os caminhos de nossa existência, nos convocando a seguir em frente, resolutos, agora e sempre.
Referências:
1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3ª ed. Comemorativa do Sesquicentenário. Rio de Janeiro: FEB.
2. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 112. ed. Cap. VIII, it. 11. Rio de Janeiro: FEB , 1996.
Rogério Miguez
14 - QUANDO UMA PESSOA MORRE, SABE QUE MORREU? (16/05/2024)
Há pouquíssimas fatalidades nas leis de Deus, uma delas certamente é representada pelo inevitável desfecho da morte. A primeira obra básica da Doutrina em uma de suas abordagens sobre o tema assim se expressa:
Algumas pessoas só escapam de um perigo mortal para cair em outro. Parece que não podiam escapar da morte. Não há nisso fatalidade?
“Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é. Chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar-vos.” 1
Fatalismo biológico, ou seja, não há corpo físico - instrumento de trabalho do ser imortal -, que possa existir eternamente, mais cedo ou mais tarde as células desagregam-se provocando o colapso desta estrutura material, casa provisória onde se abriga o Espírito reencarnado.
A ciência, embora tentando há bom tempo sintetizar o elixir da eternidade, nada ainda encontrou, e jamais terá sucesso, pois a lei de Deus não contempla a indestrutibilidade do corpo físico, apenas a do Espírito, sendo assim, é de se esperar que todos os seres vivos acabem morrendo, fato comum desde o início dos tempos.
Ora, como já tivemos numerosas vidas, consequentemente já morremos inúmeras vezes, já experimentamos este fatalismo em muitas ocasiões, poder-se-ia assim imaginar que já houvéssemos registrado este aprendizado e toda vez que morrêssemos, lembraríamos do que estaria sucedendo naquele singular instante.
Ocorre que tal não se dá, ainda nos encontramos muito inferiores na escala da evolução, dificultando sobremaneira o entendimento do que está acontecendo no momento em que o Espírito inicia o seu desligamento do corpo, por motivos diversos, para retornar a vida verdadeira, a espiritual.
De modo geral, há uma perturbação, confusão esta função do modo de vida escolhido pelo Espírito: se a vida foi mais espiritualizada, atenua o estado de confusão mental a ponto do Espírito alcançar plena consciência de seu desencarne, alguns, raros, podem mesmo providenciar o próprio desligamento do perispírito do corpo físico; quando muito material, a perturbação é intensa.
Sendo este último o caso a se aplicar à grande maioria, podemos concluir de forma geral: quando a pessoa morre, não sabe que morreu. Em muitos há a percepção de uma mudança significativa, pois não conseguem mais conversar com os vivos; seus parentes, por exemplo, não respondem mais às suas indagações; percebem também não ter mais acesso às coisas materiais, e assim por diante. Seria como um sonho ruim, um pesadelo, onde está tudo às avessas. Algum tempo será necessário para conscientizar-se ou mesmo ser conscientizado que faleceu. Outros dormem ao desencarnar, passaram a vida inteira alheios aos postulados divinos, nada esperavam após a morte, entrando assim em um estado semelhante à hibernação até serem acordados para a fatalidade da vida.
Podemos apontar um caso, entre tantos, para exemplificar o que pode ocorrer na ocasião da morte. No livro Os Mensageiros2 de André Luiz, há um capítulo intitulado Pavor da morte, onde é descrita uma situação peculiar em um necrotério. Havia um cadáver de uma jovem e ao seu lado estava uma entidade masculina em atitude de zelo chamando há seis horas a recém-desencarnada para abandonar o corpo. O inesperado nesta descrição é que a falecida estava unida aos despojos copiando a posição cadavérica, com medo de deixá-los. Aterrorizada, fechava as pálpebras para não ver algo que a atemorizava. Esta entidade ao seu lado era o seu noivo que a havia antecedido no fenômeno da morte e agora ali estava para recebê-la com alegria, contudo, pelo despreparo espiritual da jovem, esta acreditava ver um fantasma, porquanto recordava-se claramente da morte do noivo.
Aniceto, instrutor de André Luiz nesta obra, ambos vivenciando esta situação sui generis, orientam o noivo para se afastar temporariamente, pois não conseguiria realizar o seu intento de recebê-la e levá-la para uma casa espiritual, considerando estar a noiva muita aturdida, acreditando estar sendo perseguida por um morto, passava por um pesadelo. Experiente neste tipo de situação, Aniceto se faz passar por um doutor anunciando um novo tratamento à jovem, esta aceita a oferta, afastando-se finalmente do corpo. Aniceto, aproveitando o momento, aplicou passes magnéticos adormecendo-a e, em seguida, entregando-a ao seu prestativo noivo: Caso resolvido!
Vemos desta forma uma possível consequência de não nos prepararmos para a morte do corpo material, este, sempre chega a seu termo na hora adequada, enxergando naquela – a morte - apenas um desdobramento natural da continuidade da vida.
Referências
1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 69. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1987. q. 853.
2 XAVIER, Francisco C. Os mensageiros. Pelo Espírito André Luiz. 16. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1983. cap. 48 - Pavor da morte, p. 250 e 251.
Rogério Miguez
13 - APREENSÕES (12/04/2024)
Depois disto, que nos resta a dizer? Se Deus está conosco, quem estará contra nós?1
Romanos 8:31
Em uma possível interpretação deste ensino, podemos concluir ser de longa data a preocupação do ser humano sobre seus possíveis inimigos ou desafetos. Cremos que a consciência de culpa gerada pela multidão de pecados perpetrados, alguns ainda não revelados e reparados, poderia criar as condições necessárias para o aparecimento desta apreensão, sempre rondando as mentes devedoras.
Por outro lado, destacando ainda o ensino de Paulo sob outro ângulo, embora a pergunta use o pronome quem, sugerindo uma pessoa, outra forma de entendê-lo é o reconhecimento da existência de inúmeros percalços sucedendo-se durante a jornada física, aparentemente trabalhando contra nós, tais como: reveses financeiros, contrariedades afetivas, amizades desfeitas, desilusões amorosas, doenças inesperadas, “perda” de entes queridos.
Existem também as angústias criadas pela imprensa alarmista, muitas vezes polarizada por privilegiarem notícias referentes apenas a desgraças e agruras, esquecendo-se quase sempre das nobres realizações e bons exemplos existentes. Alardeiam-se prováveis conflitos nucleares, ameaças terroristas de toda ordem, sequestros relâmpago, meteoros “assassinos” se aproximando perigosamente da Terra, futuros desastres coletivos causados por condições climáticas extremas e adversas, catástrofes naturais, bruscas oscilações do mercado financeiro... Ou seja, anunciadas e inesperadas desgraças não faltam; todas podem igualmente trabalhar contra a nossa paz.
Além disso, como se não bastasse, perturbamo-nos por variados temores, desconhecidos, sem sentido e nenhuma razão plausível, incompreensíveis. Talvez a mesma consciência culpada seja fonte destes receios, ou, quem sabe, alguma influenciação ardilosa de um Espírito desencarnado, provisoriamente desorientado e abatido com a sua situação espiritual, ou mesmo de um encarnado visando a nos prejudicar.
Como resultado, o ser humano aturdido por tamanha gama de fobias e ansiedades, ignorando como proceder, fecha-se em sua casa, instala alarmes e câmeras modernas, sofisticadas fechaduras eletrônicas, cercas eletrificadas, contrata serviço de segurança privada via telefone, tudo para resguardar-se de possíveis ameaças, tendo ele mesmo, em muitos casos, dificuldade em definir especificamente quais seriam. Esquece-se de que existem ameaças imateriais mais contundentes e perigosas.
Tempos estranhos!
Mas, afinal, por quais razões nos afligimos tanto, imaginando opositores de toda ordem? Pela perda dos bens materiais, da própria vida, medo da dor física proveniente de um corpo doente, ou mesmo da dor moral provocada pela solidão?
Todas estas vicissitudes anteriormente citadas são características de mundos pouco evoluídos como ainda é o caso do nosso. Se por aqui ainda mourejamos é porque necessitamos destes contratempos, de modo a dar testemunhos de nossa fé em Deus e em sua justiça perfeita. Caso contrário, passaremos pela Mãe Terra escondidos em nossas residências, tal qual fazíamos no passado, quando ocupávamos, temerosos, furnas e cavernas, sem nos atrevermos a enfrentar os supostos perigos do mundo. Contudo, é bom entender e principalmente admitir, no “pior caso”, do nosso ponto de vista, o maior prejuízo que qualquer deles poderia nos causar seria o de colocar-nos diante da tão temida e indesejada morte.
Mas quem tem medo de morrer? Tudo indica que todos nós, pois ainda não aceitamos só existir vida, e como disse Jesus, vida em abundância. Esta é a verdadeira lei divina. Tudo se transforma, não há destruição de absolutamente nada, apenas de nossas ilusões, quando, deslumbrados pelos atraentes apelos materiais, somos levados a cultuar este ou aquele bem, esta ou aquela forma física, para mais tarde compreender que tudo é passageiro, inclusive e principalmente os nossos devaneios.
Não existe a morte. Somente o corpo físico é dissociado pelos fenômenos químicos já bem conhecidos, retornando ao grande laboratório da natureza proporcionando uma vez mais a reciclagem dos elementos constituintes desta desgastada estrutura material, agora desfazendo-se. Este processo cíclico visa à formação de novas “temporárias residências” para outros Espíritos, que como nós mesmos, mais uma vez reingressarão nas lides terrenas, tentando aproveitar oportunidades de modo a oferecer novos testemunhos de aprendizado nas particulares caminhadas.
Dar testemunhos de compreensão dos desígnios divinos quando tudo está correndo bem é o primeiro passo em nossa marcha evolutiva. Contudo, aceitar a vida tal qual é, sem reclamos, queixumes, rebeldia, tristeza e desgosto diante das contrariedades oriundas muita vez de nossos anseios pueris, é um desafio maior. Estes últimos testemunhos nos fortalecem e nos preparam para o enfrentamento das adversidades superiores, às quais estamos todos destinados a enfrentar.
Entretanto, diante de tantos supostos perigos, há um em especial cujo traço insinuante nos traz de fato preocupação. Não é uma quimera, uma abstração, fruto de propaganda alarmista, pois é imaterial: as nossas muitas personalidades. Este é o grande “inimigo” oculto, o adversário cruel que pode levar-nos mais uma vez ao fracasso em nossa nova existência.
Este “inimigo” é a resultante dos vícios e tendências negativas forjados em inúmeras existências passadas, quando, não aproveitando as oportunidades regularmente oferecidas pela vida, deixando escapar ou escondendo os talentos colocados em nossas mãos pela Divindade, construímos, em consequência, traços de personalidade agora difíceis de ser superados ou mesmo controlados.
A luta é árdua, pois este “inimigo” é poderoso, supera todos os outros juntos!
Entretanto, nada é impossível ao que não apenas crê, pois, mais do que apenas fé, sabe, tem consciência de poder enfrentar a razão face a face, sob qualquer situação inusitada.
Não temamos os entraves da vida. Não emprestemos valor indevido aos passageiros infortúnios da caminhada, sejam quais forem. Não sejamos intimidados por situações já esperadas e comuns no variado rol de nossas provas e expiações.
Caminhemos intimoratos, rumo ao amanhecer que a todos aguarda, jamais nos imaginemos perdidos na noite escura das dúvidas e incertezas, pois, se Deus está conosco, quem estará contra nós?
Referência:
1 BÍBLIA DE JERUSALÉM. Trad. Gilberto da Silva Gorgulho et al. 8. imp. São Paulo: Paulus Editora, 2012.
Rogério Miguez
12 - HÁ DE FATO UMA MORAL ESPÍRITA? (13/03/2024)
Está bem consolidada a visão de que a Doutrina espírita compreende aspectos científicos, filosóficos e morais, sendo o último basicamente desenvolvido em O Evangelho segundo o Espiritismo e na terceira parte de O Livro dos Espíritos.
Interessante notar, contudo, embora Allan Kardec tenha registrado inúmeras páginas explicando como funcionam os aspectos morais dentro do corpo doutrinário, exemplificando este entendimento de diversas formas, a rigor, o Codificador não criou uma moral espírita, ou por outra, uma moral elaborada especificamente para o Espiritismo. Todos os conceitos morais básicos descritos no Pentateuco espírita, sem exceção, não são novos, tampouco apresentam informações revolucionárias sobre o tema.
Muitos ainda não se deram conta desta realidade, pois desconhecem certas posições doutrinárias contempladas nas obras fundamentais, obras estas geralmente esquecidas pelos espíritas.
As leis morais hão de ter sido reveladas à Humanidade em todas as épocas, em muitas civilizações, por diversos mensageiros, iniciados ou missionários. Tome-se, por exemplo, estes conceitos emitidos por Jesus: Ele [Jesus] respondeu: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas (Mateus 22:37-40). Entretanto, estes dois significativos e fundamentais ensinos já haviam sido registrados há séculos no Antigo Testamento:
1. A instrução de amar a Deus está registrada no último livro do Pentateuco de Moisés – Portanto, amarás a Iahweh, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força - Deuteronômio 6:5;
2. Enquanto o segundo mandamento vem de permeio a uma lista de orientações sobre condutas morais em sociedade - Não te vingarás e não guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou Iahweh - Levítico 19:18.
Como se observa nem mesmo conceitos consagrados emitidos por Jesus são originais, assim, não nos surpreendamos, pois não poderia ser diferente, porquanto, as leis divinas são únicas e imutáveis e foram divulgadas por emissários diversos em diferentes momentos, em diversas culturas, de maneira peculiar à cada grupo, é fato, às vezes também de forma parcial, mas a essência só poderia ser e foi realmente a mesma.
E foi o próprio mestre de Lyon quem por mais de uma vez confirmou esta realidade: Perguntam algumas pessoas: Ensinam os Espíritos qualquer moral nova, qualquer coisa superior ao que disse o Cristo? Se a moral deles não é senão a do Evangelho, de que serve o Espiritismo? [...] Não, o Espiritismo não traz moral diferente da de Jesus.1 (Negritamos.)
Mais à frente, na mesma referência, acrescenta: Jesus veio mostrar aos homens o caminho do verdadeiro bem. Por que, tendo-o enviado para fazer lembrada sua lei que estava esquecida, não havia Deus de enviar hoje os Espíritos, a fim de a lembrarem novamente aos homens, e com maior precisão, quando eles a olvidam, para tudo sacrificar ao orgulho e à cobiça?2 (Negritamos.)
Observe-se nesta última passagem, Allan Kardec informando ter Jesus vindo para lembrar a lei divina, desta forma, só se pode concluir que ela já havia sido revelada no passado, senão não faria sentido dizer ser necessário recordá-la. E mais, esclarece que agora vem o Espiritismo para relembrar mais uma vez os conceitos divinos, através dos depoimentos e mensagens ditadas por uma multidão de Espíritos desencarnados, ou seja, pela voz dos chamados mortos.
Passaram-se oito anos, e o Codificador, agora em 1865, com conhecimentos ainda mais aprofundados sobre as leis de Deus, enfatiza na terceira obra do Pentateuco3: Jesus não veio destruir a lei, isto é, a Lei de Deus; veio cumpri-la, isto é, desenvolvê-la, dar-lhe o verdadeiro sentido e adaptá-la ao grau de adiantamento dos homens. Por isso é que se nos depara, nessa lei, o princípio dos deveres para com Deus e para com o próximo, base da sua doutrina.
Complementando na mesma fonte4: O Cristo foi o iniciador da mais pura, da mais sublime moral, da moral evangélico-cristã, que há de renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos [...].
De fato, a Doutrina dos Espíritos foi ditada a Allan Kardec por Espíritos em sua grande maioria, ou talvez na totalidade, pertencentes à segunda classe da segunda ordem, a dos Espíritos superiores, conforme escala espírita contida em O Livro dos Espíritos, apenas uma classe antecedendo a dos Espíritos puros. Basta observar em Prolegômenos, segundo prefácio da abertura de O Livro dos Espíritos, quais entidades assinaram a comunicação registrada naquele introito.
Além disso, segundo o nosso entendimento e conhecimento, participou também da elaboração da obra um único Espírito puro, ou seja, o próprio Jesus, assim, nada a estranhar, porquanto estes Espíritos conheciam e conhecem perfeitamente as leis da vida, comunicando este cabedal de conhecimentos a Allan Kardec, e este, por sua vez, soube sabiamente bem registrar o que lhe foi revelado.
Contudo, de modo a não haver a menor sombra de dúvida sobre esta tese, pode-se relembrar de igual modo o que Allan Kardec escreveu, três anos mais tarde, em 1868, quando publicou a última obra fundamental: A moral que os Espíritos ensinam é a do Cristo, pela razão de que não há outra melhor.5
Vale observar também, Allan Kardec, ao proferir a sua célebre máxima: Fora da caridade não há salvação, o fez quando desenvolvia o capítulo XV de O Evangelho segundo o Espiritismo, após comentar a Parábola do bom samaritano e o Mandamento maior, passagens da vida de Jesus onde o Nazareno esclareceu seus seguidores sobre a imperiosa necessidade do exercício da caridade, como prática única para se ter acesso ao reino e Deus. Além desta referência, usou também este lema em uma obra pouco conhecida O que é o Espiritismo6, que foi publicada após o lançamento da pedra fundamental do Pentateuco espírita, O Livro dos Espíritos. Contudo, nesta outra citação faz menção direta ao Cristo, como sendo o inspirador da máxima: “eles [os Espíritos] não nos pregam que fora do Espiritismo não possa haver salvação, mas sim como o Cristo: Fora da caridade não há salvação.”
Referências:
1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 93. ed. 2. imp. (Edição Histórica). Brasília: FEB, 2016. Conclusão VIII.
2 ____.____. Conclusão VIII.
3 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Trad. Guillon Ribeiro. 97. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1987. cap. 1, item 3, p.57.
4 ____. ____. cap.1, item 9, p.62.
5 ____. A gênese. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013. Caráter da revelação espírita, item 56.
6 ____. O que é o Espiritismo. Não consta o tradutor. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1973. cap. 1, Pequena conferência espírita – Terceiro diálogo – O padre.
Nota: As citações do Novo Testamento foram retiradas da Bíblia de Jerusalém. Trad. Gilberto da Silva Gorgulho et al. [6.imp.] São Paulo: Paulus Editora, 2010.
Rogério Miguez
Os princípios do Magnetismo Animal nos acompanham desde o início de nossa história, e mesmo antes, afinal são leis de Deus. Somos emissores e receptores de fluidos magnéticos, queiramos ou não, independente de nosso credo, raça e estágio evolutivo.
A capacidade de manipulação do Magnetismo Fluídico está entranhada na essência do Espírito, pode ser controlada pela vontade, mas não pode ser suprimida, faz parte da mecânica dos postulados divinos.
Não é raro homens ilustres se interessarem particularmente por determinados assuntos na infância ou mesmo na juventude, e deste conhecimento precoce terem favorecida no futuro a condução da particular missão destes Espíritos.
Este foi o caso, cremos assim, de Allan Kardec, basicamente um educador, escritor de livros didáticos de alcance nacional, isto na França, talvez a cultura de maior destaque do mundo no século XIX.
Antes de iniciar a sua especial missão de elaboração do Pentateuco espírita, em 1823, com apenas 19 anos, o Prof. Rivail teve a atenção voltada para os fenômenos magnéticos, passando a frequentar os trabalhos da Sociedade de Magnetismo de Paris. Desse momento em diante se envolveu por 35 anos seguidos com magnetismo e magnetizadores, tornando-se ele mesmo um deles. Por qual razão se interessar tão jovem pelo magnetismo? Sem dúvida, esta iniciação nas leis do magnetismo, este passado “magnético”, certamente o ajudou sobremaneira na elaboração da teoria espírita, pois nada ocorre por acaso.
Naqueles tempos havia grande interesse e aceitação no mundo pela chamada Ciência do Magnetismo, mas de igual modo existiam opositores ferrenhos e a própria mentalidade científica não via com bons olhos os chamados passes magnéticos. Pairava certa desconfiança de tudo ser apenas charlatanismo, conduzido pelo seu maior divulgador e praticante: Franz Anton Mesmer.
Por que dois banquetes anuais em tributo a Mesmer?
A despeito desta oposição, o Magnetismo assumiu tal relevância à época de Kardec, pois a prática realizava inúmeras curas, e contra fatos não há argumentos contrários, que em todo dia 23 de maio, aniversário natalício de Mesmer, o estudioso por excelência do Magnetismo Animal, realizavam-se dois banquetes anuais reunindo a nata dos magnetizadores de Paris e adeptos estrangeiros, conforme registro na Revista Espírita de 1858.(1)
O professor Rivail, como magnetizador e estudioso do assunto, convidado e participante dos eventos, indagava: Por qual motivo a solenidade comemorativa era sempre celebrada em dois banquetes rivais, onde cada grupo bebia à saúde do outro e onde, sem resultado, erguia-se um brinde à união?
O fato se “justificava”, pois havia um cisma entre os simpatizantes e praticantes do Mesmerismo. Algo semelhante ao que aconteceu, acontece e acontecerá, em muitos outros campos do conhecimento.
Naquele evento, refletia ainda: Tem-se a impressão de que estão prestes a se entenderem. Por que, então, uma cisão entre homens que se dedicam ao bem da humanidade e ao culto da verdade? A verdade não se lhes apresenta sob a mesma luz? Têm eles duas maneiras de entender o bem da humanidade? Estão divididos quanto aos princípios de sua Ciência? Absolutamente. Eles têm as mesmas crenças e o mesmo mestre, que é Mesmer, desencarnado em 1815. Se esse mestre, cuja memória invocam, atende a seu apelo, como o cremos, deve sofrer ao ver a desunião dos discípulos.
Os magnetizadores buscavam através de técnicas com movimentação ou imposição de mãos, entre outros métodos, transmitir os salutares fluidos magnéticos, buscando a cura de quantos os procuravam, vindo deste fato o questionamento do Codificador. Afinal, o objetivo era nobre, restituir a saúde aos doentes, como poderiam divergir sobre este intento?
Os apelos da espiritualidade em prol da unificação
Continuando a raciocinar: Por mais inofensiva que seja essa guerra não é menos lamentável, embora se limite aos golpes de pena e ao fato de beber cada um no seu canto. Gostaríamos de ver os homens de bem unidos por um mesmo sentimento de confraternização. Com isso a Ciência Magnética lucraria em progresso e em consideração.
E quem não gostaria, perguntamos também? A perplexidade do Sábio Gaulês se justificava plenamente, pois não podia compreender como adeptos desta útil Ciência pudessem se dividir, deixando para a posteridade exemplo pouco edificante. Afinal ele iniciava uma tarefa de imensa relevância visando esclarecer a humanidade, um trabalho imenso ainda o aguardava. Poderia o mesmo acontecer à Consoladora Doutrina em via de preparação? possivelmente também se perguntava.
Isto se deu várias décadas atrás; o mestre lionês acabara de publicar O Livro dos Espíritos, em 1857, as primeiras luzes que iriam iniciar o processo de iluminação da humanidade já estavam a brilhar, contudo o fato apresenta um paralelo surpreendente ao momento atual. Mudou o foco, os adeptos são outros, mas a cisão continua, agora entre os seguidores da própria Doutrina dos Espíritos.
A espiritualidade tem enviado vários chamamentos no sentido de viabilizar a unificação, entretanto, cremos, não tem surtido o efeito desejado, pois as divisões continuam, seja na prática, seja na teoria, ou em ambas, apesar de os livros básicos espíritas serem exatamente os mesmos, nada mudou. É fato, muito tem sido acrescentado pelo trabalho de dedicados médiuns, notadamente: Chico Xavier, Divaldo Franco e Raul Teixeira, entre muitos outros, possibilitando o recebimento de variadas instruções de nobres e capacitados Espíritos, contudo, destaque-se, em nada elas alteraram o conteúdo granítico do Pentateuco.
Exemplos dos descaminhos atuais nas lides espíritas
Mesmo assim, cada agremiação espírita quer possuir a sua verdade. Argumentam ser a Doutrina de inteira liberdade, e não estão errados, mas concluem equivocadamente quando decidem ser de cada qual a escolha de como: praticá-la, interpretá-la e de quais livros adotar, esquecendo-se de que liberdade deve sempre ser acompanhada por reponsabilidade.(2)
Tomemos alguns pouquíssimos exemplos dos descaminhos atuais de alguns praticantes do Espiritismo:
1. Já se tem notícia da existência de mais de 50 médiuns psicografando mensagens do Espírito desencarnado Chico Xavier, e como se não bastasse, já há centro(s) recebendo orientações mediúnicas do médium mineiro, seu particular “mentor”;
2. Outros, em nome de suas peculiares interpretações das Leis de Deus, baseados em literatura não confiável, afirmam existir banheiros no plano espiritual, onde os Espíritos precisariam necessariamente deles se utilizar para funções de “limpeza do perispírito”;
3. Vendem-se livros de qualquer natureza em certas casas espíritas, usados ou novos, sem se importar com o teor deles, visando apenas à obtenção de receitas;
4. Há relatos de casas organizando cerimônias de casamento, batizado, benção de aliança, quando os participantes usam vestes brancas e se fazem acompanhar pelos seus respectivos padrinhos;
5. Adeptos das músicas espiritualistas inovaram, pois se apresentam tais quais antigos grupos religiosos, trazendo para o interior das casas o clima igrejeiro, enaltecendo este ou aquele personagem religioso de nossa história ou mesmo espíritas desencarnados, como se fossem santos;
6. Organizam-se festas nas dependências de casas espíritas, não deixando nada a desejar a nenhum salão de festas de nosso ambiente urbano;
7. Sobre o passe, é um capítulo especial, visto existir várias modalidades e todos os seus praticantes se justificam baseados nos exemplos de Jesus, em detalhes da Codificação, e, infelizmente, em propostas não espíritas. Há mesmo aqueles advogando e ensinando não haver transmissão de fluido vital durante o trabalho de passes!
Como evitar o lamentável quadro?
Pode-se facilmente compreender por este diminuto número de simples exemplos como caminha o Espiritismo no Brasil. Kardec, onde estiver, seguramente estará também refletindo sobre a situação, com a agravante de não se tratar agora apenas de uma divisão no seguimento de praticantes do magnetismo, mas de todo o conjunto do movimento espírita.
Como evitar tal quadro? Uma possível solução, talvez a sugestão mais eficaz, seria manter-se fiel aos conceitos contidos nas obras básicas, e só seguir outras literaturas comprovadamente espíritas.
Não se impressionar por pseudoliteraturas espíritas quando, pelo simples fato de os livros trazerem em suas contracapas os dizeres “livros espíritas”, passam a ser aceitas e, ainda mais preocupante, estudadas, como se fossem material espírita, chegando mesmo a ser recomendadas em certas agremiações espíritas como estudos iniciais àqueles que adentram os centros pela primeira vez, sem qualquer orientação aos neófitos.
Os chamados Banquetes Magnéticos nos deixaram esta preocupante lição, e indagamos: quando nos tornaremos atentos e vigilantes às “pseudonovidades espíritas”, não as aceitando, e desta forma, minimizando as divisões no seio da comunidade espírita, pois aquelas surgem às dezenas neste momento de transição planetária, muitas convidando-nos a esquecer do Mestre Gaulês?
Referências:
(1) KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. ano 1, n. 6, jun. 1858. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Variedades – Os banquetes magnéticos.
(2) MIGUEZ, Rogério. Consultar o artigo intitulado “Falando de liberdade”, publicado na revista Reformador, ano 132, n. 2.225, agosto de 2014, p. 46 a 48.
Rogério Miguez
Um dos entendimentos predominantes em mundos de provas e expiações, como o nosso, se traduz na expectativa em receber alguma coisa em troca pelo bem realizado. Um atestado evidente do quanto ainda vivemos egoisticamente.
A perspectiva de um Espírito individualista, interesseiro, comodista, aponta sempre para alguma gratificação em retribuição aos seus possíveis atos bondosos, pois ele ainda acredita na perda do que dá, daquilo oferecido, mesmo sendo uma doação imaterial. Há uma sensação no doador de ter sido lesado, subtraído de algo que lhe foi conseguido a duras penas; era sua propriedade, lhe pertencia, portanto, nada mais justo do que receber um “agrado” de Deus, em função de seu incomensurável ato de bondade espontânea e “desinteressada”!
Observa-se com frequência, na literatura espírita, menção às recompensas no futuro em retribuição aos atos caridosos ou benevolentes do momento. Mesmo Jesus assim se expressou em algumas ocasiões. Contudo, também há nas obras espíritas, recorrentemente, alusão à realização do bem sem qualquer preocupação de uma possível futura compensação.
Sendo assim, como conciliar as propostas? Posso ser caridoso esperando recompensas? Ou de fato nada devo aguardar em retorno aos meus generosos atos? Parece haver nestas questões uma incoerência, quando uns afirmam sim, enquanto outros dizem não.
Entretanto, tudo é sabedoria nas leis da natureza, a harmonia regendo a vida é primorosa, pois, oriundas de Deus, não poderiam sugerir posições antagônicas em qualquer matéria sem uma explicação bem simples e plausível para o aparente conflito.
Os Espíritos evoluídos já entenderam: quando lidam com o egoísmo enraizado e desenvolvido pelos seres humanos, através dos tempos milenares de suas existências, devem agir com cuidado, aos poucos e com muito tato. Por esta razão, afirmam e incentivam aos que ajudarem, que receberão em troca quando por sua vez precisarem. Dentro deste entendimento o egoísta contumaz aceita dividir o que provisoriamente possui, mesmo sendo bem pouco, para futuramente receber de volta, de preferência multiplicado por mil, o que segundo ele foi perdido, desperdiçado.
Uma vez aceito o mecanismo de troca, ou seja, doou hoje para receber amanhã, ele começa, timidamente, a primeiro experimentar repartir qualquer coisa entre os bens materiais que detém, representados pelos recursos financeiros, roupas, objetos diversos..., sempre com aquela expectativa de que Deus está anotando cuidadosamente os seus magnânimos atos caridosos. Seria como uma poupança material para o porvir: Invista agora e recebe com juros no futuro. Materialmente a equação está perfeita para o egoísta.
Eventualmente, com o passar do tempo, o aprendiz de benfeitor passa a observar as expressões de gratidão naqueles que recebem suas minguadas doações; passa a refletir na alegria e contentamento surgindo-nos mais necessitados, as expressões de felicidade, mesmo momentâneas; o sorriso de uma criança carente ao receber um brinquedo no dia de Natal; o olhar de gratidão de um adulto faminto quando ganha um prato de sopa; a euforia de uma família inteira ao obter uma cesta básica; o agradecimento, muitas vezes sem palavras, de um desconhecido a quem se deu um remédio; a fisionomia de ternura de um representante de uma ONG ao saber que poderá contar com uma contribuição mensal, viabilizando as suas tarefas em prol da humanidade. São tantas as possibilidades em ser útil que seria impossível elencá-las todas neste exíguo espaço.
A partir deste momento, começa a surgir, no ainda desajeitado candidato a filantropo, uma percepção nova em seu íntimo. À noite, ou no silêncio de suas horas, reflete consigo mesmo sobre quanta satisfação proporciona dividindo recursos que de ordinário não lhe fazem a menor falta.
Nesta hora, algo inédito sucede: começa a reconhecer o quanto tem sido egoísta, o quanto foi perdulário, o quanto podia ter feito, e, imbuído deste sentimento desconhecido, jamais experimentado, porém agradável e gratificante, passa a fazer o bem pelo puro prazer de fazer o bem, esquecendo definitivamente a possibilidade de obter de volta em futuro próximo aquilo que hoje cedeu de bom grado. Completa-se o aprendizado.
Partiu-se de uma proposta compensadora, acenando com recompensas futuras ao doador, e chegou-se a uma percepção mais apurada de como funcionam as leis do Criador.
Este é o método divino perfeito para a nossa educação neste particular tema, e em qualquer outro.
Rogério Miguez
É costume festejar a data do nosso nascimento. Neste dia aportamos mais uma vez à Terra, com promessas, roteiros de trabalho e compromissos acertados antes de reencarnar. Uma nova etapa iniciou-se, imensa esperança e possibilidades de renovação. Outro arranjo familiar e muitas expectativas para o futuro. Quando chega o dia do aniversário, quanta alegria, quantos preparativos, quantas surpresas. Os amigos são chamados a se reunir, e juntos confraternizam-se em torno do homenageado, comunicando ao aniversariante as mais sinceras expressões de respeito, consideração, amizade, em suma, afeto.
Chegou 25 de dezembro, e nos perguntamos como vamos realizar esta festa, em homenagem a este particular Espírito, Jesus, quando ao passar pela Terra, nos deixou presentes incalculáveis através dos seus exemplos, ensinos, sabedoria e amor? Ao ganhar presentes, pensamos logo em retribuir, porém, em relação a Jesus, quanto temos a restituir! Temos a obrigação de preparar uma festa muito especial, não mediremos esforços. Tudo do bom e do melhor, pede a nossa tradição.
Os Convidados
Certamente convidaremos as pessoas mais importantes da sociedade, afinal o Aniversariante merece todo o nosso apreço. Faremos uma lista imensa e não podemos esquecer ninguém. Gente bonita, jovem e colunável. Todavia, revendo os escritos sobre Ele, não há registro de se ter Jesus impressionado por reis e rainhas da Terra, tampouco pelos nobres e abastados. Sempre se interessou pelo povo, este foi sim objeto de sua dedicada e extremada paixão. E mais, Ele mesmo já era Rei, de um reino por hora inexistente na Terra, mas que por certo existirá, um dia. Personalidades ilustres, assim, não vão garantir o sucesso da festa, nem a satisfação do Aniversariante. Mas como convidar todo o povo? Aonde acomodá-lo? Como alimentá-lo? No entanto, quando Ele fazia as suas preleções, naqueles sermões ao ar livre, nos salões belíssimos e incomparáveis da Natureza, nos convidando para a Sua festa de ensinos, multidões de convidados estavam presentes e, ao final, todos se alimentavam e se satisfaziam plenamente, seguro indicador de terem recebido outro tipo de alimento, o verdadeiro, o espiritual. É fato também terem todos saciado a sede, pois bebiam da água viva, e os que a tomam, nunca mais têm sede. Precisamos avaliar melhor quem convidaremos...
Os Preparativos
É nosso costume, para este dia, tomar várias providências, para que a festança agrade a todos, principalmente ao Aniversariante. Neste dia nos esmeramos em preparar as melhores iguarias e quitutes, toda a sorte de bebidas, de modo a não faltar comes e bebes a ninguém. Tudo escolhido a dedo. Se possível, importados! Contudo, nos foi dito uma vez pelo homenageado: deveríamos nos preocupar com o que sai de nossas bocas, pois procede dos corações, e não com o que entra por elas. Ah, é fato, o salão da festa deve estar limpíssimo, cadeiras arrumadas, poltronas disponíveis para todos, música agradável, ambiente acolhedor e alegre para receber os convivas e o Homenageado. Jesus, porém, quando aqui esteve, ter-se-á preocupado com o asseio da poeira dos salões terrestres, com a música mundana, ou se manteve mais concentrado na limpeza dos nossos pensamentos e atos, de modo a melhor seguirmos as leis de Deus? Promover a higiene moral do nosso ambiente íntimo, não foi um dos objetivos de sua mensagem de amor? Convivendo há bom tempo na intimidade do Pai e certamente conhecendo as mais sublimes melodias capazes de sensibilizar o mais bruto dos corações, pergunta-se: Poderia a nossa música popular alcançá-lo?
E agora, qual espécie de preparativos devemos realizar, assim perguntamos?
A Vestimenta
Não podemos esquecer, consoante a tradição destes dias, que devemos usar a melhor roupagem possível, destacando grifes e modelos, combinações de cores traduzindo a última moda, joias e penduricalhos, perfumes importados. Deste modo, a festa transcorrerá bonita, aparentando um ambiente rico e saudável. Entretanto, o Mestre não afirmou ser o interior mais importante do que o exterior? Poderíamos agradar a Jesus pelo uso de roupagem externa, bela e reluzente, limpa e perfumada, mas com os nossos Espíritos maculados de iniquidades e imundices morais, não podendo ser disfarçadas nem escondidas de Espíritos perfeitos? Não seria motivo de tristeza, ao invés de júbilo, o fato de Jesus constatar não estarem os seus exemplos sendo perfeitamente seguidos, nem observados, e ainda nos encontrarmos muito preocupados com a aparência externa em detrimento das verdadeiras e imortais conquistas?
Qual o valor de joias a nos merecer tanta consideração, se o tempo às relegará inexoravelmente ao esquecimento? E os verdadeiros tesouros não alcançados pela corrosão da ferrugem, tampouco pela destruição das traças, onde estariam armazenados? Não foi dito por Ele: “Aprendei dos lírios do campo, como crescem, e não trabalham e nem fiam. E, no entanto, eu vos asseguro que nem Salomão, em toda sua glória, se vestiu como um deles.” (Mateus 6: 28 e 29).1
Com qual indumentária devemos nos apresentar então!?
Os Presentes
Nossa! Os presentes precisam ser comprados, muitos, originais, se possível, bem caros, embora o dinheiro esteja um tanto escasso e limitado nestes dias de dificuldades econômicas. E ainda nem descobrimos o que falta ao Aniversariante de modo a satisfazê-lo plenamente.
Quanta magia na entrega de um presente! Aquela caixa embrulhada em papel multicor, prenunciando uma surpresa sem fim... Os olhos do Aniversariante brilhando de contentamento ao descobrir exatamente naquele presente o seu desejo atendido.
Entretanto, estamos loucos, como podemos pretender agradar a Jesus com presentes materiais? Desatino puro! Como faremos em tal caso, o dia esta chegando e não conseguimos imaginar um presente do agrado do Rei dos reis. Poderíamos encontrar algo na rua 25 de Março, em São Paulo? Estamos ficando sem horizontes, sem perspectivas. A angústia começa a despontar. Jesus não se sensibilizará, entendemos agora, com salões grandiosos, lustres belíssimos a iluminar os dançarinos, roupagem colorida e perfumada, comidas sofisticadas e abundantes, bebidas especiais cujos sabores nada mais farão além de anestesiar os nossos sentidos, ofuscando a nossa visão espiritual, na busca dos bens imortais. A alegria vazia e sem sentido dos salões das festas terrestres jamais poderá agradar ao Mestre. Convidados ricos e famosos também não vão assegurar o êxito do evento.
Como proceder então? Estamos ficando sem opções para agradar o Aniversariante.
A Solução
Os convidados serão todos que nos procuraram ao longo do ano, solicitando apoio, uma palavra amiga, um prato de comida, algumas moedas, muitas vezes apenas o nosso ombro para recostarem as cabeças cansadas, e que foram por nós recebidos de braços abertos e com um sorriso sincero e fraterno. Todos estarão em nossas mentes, testemunhas do trabalho realizado, e agora poderão ser relembrados e convidados mentalmente a participar desta festa sem igual.
Faz-se necessário um ambiente espiritualizado para recebê-lo. Pode ser a nossa casa, o templo escolhido para reverenciá-lo, preparado com orações de agradecimento à nossa atual existência. A própria Natureza pode servir de ambiente festivo para esta homenagem especial. Quantos salões podemos imaginar, muito mais ricos de amor, daqueles habituados a abrigar reis, rainhas, nobres, imperadores e monarcas?
Chegado o dia de honrarmos este especial Aniversariante, notamos agora a necessidade de uma vestimenta especial, que nos faça brilhar pelo amor e sabedoria dispensados a todos por nós atendidos, com quem partilhamos experiências durante este quase consumado ano. Qual diamante mais valioso podemos usar neste dia, senão aquele construído pelo nosso esforço sincero em ajudar e aprender? As nossas realizações serão as nossas joias e representarão igualmente os nossos perfumes. Posso usar o rubi da praticada Paciência, a esmeralda da exercitada Tolerância, a safira da vivenciada Brandura, o jade da dispensada Misericórdia e finalmente o brilhante do Amor espalhado aos quatro ventos. Ah! Estas sim são joias eternas, indestrutíveis, que estarão sempre conosco. O nosso crescimento espiritual e realizações caridosas serão os melhores presentes ofertados a Jesus. E tenhamos a certeza de termos acertado nesta escolha, do melhor presente, construído dentro do imortal lema: amemo-nos como Ele nos amou.
Conclusão
Somente quando Ele tiver nascido e frutificado em nossas mentes e corações, chegaremos a entendê-lo e principalmente vivê-lo. Nesta hora diremos confiantes: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.” (Gálatas, 2:20).2
REFERÊNCIAS:
1 BÍBLIA DE JERUSALÉM. Trad. Gilberto da Silva Gorgulho; et al. 8.imp. São Paulo: Paulus Editora, 2012.
2 ______. ______.
Rogério Miguez
Acidental. Adj. 2g. 1. Casual, fortuito; imprevisto, acidentário.[1]
É muito difundida entre as massas a ideia de que as leis de Deus contemplam situações e fatos originados ao acaso. Há aqueles crendo na existência da “bala perdida” [2]; outros acreditam em fenômenos da natureza acontecendo de maneira acidental; alguns entendem uniões matrimonias realizadas sob a égide do acaso, entre muitos outros exemplos.
Muitos veem o acaso como um ser inteligente, todo poderoso, regendo desfechos acontecidos ao longo de nossas vidas, como se não houvesse ordem e equilíbrio no Universo, tampouco nas existências dos Espíritos, sejam estes encarnados ou desencarnados. Para aqueles, parece não haver diretrizes governando tudo e todos, creem em Deus, mas também que “às vezes” temos fatos regidos pelo fortuito, por acidente, nos levando ao absurdo de aceitar que a Divindade, eventualmente, não sabe o que acontece e também não possui controle sobre a sua própria criação.
Particularmente em relação ao casamento, o conhecido médico André Luiz, que nos deixou uma obra considerável narrando como funciona o plano espiritual, entre outras, já afirmava categoricamente em 1959 [3]:
“Quanto ao divórcio, segundo os nossos conhecimentos no Plano Espiritual, somos de parecer não deva ser facilitado ou estimulado entre os homens, porque não existem na Terra uniões conjugais, legalizadas ou não, sem vínculos graves no princípio da responsabilidade assumida em comum.” (destaque nosso)
Observa-se que o autor exclui a opção do casamento casual, entretanto, alguns poderiam argumentar ter André Luiz expressado apenas a sua opinião, afinal escreveu: “segundo os nossos conhecimentos no Plano Espiritual”. Entretanto, este mesmo autor, fortalece o fundamento de sua opinião, ou seja, não há acidentes nesta área, agora em 1960, quando na excepcional obra Conduta Espírita registrou [4]:
“Usar com prudência ou substituir toda expressão verbal que indique costumes, práticas, ideias políticas, sociais ou religiosas, contrárias ao pensamento espírita, quais sejam sorte, acaso, sobrenatural, milagre e outras, preferindo-se, em qualquer circunstância, o uso da terminologia doutrinária pura.” (destaque nosso)
Mas à frente, nesta mesma obra, ratifica ainda uma vez mais [5]:
“Libertar-se das cadeias mentais oriundas do uso de talismãs e votos, pactos e apostas, artifícios e jogos de qualquer natureza, enganosos e prescindíveis. O espírita está informado de que o acaso não existe.” (destaque nosso)
Destes dois textos compreende-se claramente ser André Luiz frontalmente contrário à tese que defende fatos acontecendo ao acaso.
Quando se afirma haver um casamento acidental, sugere-se também que o acaso uniu estes dois seres, conforme o primeiro significado da palavra acidental, o que é inadmissível. Contudo, outra opção da palavra acidental pode se aplicar aos casamentos, ou seja, o imprevisto, dado que nem todos os matrimônios que foram acertados no plano espiritual se realizam no plano terreno, ou seja, há imprevisibilidade, de acordo com o livre arbítrio dos Espíritos. Houve um acerto entre dois Espíritos antes de voltarem, mas quando aqui chegam, por razões diversas, não concretizam o que foi acordado, preferindo estabelecer outro laço de parceria.
Mesmo nesta última possibilidade, não há acaso, pois, este “outro Espírito”, que formou esta imprevista união certamente se ligou ao parceiro por laços antigos de convivência, de simpatia, ou mesmo por ajuste, não dando margem a que se diga ter sido o acaso o elemento que os uniu.
Observemos agora como se expressa o Espírito Emmanuel sobre esta questão em análise em uma obra datada de 1970 em plena revolução dos costumes que caracterizou a humanidade daqueles tempos [6]:
“[...] é forçoso reconhecer que não existem no mundo conjugações afetivas, sejam elas quais forem, sem raízes nos princípios cármicos, nos quais as nossas responsabilidades são esposadas em comum.” (destaque nosso)
E na mesma obra, em outro capítulo mais adiante afirma [7]:
“Partindo do princípio de que não existem uniões conjugais ao acaso, o divórcio, a rigor, não deve ser facilitado entre as criaturas.” (destaque nosso)
Como se conclui, há na literatura espírita material de esclarecimento suficiente para invalidar a hipótese da união ao acaso. Sendo assim, o uso da expressão acidental, deveria ser evitado, pois pode emprestar um significado de ter ocorrido ao acaso ou fortuitamente, porém, ambos os significados se chocam com os atributos da onisciência e onipotência de Deus, quando estes se tornariam fragilizados, caso se aceite o acaso como elemento gerador de uniões.
Referencias:
1 Novo dicionário Aurélio de Língua Portuguesa – Edição revista e aumentada: Editora Nova Fronteira. 2ª ed, 1986.
2 Miguez, Rogério. Bala perdida!? In: Revista Internacional de Espiritismo. Edição de junho de 2016. Matão: Casa Editora O Clarim.
3 Xavier, Francisco C.; Vieira, W. Evolução em dois mundos. Pelo Espírito André Luiz. Segunda Parte. cap.VIII.1. ed. Rio de janeiro: FEB, 1959.
4 Vieira, Waldo. Conduta espírita. Pelo Espírito André Luiz. Cap. 13: Na propaganda. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
5 _____. _____. Cap. 18 Perante nós mesmos.
6 XAVIER, Francisco C. Vida e sexo. Pelo Espírito Emmanuel. Cap. 7: Casamento. 9. ed. 2. imp. Rio de Janeiro: FEB, 1986.
7 _____. _____. Cap. 8: Divórcio.
Rogério Miguez
Comentário
Boa tarde Rogério, grata por esses ensinamentos! São muito bons e nos enriquece o conhecimento! Gratidão 🙏
Pois é Rogério, só esquecendo é possível perdoar e ser perdoado .
Excelente texto! Obrigada!
Ana Paula (Casa Espirita Eurípedes Barsanulfo - RJ)
Após a transformação do princípio espiritual ou inteligente, em uma unidade chamada Espírito, que somos nós mesmos, dá-se prosseguimento a uma trajetória ininterrupta de evolução rumo à perfeição possível de ser alcançada dentro dos planos da Criação Divina.
Há dois grandes campos de aprimoramento a serem trilhados por todos nós: o moral e o intelectual. Todavia, este progresso nem sempre ocorre proporcionalmente, em paralelo, determinando um desequilíbrio nestes setores, em geral, por longo tempo.
Na época da simplicidade e ignorância, ou seja, nos primórdios de nossa existência, Deus supriu, através de sua bondade e sabedoria, apoio continuado por meio dos anjos guardiões, porquanto, ainda não sabíamos nos conduzir e de modo que pudéssemos ir experimentando a vida e adquirindo pouco a pouco condições de nos gerirmos pelo uso do nosso próprio livre-arbítrio, antes inexistente.
No livro primeiro do Pentateuco Doutrinário1 há esta interessante informação sobre este progresso, entre outras:
785. Qual o maior obstáculo ao progresso?
“O orgulho e o egoísmo. Refiro-me ao progresso moral, porquanto o intelectual se efetua sempre. [...]”
Como se observa, é da vontade do Pai existir sempre a evolução, pode não acontecer simultaneamente nos dois campos, mas o intelectual ocorre sempre. E por qual razão isto se dá? Devido ao fato de que quando reencarnamos mais uma vez, o mundo já mudou ou mudará, já evoluiu um tanto mais e, mesmo se durante esta outra vida não ocorrer nenhum progresso moral, devido ao nosso orgulho e egoísmo, a própria condição do mundo, com novas conquistas técnicas e científicas, obriga o reencarnante a aprender estas outras tecnologias, e, neste processo de aprendizado, acontece o progresso intelectual inexoravelmente.
É de se notar, no lado moral, existir a possibilidade de não haver progresso em uma existência, sendo assim, acontece o estacionamento, contudo, provisório e temporário, enquanto o Espírito não se decidir a retomar novamente as rédeas da própria vida e acelerar o passo no aspecto da moralidade.
A possibilidade de estacionamento prevista na ordem celeste é uma condição de exceção, porquanto, caso o Espírito não se decida a retomar a sua evolução moral, as leis celestiais o obrigarão, providenciando primeiro a reencarnação compulsória do Espírito calceta, e, pelo próprio ritmo da existência, com novas situações se apresentando, este será obrigado a de novo progredir moralmente, pois a dor o incomodará e será o aguilhão e estímulo inevitável nesta retomada do progresso.
Alguns, embora entendam a possibilidade do estacionamento, aceitam ainda a regressão na escala evolutiva, ou seja, a possibilidade de regredir moralmente a um estágio anteriormente já trilhado. Esta corrente de pensadores, geralmente, está mais ligada à linha de pensamento das filosofias orientais, através da famosa tese da Metempsicose, abordada por Allan Kardec no texto a seguir (op. cit.):
611. O terem os seres vivos uma origem comum no princípio inteligente não é a consagração da doutrina da metempsicose?
“Duas coisas podem ter a mesma origem e absolutamente não se assemelharem mais tarde. Quem reconheceria a árvore, com suas folhas, flores e frutos, no gérmen informe que se contém na semente donde ela surge? Desde que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período da humanização, já não guarda relação com o seu estado primitivo e já não é a alma dos animais, como a árvore já não é a semente [...].”
Há um encadeamento na Criação entre todas as coisas sendo este processo de evolução muito bem caracterizado, indicando tudo ser solidário. Entretanto, pelo fato da existência deste entrelaçamento, não indica que possamos retornar às origens, conforme asseveram os Espíritos nesta outra questão (op. cit.):
612. Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?
“Isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente.”
Vê-se claramente no texto a informação de que se o rio não remonta à sua nascente, indica que lá já esteve, mas isto não implica na possibilidade de voltar à origem, assim, a metempsicose como entendida por alguns não se sustenta do ponto de vista espírita.
Allan Kardec ainda no compêndio magistral da Doutrina, O Livro dos Espíritos, comenta sobre a metempsicose confirmando a impossibilidade da existência desta doutrina retrógada (op. cit.):
222. Não é novo, dizem alguns, o dogma da reencarnação; ressuscitaram-no da doutrina de Pitágoras. Nunca dissemos ser de invenção moderna a Doutrina Espírita. Constituindo uma lei da Natureza, o Espiritismo há de ter existido desde a origem dos tempos e sempre nos esforçamos por demonstrar que dele se descobrem sinais na antiguidade mais remota. Pitágoras, como se sabe, não foi o autor do sistema da metempsicose; ele o colheu dos filósofos indianos e dos egípcios, que o tinham desde tempos imemoriais. [...] Contudo, entre a metempsicose dos antigos e a moderna doutrina da reencarnação, há, como também se sabe, profunda diferença, assinalada pelo fato de os Espíritos rejeitarem, de maneira absoluta, a transmigração da alma do homem para os animais e reciprocamente.
É interessante notar Allan Kardec negando a teoria da metempsicose como a entendem alguns antes de ter registrado, mais à frente, as perguntas 611 e 612, específicas sobre o tema.
Para ajudar no entendimento deste processo evolutivo, imaginemos a existência de instrumentos de medição de virtudes (moral) e do intelecto: o “Virtuômetro” e o “Intelectômetro”. Imediatamente ao renascer um Espírito, suponhamos fosse medido o seu grau de moralidade e de intelectualidade em uma escala de zero a cem. Imaginemos este Espírito indicando o valor 10, a título de exemplo, em paciência e 15 em inteligência, talvez valores bem típicos em um mundo como o nosso. Ao sair da Terra, desencarnando, tomadas novamente as medições, este Espírito poderia apresentar leituras pelos instrumentos de 10 ou mais de 10, na virtude paciência, e certamente mais de 15 em inteligência, ou seja, em moral pode-se estacionar, mas não em inteligência. E mais, não poderia acusar jamais leitura abaixo de 10 em paciência, tampouco menos de 15 em inteligência, isto significaria retroceder em qualquer dos dois campos.
Como se conclui, na trajetória evolutiva de qualquer Espírito, é possível estacionar do ponto de vista moral, mas jamais no campo da ciência, por isso, observa-se no mundo atual este desequilíbrio extremamente acentuado entre as duas asas do progresso, na conduta dos habitantes: moral e inteligência. Muitos Espíritos aqui reunidos se desenvolveram bastante intelectualmente, entretanto, a asa da moral, não está bem construída, determinando que se assista esta multidão de pecados e incontáveis fatos degradantes no seio desta humanidade. Dizemos desta humanidade, pois há “zilhões” de Espíritos na fase hominal povoando os incontáveis mundos do Universo. No planeta Terra se encontra uma ínfima parcela destes Espíritos, aqui reunidos devido às suas particulares afinidades.
Cabe destacar a magnanimidade de Deus, o Seu infinito amor pela criação, impedindo, pelo funcionamento natural de Suas leis, a possibilidade de retroagirmos, recomeçando ou conquistando de novo o que foi adquirido à duras penas em vidas passadas. Esta mecânica das normas divinas nos traz imensa tranquilidade e esperança em um mundo melhor, em razão de sabermos, termos a certeza: Jamais regrediremos, muito menos estacionaremos eternamente!
Referências:
1 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 69. ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1987. q. 785.
Rogério Miguez
Dentre as sábias e misericordiosas leis divinas, destaca-se aquela determinando o esquecimento de quem fomos e como agimos em nossas muitas vidas pregressas, contudo, temporariamente, apenas durante o período quando nos encontramos mais uma vez reencarnados.
Questão rotineiramente abordada em palestras, estudos e conversas espíritas, pois, quem sabendo já ter vivido outras vidas não deseja saber em detalhes: qual nome teve, onde reencarnou, em qual época, como agiu, com quem se relacionou, foi um nobre ou um plebeu, como morreu, e tantas outras questões surgindo em nossas mentes, quando nos detemos a refletir sobre nossas múltiplas existências?
Todas as leis do Criador são perfeitas, visam, única e exclusivamente, nos apoiar em nossa trajetória rumo à perfeição possível de ser alcançada. Esta, do esquecimento do passado, não foge à regra, embora, para muitos seja motivo de certo desconforto, pois creem deveriam se lembrar de tudo, afinal participaram ativamente em outros grupamentos familiares ocupando posições outras daquelas ora ocupadas na família atual.
Existe uma razão técnica promovendo este esquecimento. Quando reencarnamos há uma diminuição da frequência na qual vibramos, devido à própria imersão mais uma vez em um corpo material1, além disso, o perispírito sofre uma espécie de abafamento, não permitindo assim que as informações armazenadas nesta estrutura eletromagnética, termo este cunhado por André Luiz2, possam ser acessadas e recordadas livremente pelo Espírito. Há desta forma, uma providência divina natural, atuando no sentido de provisoriamente esconder o passado de nós mesmos.
Mas qual a razão deste esquecimento? Quais seriam os motivos para a Divindade impor esta condição? Afinal, o passado é nosso, fomos nós os partícipes das situações vividas! O que demais poderia haver em se lembrar destas vidas? Podemos garantir: demais não haveria nada, só haveria de menos.
A trajetória evolutiva dos Espíritos se faz de três maneiras distintas: há aqueles obrando única e exclusivamente no bem desde o início, enquanto outros fazem o oposto, ou seja, só atuam no mal; estes dois são os casos extremos, e existem aqueles avançando através da repetição de lições, desvios constantes, períodos de estacionamento no processo evolutivo, entre outros muitos percalços possíveis.
Sabe-se ser esta última a situação mais comum dos Espíritos encarnados e desencarnados gravitando em torno da Terra, sendo exatamente a condição a nos caracterizar no momento, senão, reflitamos: em qual planeta habitamos? Mundo de provas e expiações, em via de se regenerar. Orbes desta categoria, o nome já indica, são caracterizados por ter como habitantes Espíritos que de ordinário não se destacam como bons exemplos de evolução. Não são criaturas, na média, vitoriosas sobre si mesmas, não são portadoras de virtudes e padrões morais e éticos podendo ser exaltados e copiados, muito pelo contrário, basta observar a humanidade terrena, com suas múltiplas guerras, inúmeros conflitos, imoralidades de toda ordem, baixíssimos padrões éticos, escassez de bons exemplos de homens virtuosos, tanto isto é verdade que quando se descobre um virtuoso no seio da sociedade, este destaca-se imediatamente, pois está fora da curva evolutiva do planeta, é coisa rara, para ser guardada a sete chaves.
Este mecanismo divino foi registrado por Allan Kardec em O livro dos Espíritos3: Uma vez que há Espíritos que, desde o princípio, seguem o caminho do bem absoluto e outros o do mal absoluto, haverá, talvez, gradações entre esses dois extremos? ─ “Sim, certamente, e constituem a grande maioria.”
Sendo este o padrão de normalidade dos habitantes em nosso planeta, o que podemos imaginar tenhamos realizado em nossas existências pregressas? Certamente não tivemos numerosas atuações nobres, senão, já estaríamos em outros mundos mais avançados. Assim, pode-se assegurar categoricamente, sem sombra de dúvidas: o nosso passado não é dos mais exemplares; somos caracterizados por altos e baixos, entretanto, seguramente mais baixos do que altos.
Cabe aqui uma nota importante: esta é a condição mediana no planeta Terra, mas a humanidade não se restringe a este planeta, a humanidade é formada por todos os “zilhões” de Espíritos que alcançaram o reino hominal; na Terra há apenas uma fração ínfima deste conjunto, tendo sido aqui trazidos, no passado e no presente, por similitude de pendores.
Sendo esta uma verdade, por qual razão se recordar ou tentar se lembrar deste passado não muito digno? Ganharíamos algo com esta recordação? E mais, existe alguém que se satisfaça, encontre prazer em lembrar os deslizes cometidos na atual existência? Não é regra tentarmos, por todos os meios possíveis, apagar de nossa memória aquilo a nos incomodar do ponto de vista moral e ético? Aliás, há muitos fatos da vida presente que se apagam temporariamente e de forma natural. Evidentemente aqui nos referimos àqueles Espíritos possuidores de um mínimo de integridade moral; os que se comprazem no mal, em nada se preocupam em recordar os seus deslizes, muitos chegam até a se vangloriar de seus feitos imorais.
Contudo, é conveniente fazer uma ressalva, embora não nos recordemos corriqueiramente das vidas anteriores, todas as conquistas construídas no pretérito, em termos de virtudes e intelecto, permanecem conosco, jamais se perdem, possibilitando desta forma que nos beneficiemos da melhora promovida em nós mesmos, através de nossos esforços em termos de moralidade e inteligência, em anteriores vivências, este outro sábio mecanismo divino impedindo que em cada nova existência recomecemos o nosso processo evolutivo do zero.
A lembrança do passado só é útil quando o Espírito já construiu a sua fortaleza moral para enfrentá-la com humildade, aproveitamento, os seus deslizes e desventuras de antigas vidas. Não é possível retirar lições de condutas delituosas passadas, se ainda nem sequer conseguimos nos suportar; respeitar a crença alheia; tolerar as diferentes raças; entender as possíveis opções de conduta sexual; pacificar ao invés de guerrear; entre tantas condutas egoístas passíveis de serem elencadas caracterizando plenamente o nosso século.
Caso contrário, se o Espírito desvenda o seu passado, sem estrutura interior, equivale a abrir a caixa de Pandora4, surgem fatalmente entre outros: culpa, remorso, vergonha, desespero, sentimentos que dificilmente sabemos bem lidar, visto que estamos ainda desprovidos de fortaleza moral adequada, aos quais, acrescidos dos momentos infelizes da vida atual, pressionariam de tal modo levando ao desequilíbrio qualquer Espírito mediano, como a maioria de nós.
É fato que alguns se relembram de alguns aspectos de anteriores existências, não há o olvido absoluto; entre estes há médiuns necessitados destas informações para bem se conduzirem em suas particulares missões, mas esta recordação é natural, não houve provocação ou busca forçada por este passado. Por alguma razão, desconhecida no momento, Deus permitiu esta lembrança.
Não nos preocupemos em demasia com o pretérito, observemos a nossa vida presente, “recordemo-nos” das existências pregressas observando as nossas atuais inclinações e tendências naturais, pois, nada mais representam do que traços de nosso caráter construídos em outras vidas. Se os reconhecemos destoantes da boa moral, fustiguemos estes aspectos da personalidade ainda a nos caracterizar, suplantemo-los através de boas ações, atitudes nobres, padrões caridosos; vivamos o bem agora, e as marcas indesejadas do passado serão totalmente superadas, podendo então ser lembradas sem qualquer impedimento maior. Por outro lado, se os identificamos salutares, boas propensões, fortaleçamo-las, pois são indicadoras de que em existências anteriores buscamos o bem, acima de tudo.
Desta forma, o véu total - o mais comum -, ou parcial, imposto pelo Criador sobre o nosso passado é salutar, benéfico e providencial, tenhamos certeza disto.
Referências:
1 XAVIER, Francisco C. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1989. cap. XIV.
2 ______, VIEIRA, Waldo. Evolução em dois mundos. Pelo Espírito André Luiz. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1959. cap. 2.
3 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. Comemorativa do Sesquicentenário. Brasília: FEB, 2007. q.124.
4 Caixa de Pandora: é um artefato da mitologia grega, tirada do mito da criação de Pandora, que foi a primeira mulher criada por Zeus. A "caixa" era na verdade um grande jarro dado a Pandora, que continha todos os males do mundo. Pandora abre o Jarro, deixando escapar todos os males do mundo, menos a "esperança". Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Caixa_de_Pandora>. Acesso em: 07/06/2016.
Rogério Miguez
Comentário
Pois é Rogério, só esquecendo é possível perdoar e ser perdoado.
Éder Andrade
É da lei que obrigatoriamente todo Espírito, individualização do princípio espiritual, passe vários períodos de sua existência ocupando corpos materiais em diversos mundos do Universo. Enfatizamos ser uma imposição, ninguém se eximirá destas experiências.
Esta necessidade se justifica pelo fato dos Espíritos, ou seja, nós mesmos, de modo a progredir totalmente conforme também determina a lei divina, devermos estar em contato com a matéria, contudo, para manipular a matéria, usando-a em benefício próprio, só através de uma estrutura também material: o corpo humano. Caso o Espírito permaneça apenas no plano etéreo, sem reencarnar, ou seja, na chamada erraticidade, estacionaria, pois há um limite de evolução a ser alcançada na espiritualidade.
Desta forma, o objetivo maior proporcionado pelas reencarnações seria conduzir os Espíritos à perfeição relativa prevista e desejada por Deus, para todas as Suas criaturas, indistintamente, isto é, tornarem-se Espíritos puros, tal qual Jesus.
Entretanto, poderíamos perguntar: Para que alcançar a pureza de Espírito? - Para adquirir a condição de suportar a parte que nos toca na obra da criação. Todo Espírito, independente do momento de sua criação, sem distinção, irá trabalhar para Deus e com Deus, pela eternidade afora.
Assim, o processo de encarnar se repetirá até a condição de pureza ser alcançada, desta hora em diante, o Espírito só volta a ocupar um novo corpo em um mundo material se assim deliberar nas chamadas relevantes missões, tal qual fez Jesus.
O número de reencarnações necessárias para se atingir a plenitude da evolução depende do esforço do Espírito em cada uma delas, soa bastante razoável. Deus em sua sabedoria proporciona condições para que nós atinjamos a meta final. Seria um absurdo a Divindade determinar este progresso e não nos oferecer meios para alcançá-lo.
À vista disso, devemos nos empenhar para bem aproveitar as vidas futuras e principalmente a atual, pois quanto mais demorarmos a atingir o progresso possível, mais reencarnações teremos, tantas quantas forem precisas.
Cabe aqui uma pequena nota: há quem diga ser a evolução infinita, quer dizer, não haverá fim neste progresso, contudo, basta uma rápida visita à pedra fundamental da Doutrina, O Livro dos Espíritos, para esclarecer:1
“169. É invariável o número das encarnações para todos os Espíritos? - Não; aquele que caminha depressa, a muitas provas se forra. Todavia, as encarnações sucessivas são sempre muito numerosas, porquanto o progresso é quase infinito”.
No estágio atual, quando encarnados, estaremos sujeitos a três condições:
1. Passamos por expiações e/ou;
2. Somos submetidos a provas e/ou;
3. Desempenhamos missão.
Esta tríade de possibilidades acompanha basicamente todos nós, pois ainda somos Espíritos de elevação mediana, se assim não fosse, em princípio, não estaríamos em um mundo de Provas e Expiações, categoria atualmente ocupada pelo planeta Terra.
Aquelas encarnações, às quais o Espírito vence os seus desafios e, melhor ainda, vence a si mesmo, ou seja:
1. Expia sem reclamar;
2. Obtém sucesso em suas provas;
3. Cumpre a sua missão.
podem ser consideradas encarnações vitoriosas, entretanto, são escassos os completistas nos dizeres de André Luiz em Missionários da luz2: Completista é o título que designa os raros irmãos que aproveitam todas as oportunidades construtivas que o corpo terrestre lhes oferece, e, na qualidade de trabalhador leal e produtivo, pode escolher, à vontade, o corpo futuro, quando lhe apraz o regresso à Crosta em missões de amor e iluminação, ou recebe veículo enobrecido para o prosseguimento de suas tarefas, a caminho de círculos mais elevados de trabalho.
Por outro lado, aqueles que passam por suas expiações com revolta, rebeldia, insatisfeitos, a reclamar de Deus; enxergam as provas por eles mesmos escolhidas como testes impossíveis de serem vencidos e as abandonam; e, finalmente, não compreendem a sua missão, descumprindo-a, experimentaram uma reencarnação fracassada.
Certamente, considerando este cenário, surge a questão: Qual seria a minha particular missão? Como posso identificá-la de modo à bem cumprí-la? Não poderíamos elencar as muitas missões possíveis de nos serem atribuídas ou por nós solicitadas, mas pelo menos uma delas destaca-se sempre: a missão em relação os filhos. Para todos os que se perguntam o que Deus lhes reservou como missão, devem se conscientizar de que os filhos são empréstimos, não nos pertencem, contas serão pedidas aos pais detendo provisoriamente a guarda de um ou mais Espíritos, pertencentes a Deus, são criaturas Dele. Se, como pais, formos vitoriosos em bem prepará-los para a vida, seguramente teremos cumprido esta básica missão relacionada à maternidade e à paternidade.
Voltemos a nossa atenção para aqueles que fracassaram total ou parcialmente em suas vidas. Para estes a misericórdia e bondade de Deus se expressam sempre através de outras oportunidades de vida, tantas quantas forem necessárias até que exista a retificação dos equívocos, “recuperando” o tempo perdido. De fato, não é possível trazer o tempo de volta, porém, bem vivendo, preparamos um bom futuro para nós mesmos. Por consequência, quando há o cumprimento parcial das tarefas de uma vida, complementa-se naturalmente em outras, pois sempre há novas chances, outras oportunidades, assim deseja nosso Amantíssimo Pai.
É interessante destacar que mesmo diante do quadro de expiações, provas e pequenas missões enfrentadas por todos nós, há alguns ainda fazendo mais, por esforço e dedicação acentuados, como exemplo, durante o sono, encontram-se com seus guias e Espíritos protetores e pedem mais desafios e em muitos casos são concedidos.
A título de exemplificação quantitativa do sucesso e do insucesso, total ou parcial, em reencarnações, podemos usar informação contida em outra obra de André Luiz3: em 82 anos de existência do instituto “Almas Irmãs”, um hospital-escola do plano espiritual para candidatos à reencarnação que haviam falhado em questões de natureza afetiva, muitos registros dos que dali partiram rumo a Terra foram acumulados. Àquela época, abrigava uma população oscilante entre cinco e seis mil Espíritos. E a estatística informa: de cada cem estudantes retornando à experiência corpórea, dezoito saem vitoriosos, vinte e dois melhorados, vinte e seis muito imperfeitamente melhorados e trinta e quatro onerados por dívidas lamentáveis e dolorosas.
Observando estes dados coletados de exemplos reais, destaca-se serem de Espíritos previamente educados antes de reingressarem na esfera terrena. Sabemos, no entanto, existir reencarnações compulsórias para muitos Espíritos, em função de sequer apresentarem as condições mínimas para serem reeducados nos diversos hospitais-escolas existentes nas colônias do plano etéreo. Certamente, nesta massa de Espíritos, que não deve ser pequena, as estatísticas devam ser mais desanimadoras, com números mais relevantes de insucessos.
Aproveitemos! Não esmoreçamos! A vida atual nos pede esforço, disciplina, dedicação, paciência, estudo e muito exercício da virtude ainda pouquíssimo cultivada: o amor. Vivamos com Jesus! Com estas providências aumentaremos as nossas chances de daqui nos retirarmos, mais cedo ou mais tarde, pois a “morte” é certa para todos, quem sabe também com a honrosa e distinta posição de mais um completista.
Referências:
1 KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 69. ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1987. q. 169.
2 XAVIER, Francisco C. Missionários da luz. Pelo Espírito André Luiz. 20. ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1987. cap. 12 – Preparando experiências.
3 XAVIER, Francisco C.; VEIRA, Waldo. Sexo e destino. Pelo Espírito André Luiz. 32. ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 2007. 2ª parte, cap. 9.
Rogério Miguez
O sono e os sonhos são um tema interessantíssimo para todos nós, pois nos recolhemos diariamente em sono. Sempre encontramos pessoas desejosas em saber: Por qual razão ou objetivo dormimos? Há benefícios a serem obtidos? Quais são as atividades do Espírito durante o período de sono?
O tema não poderia ter sido deixado à margem por Allan Kardec, afinal dormimos aproximadamente um terço de nossas vidas, é muito tempo para não se saber em quais atividades, se houver, estamos envolvidos quando nos entregamos aos braços de Morfeu, o deus dos sonhos, segundo a mitologia grega.
Como o assunto é vasto, nos restringiremos nesta análise a principalmente destacar alguns benefícios para o Espírito passíveis de serem obtidos durante uma noite de sono, apontando também a razão e o objetivo do mesmo, considerando apenas a primeira obra básica do Pentateuco espírita - O Livro dos Espíritos - em uma análise não exaustiva:1
402. Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono?
“Pelos sonhos. Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. Adquire maior potencialidade e pode pôr-se em comunicação com os demais Espíritos, quer deste mundo, quer do outro. [...] Esses Espíritos, quando dormem, vão para junto dos seres que lhes são superiores. Com estes viajam, conversam e se instruem. Trabalham mesmo em obras que se lhes deparam concluídas, quando volvem, morrendo na Terra, ao mundo espiritual. [...] Isto, pelo que concerne aos Espíritos elevados. Pelo que respeita ao grande número de homens que, morrendo, têm que passar longas horas na perturbação, na incerteza de que tantos já vos falaram, esses vão, enquanto dormem, ou a mundos inferiores à Terra, onde os chamam velhas afeições, ou em busca de gozos quiçá mais baixos do que os em que aqui tanto se deleitam. (Negritamos)
Conforme resposta à pergunta 402, observam-se algumas possíveis atividades nos destaques em negrito e também teríamos os seguintes benefícios:
1. Lembrar-se do passado e eventualmente prever o futuro;
2. Colocar-se em comunicação com outros Espíritos, para viajar, conversar, se instruir;
3. Trabalhar em obras no plano espiritual;
Mais à frente, encontramos outras vantagens propiciadas durante o intervalo de sono:2
410. Dá-se também que, durante o sono, ou quando nos achamos apenas ligeiramente adormecidos, acodem-nos ideias que nos parecem excelentes e que se nos apagam da memória, apesar dos esforços que façamos para retê-las. Donde vêm essas ideias?
“Provêm da liberdade do Espírito que se emancipa e que, emancipado, goza de suas faculdades com maior amplitude. Também são, frequentemente, conselhos que outros Espíritos dão.” (Negritamos)
4. Novas e boas ideias nos surgem, devido à percepção aumentada oriunda da emancipação do Espírito se distanciando provisoriamente da matéria, ou seja, do corpo, que o abafa.
5. Receber conselhos, por exemplo, dos guias espirituais;
E na pergunta seguinte:3
411. Estando desprendido da matéria e atuando como Espírito, sabe o Espírito encarnado qual será a época de sua morte?
“Acontece pressenti-la. Também sucede ter plena consciência dessa época, o que dá lugar a que, em estado de vigília, tenha a intuição do fato. Por isso é que algumas pessoas preveem com grande exatidão a data em que virão a morrer.” (Negritamos)
Poderíamos argumentar qual seria o proveito recebido por um Espírito ao tomar conhecimento de quando vai morrer. Conhecedores de que nosso fim está próximo, como exemplo, podemos acelerar providências em relação a um possível testamento, talvez dividindo os bens possuídos ainda em vida, melhor opção, desta forma, evitaríamos dissabores futuros em família, assim sendo, enumeremos mais este benefício:
6. Conhecer ou ter o pressentimento do dia da desencarnação;
Avançando um pouco mais nesta obra maravilhosa, encontra-se:4
414. Podem duas pessoas que se conhecem visitar-se durante o sono?
“Certo e muitos que julgam não se conhecerem costumam reunir-se e falar-se. Podes ter, sem que o suspeites, amigos em outro país. É tão habitual o fato de irdes encontrar-vos, durante o sono, com amigos e parentes, com os que conheceis e que vos podem ser úteis, que quase todas as noites fazeis essas visitas.” (Negritamos)
Aqui se destaca a possibilidade de rever amigos e parentes, que podem nos trazer benefícios, assim:
7. Encontrar parentes e amigos que podem nos auxiliar, com avisos, por exemplo, e mais: Quem não deseja estes encontros?
Ainda há outras novidades:5
417. Podem Espíritos encarnados reunir-se em certo número e formar assembleias?
“Sem dúvida alguma. Os laços, antigos ou recentes, da amizade costumam reunir desse modo diversos Espíritos, que se sentem felizes de estar juntos.” (Negritamos)
Quem não aspira reencontrar amigos, antigos e recentes, para em conjunto conversar sobre o desenrolar da vida e sobre o futuro que nos aguarda?
8. Interagir com grupos de amigos encarnados para fortalecimento e renovação pessoal.
Entretanto, há mais:6
419. Que é o que dá causa a que uma ideia, a de uma descoberta, por exemplo, surja em muitos pontos ao mesmo tempo?
“Já dissemos que durante o sono os Espíritos se comunicam entre si. Ora bem! Quando se dá o despertar, o Espírito se lembra do que aprendeu e o homem julga ser isso um invento de sua autoria. Assim é que muitos podem simultaneamente descobrir a mesma coisa. [...] Todos, sem o suspeitarem, contribuem para propagá-la.” (Negritamos)
9. Promover o progresso da humanidade.
Para não nos alongarmos em demasia, destacaremos esta última informação:7
425. O sonambulismo natural tem alguma relação com os sonhos? Como explicá-lo?
[...] “Esse estado se apresenta principalmente durante o sono, ocasião em que o Espírito pode abandonar provisoriamente o corpo, por se encontrar este gozando do repouso indispensável à matéria.” [...] (Negritamos)
10. Permitir o descanso necessário ao corpo humano, ferramenta fundamental para promover a evolução de todos nós.
Poderíamos continuar a elencar outras vantagens advindas do sono, definidas em outras obras fundamentais, contudo, cremos que estas já apontadas nos dão uma boa noção da dimensão e da importância do período de sono e de como são sábias as leis divinas.
Além disso, é oportuno sugerir ao leitor, como é importante estudar o primeiro livro do Pentateuco espírita, sem prejuízo dos demais, pois O Livro dos Espíritos é o arcabouço, a pedra fundamental, de todos os outros.
Referências:
1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 93. ed. 1. imp. (Edição Histórica.) Brasília: FEB, 2013. q. 402.2 _____. _____. q. 410.
3 _____. _____. q. 411.
4 _____. _____. q. 414.
5 _____. _____. q. 417.
6 _____. _____. q. 419.
7 _____. _____. q. 425.
Rogério Miguez
“Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.” (Romanos, 7:19.)
Uma das poucas fatalidades nas leis de Deus é a certeza de alcançarmos uma relativa perfeição ao longo de nosso processo evolutivo, queiramos ou não atingiremos a condição de Espírito puro, mais cedo ou mais tarde, não há quem possa se esquivar deste destino: Graças a Deus!
Imaginar ou aceitar que por um deslize, uma falha moral, um equívoco ético, pudéssemos ser relegados à condição de párias na criação, sem direito a mudar o nosso destino que seria de puro sofrimento a partir deste banimento, como Caim se encontrou naquela conhecida passagem da Bíblia após ter matado Abel, seu irmão de sangue, nos conduziria a um entendimento inquietante sobre a Divindade, contudo, há sempre misericórdia e bondade nas leis eternas: Graças a Deus!
Prevista está a possibilidade de alcançar esta finita perfeição trilhando três possíveis caminhos: ou fazemos apenas o bem desde a nossa individualização como Espírito imortal; ou fazemos somente o mal; ou andamos a errar e acertar pelas veredas da vida, entretanto, independente de qual caminho inicial tomamos, estaremos sempre progredindo; não é possível estacionar eternamente e, sim, jamais regredir: Graças a Deus!
É pouquíssimo conhecida a possibilidade de um Espírito agir sempre no bem, desde o início de sua caminhada, sendo esta a razão de se poder afirmar categoricamente não haver a necessidade absoluta de trilhar o mau caminho para se alcançar certo grau de perfeição, destinação final de todos nós: Graças ao Bom Deus!
Não são afirmações gratuitas, porquanto foram registradas por Allan Kardec1:
124. Uma vez que há Espíritos que, desde o princípio, seguem o caminho do bem absoluto e outros o do mal absoluto, haverá, talvez, gradações entre esses dois extremos? “Sim, certamente, e constituem a grande maioria.”
Desconhecendo esta realidade, alguns alegam ser preciso necessariamente praticar ou vivenciar o mal, por essa experiência, creem, chegarão à correta compreensão do bem. Esta proposta é um total absurdo, pois, caso isto fosse verdade, todos nós precisaríamos assassinar alguém, torturar, martirizar o próximo, participar de atrocidades mil, para bem entender serem essas condutas totalmente inadequadas, apenas para citar alguns exemplos. Chega-se à mesma conclusão analisando-se esse outro registro do Mestre de Lyon2:
634. Por que está o mal na natureza das coisas? Falo do mal moral. Não podia Deus ter criado a Humanidade em melhores condições? “Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes (115). Deus deixa ao homem a escolha do caminho. Tanto pior para ele, se toma o mau caminho: sua peregrinação será mais longa. Se não existissem montanhas, o homem não compreenderia que se pode subir e descer; e se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito adquira experiência e, para isso, é necessário que conheça o bem e o mal. Eis por que existe a união do Espírito e do corpo.” (Negritamos)
O primeiro destaque indica haver a possibilidade de tomar-se o mau caminho, deste modo, deve existir também, por oposição, a opção de tomar-se o bom caminho, com consequente encurtamento da peregrinação. No outro destaque, observa-se que conhecer não é viver, praticar, exercer, experimentar; para conhecer é suficiente estudar, ler, pesquisar, observar, refletir e concluir por agir desta e não daquela forma. A observação das consequências dos atos de outros, neles mesmos e em terceiros, nos dá uma boa medida para decidir se houve mal ou bem, dessa forma, é possível sempre agir no bem, sem ser necessário trilhar o caminho do mal.
Inclusive, reforçando esta última proposta, recorde-se São Luís em O evangelho segundo o Espiritismo3: Será repreensível observar as imperfeições dos outros, quando daí não resultem nenhum proveito para eles, mesmo que não as divulguemos?
“Tudo depende da intenção. Certamente não é proibido que se veja o mal, quando ele existe. Seria mesmo inconveniente ver em toda a parte somente o bem, pois essa ilusão prejudicaria o progresso. O erro consiste em fazer que essa observação redunde em prejuízo do próximo, desacreditando-o, sem necessidade, na opinião pública. Também seria repreensível fazê-lo apenas para dar expansão a um sentimento de malevolência e de satisfação em apanhar os outros em falta. Dá-se inteiramente o contrário quando, lançando um véu sobre o mal, para ocultá-lo do público, limitamo-nos a observá-lo para proveito pessoal, isto é, para nos exercitarmos em evitar o que reprovamos nos outros. [...]” (Negritamos)
Caso admitíssemos ter Deus nos criado simples e ignorantes e determinado que ao longo de nossa evolução só pudéssemos alcançar a condição de pureza espiritual praticando o bem e, de permeio, realizando atos maus, seria desesperador, teríamos que reconhecer que mais cedo ou mais tarde precisaríamos tirar a vida do semelhante para aprender que não devemos matar ninguém.
Podemos alinhar mais algumas referências para nos conscientizarmos de que jamais teremos que viver necessariamente o mal para alcançar o bem. Veja-se este outro registro do Sábio Gaulês4: 120. Todos os Espíritos passam pela fieira do mal para chegar ao bem? “Não pela fieira do mal, mas pela da ignorância.”
O Espírito ignorante é um livro em branco a ser preenchido de acordo com as condutas e atitudes do próprio ser pensante. No início de nossa evolução ainda no reino animal como princípio espiritual, não possuíamos tendências, nem para o mal, tampouco para o bem. Atingindo o reino hominal, e pouco a pouco conquistando a liberdade e o livre arbítrio, o próprio desenrolar da vida vai nos apresentando os caminhos, e, dentre as possíveis direções, tomamos aquelas mais agradáveis.
Nestas fases iniciais da jornada, Espíritos mais evoluídos já se apresentam como nossos protetores, a figura do anjo guardião já se faz presente quando ensaiamos os primeiros passos na trajetória à conquista da pureza espiritual; é a forma determinada por Deus para nos ajudar desde o caminhar de nossa infância espiritual: jamais nos encontramos sós ou abandonados.
Existem conselhos, intuições, sugestões mentais, por parte dos protetores, mesmo que sejamos ignorantes, de modo a já iniciar o aprendizado e consolidação do processo de escolhas a nos caracterizar no futuro através do exercício de nosso livre arbítrio. Se o Espírito, ainda na simplicidade de entendimento, faz opções pelo caminho do bem, desde este início, vai consolidando gradativamente um padrão de conduta que o acompanhará. Quanto mais opta pelo bom caminho, mais se fortalece e mais se torna apto a realizar apenas boas ações, e vice-versa.
É oportuno fazer outra reflexão sobre esta possibilidade em fazer o bem desde o início. Entendemos sejamos todos daqueles que optaram por avançar entre o bem e o mal absolutos. Diante de tal realidade, por qual razão não nos esforçarmos agora um pouco mais por fazer mais bem do que mal? Não é chegado o momento de nos alinharmos de preferência com as boas condutas?
Sobre esta luta interna travada diariamente para não cometer mais desvios aos postulados de Deus, pode-se lembrar de uma característica importante de nossa personalidade a ser sempre fortalecida: a vontade em praticar o bem!5
636. O bem e o mal são absolutos para todos os homens? “A lei de Deus é a mesma para todos; mas o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal é sempre o mal, seja qual for a posição do homem; a diferença está no grau da responsabilidade.” (Negritamos)
O posicionamento na vida apenas para a prática do bem não é fácil, sabemos, pois já temos gravadas em nosso caráter matrizes de más condutas e inclinações construídas no passado, entretanto, não é impossível iniciar um processo de superação, deixando gradativamente para trás os padrões da: vingança, inveja, ciúme, soberba, preguiça, entre outros traços de personalidade a nos caracterizar e incomodar, nos fazendo perder tempo e grandiosas oportunidades de aprendizado.
Quem sabe não é o momento de darmos o brado de libertação das atitudes contrárias às leis divinas? Já conhecemos bastante, a Doutrina aí está para nos ajudar e nortear nas escolhas. Além disso, temos a ajuda incansável de nossos guias espirituais: do que mais precisamos? O mundo de regeneração se apresenta, e se tornará uma realidade na razão direta de nossos esforços em agir apenas no bem. A hora é agora!
Referências:
1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. Comemorativa do Sesquicentenário. Brasília: FEB, 2007. Q.124.
2 ______, _____. Q. 634.
3 ______. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1 imp. Brasília: FEB, 2013. cap. 10, it. 20.
4 ______. O Livro dos espíritos. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. Comemorativa do Sesquicentenário. Brasília: FEB, 2007. Q.120.
5 ______, _____. Q.636.
Rogério Miguez
A lei das vidas sucessivas - Reencarnação ou Palingenesia - Palin = outra vez; Gênese = nascer - sempre foi conhecida e divulgada no seio da humanidade. A Doutrina dos Espíritos não a desvendou, tampouco inventou esta lei, pois esta é uma legítima representante de um dos eternos princípios de Deus.
Vários pensadores do passado, entre tantos: Pitágoras, Sócrates, Platão..., explicavam e defendiam a necessidade de se ter muitas vidas para viabilizar o desenvolvimento de todas as potencialidades do Espírito, a unicidade da existência não seria razoável, afirmavam, pois seria um fator determinante e impeditivo para atingir-se a evolução plena.
Como se comprova na vasta literatura espírita, bem como entre outras correntes do pensamento filosófico, tais quais: Hinduísmo, Rosa Cruz, Teosofia..., após o fenômeno da morte biológica do corpo, algo subsiste. A reencarnação significa o retorno desta porção remanescente, o Espírito, a personalidade individualizada, o ser pensante, em uma nova passagem pela matéria, em outro e novo corpo, por meio de um renascimento, via fecundação biológica, em outro tempo, com período de duração entre vidas muito variável.
Esta lei é fundamentalmente justa e misericordiosa, permitindo a todos nós, após a nossa criação na simplicidade e ignorância, ter tantas vidas quantas forem necessárias para alcançar a perfeição relativa a ser alcançada mais cedo ou mais tarde, esta uma das pouquíssimas fatalidades no conjunto de regras divinas.
Como muitos conceitos, este também sofreu o mau do entendimento equivocado, quando há bom tempo atrás imaginou-se por razões diversas que Espíritos chegados ao reino hominal, pudessem, sob certas condições, “reencarnar” em corpos animais e vegetais, e não somente em hominais. Esta seria em resumo a tese da Metempsicose: Meta – além de; Psique – alma.
Esta outra visão da doutrina da reencarnação caminhou pelos tempos afora, e ainda faz adeptos e seguidores em pleno século XXI. Sendo esta possibilidade real, esclarece a Doutrina, representaria um retrocesso na marcha ascensional do Espírito, conforme se depreende de1:
612. Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem? “Isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente.” (Negritamos.)
613. Embora de todo errônea a ideia ligada à metempsicose não terá resultado do sentimento intuitivo que o homem possui de suas diferentes existências? “Nessa, como em muitas outras crenças, se depara esse sentimento intuitivo. O homem, porém, o desnaturou, como costuma fazer com a maioria de suas ideias intuitivas.”
A possibilidade de um Espírito ocupar um corpo animal, após haver passado por esta fase em sua jornada evolutiva ainda como princípio espiritual, não se coaduna com a proposta divina de evoluir continuamente sem retrocessos. Parece-nos evidente do ponto de vista do Espiritismo, pois, como bem registra a resposta à primeira questão, “o rio não remonta à sua nascente”, em outras palavras, se já fomos animais, não o seremos mais, enquanto, na segunda pergunta, Allan Kardec inicia o texto enfatizando: “Embora de todo errônea...”.
Há, na diversificada literatura espírita, pelo menos duas boas explicações de onde e como nasceu a crença na Metempsicose:
1. Pode-se encontrar no livro A Caminho da Luz2, ditado por Emmanuel, elucidativa explicação sobre os antigos Egípcios, povo exilado de Capela, terem aceitado perfeitamente a reencarnação como uma possibilidade concreta para alcançar a evolução programada por Deus, contudo, tinham o sentimento, ou mesmo intuição, de haverem sido “punidos”, pois existia um sentimento coletivo de perda do paraíso, a sua amada Capela, assim, elaboraram uma teoria segundo a qual, se falhassem novamente na observação das leis divinas, a ponto de serem mais uma vez degredados para uma condição inferior àquela submetida no planeta Terra de então, só lhes restaria, como “punição” última, reencarnarem em animais! Ajuizaram: o que poderia haver de pior do que conviver com a humanidade daquela época, com pessoas de hábitos rudes e brutos, sem o mínimo verniz de civilização?
2. Outra razão pode ser encontrada em Estudos Espíritas3, onde Joanna de Ângelis explicou existir, também no Egito antigo, o entendimento claro das imensas possibilidades no uso das faculdades mediúnicas, pelo menos entre os iniciados, ou ocupantes das posições mais altas na hierarquia egípcia. É possível, sob certas condições obsessivas, um Espírito ter o seu perispírito deformado, por exemplo, sob sugestão hipnótica. Não é incomum obsessores influenciarem sua vítima a acreditar ser um animal, desta forma, via dominação telepática continuada, o Espírito sob sujeição pode ter o seu invólucro semimaterial modificado da forma humanoide para um formato animalesco. Os pouco versados nos princípios divinos acreditaram assim estarem diante de um Espírito oriundo de uma encarnação anterior em corpo animal, agindo, portanto, tal qual um antigo integrante do reino dos irracionais. Muitos participantes regulares em reuniões de desobsessão na atualidade já podem ter observado aproximações de Espíritos desencarnados agindo e emitindo sons como animais, a conhecida zoantropia, a título de exemplo: morcegos, macacos, lobos..., entre outros.
Disseminada entre o povo, a crença na metempsicose se espalhou, atemorizando todos aqueles com as suas consciências culpadas devido a possíveis continuados delitos contra as leis eternas, a tese também serviu como freio a futuros deslizes.
Observa-se a grande diferença existente entre estas duas teorias. Uma é progressista, incentiva a melhora do Espírito tanto no aspecto intelectual, bem como no moral, não prevê retrocessos, enquanto a outra, sinaliza a possibilidade da punição obrigando o Espírito chegado ao reino hominal voltar aos reinos inferiores dos vegetais ou animais, para refazer etapas de aprendizado já plenamente superadas.
Imaginemos gênios da ciência, virtuosos artistas, pensadores, reencarnando em um vegetal! Como poderiam expressar os conhecimentos e habilidades construídas por muitas vidas, a custa de continuado esforço, situação esta provocada por uma falha moral, uma grave desatenção aos conceitos divinos?
Em A Gênese4, o Espírito Galileu, assim se expressou em relação à evolução do princípio espiritual:
“O Espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização.” (Médium Camille Flammarion. ) (Negritamos.)
Os renascimentos sucessivos serão necessários enquanto o Espírito não alcançar um patamar de evolução tal, não o obrigando a de novo reencarnar para experimentar provas e expiações, este só voltará a ocupar um corpo de carne, após alcançar a plenitude da evolução, como missionário em prol da humanidade, tal qual fez Jesus, há dois mil anos atrás, e talvez em outras ocasiões como sugerido por Carlos Torres Pastorino5. Assim, não nos preocupemos, pois, o ciclo de reencarnações terá fim, e este fim chegará tão mais depressa quanto forem os nossos esforços em aprender e principalmente praticar na totalidade os postulados de Deus.
É interessante destacar a bondade de Deus ao nos facultar inúmeras vidas, entretanto, esta dádiva não deve servir de motivo para deixarmos para depois o que podemos e devemos fazer agora, porquanto as oportunidades do momento atual mudam. Hoje a nossa vida se apresenta de uma maneira, em outra existência será modificada certamente, então, se presentemente temos tempo, facilidades materiais, entre outros “talentos”, nos empenhemos hoje por adquirir conhecimentos doutrinários indispensáveis e fundamentais para promover a nossa melhora moral e intelectual. Estudemos agora o Espiritismo, de preferência e prioritariamente as Obras Fundamentais escritas por Allan Kardec. Não deixemos para amanhã.
Referências:
1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014. qs. 612 e 613.
2 XAVIER, Francisco C. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1987. caps. III e IV.
3 Franco, Divaldo P. Estudos espíritas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB Editora, 1982. cap. 8.
4 Kardec, Allan. A Gênese. Trad. Guillon Ribeiro. 53. ed. 1. imp. (Edição Histórica) Brasília: FEB, 2103. Capítulo VI – Uranografia Geral - A criação universal – item 19.
5 PASTORINO, Carlos T. Sabedoria do Evangelho. Rio de Janeiro: Revista Mensal Sabedoria, 1964. v. 5. Cego de nascença, pág. 80.
Rogério Miguez
Resumo
A misericórdia divina colocou à disposição de todos os seus filhos um sábio mecanismo, permitindo o intercâmbio entre os dois planos da vida – o material e o etéreo: a mediunidade. Devido a incompreensões no trato com esta faculdade, ocorrem inúmeras dificuldades no trabalho mediúnico. Pretende-se, com este texto, alinhar algumas informações[1] básicas sobre estas intercorrências e, ao mesmo tempo, sugerir providências para manter o fenômeno sob controle das forças criadoras e positivas.
Palavras-chave
Mediunidade; médium; obsessão; pensamento; mistificação.
*
A faculdade mediúnica foi criada por Deus para facilitar a interação entre os Espíritos, segundo diversas modalidades, estejam encarnados ou desencarnados, ou seja, entre encarnados, entre desencarnados, entre encarnado e desencarnado (a mais conhecida) e vice-versa.
Por meio destas interações, quando encarnados, os Espíritos podem ainda se certificar sobre a imortalidade de si mesmos, abrindo um entendimento sobre a Criação e o Criador muito[1] mais amplo e alentador do que aquele conferido pelas propostas materialistas.
Fenômenos mediúnicos podem eclodir a qualquer tempo e local, e sempre estiveram presentes ao longo do processo evolutivo dos Espíritos.
Há duas possibilidades desta faculdade se manifestar quando encarnados: natural, função da evolução moral do Espírito, facilitando as percepções do mundo invisível, acentuando-se à medida que o portador avança em seu nível evolutivo e, de forma provocada, por meio de certas providências tomadas antes de o Espírito reencarnar, sendo esta última também conhecida como mediunidade de prova.
Na maioria esmagadora dos casos, a mediunidade é oferecida como uma ferramenta de redenção, pois:
Os médiuns, em sua generalidade, não são missionários na acepção comum do termo; são almas que fracassaram desastradamente, que contrariaram, sobremaneira, o curso das Leis Divinas, e que resgatam, sob o peso de severos compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado obscuro e delituoso. O seu pretérito, muitas vezes, se encontra enodoado de graves deslizes e de erros clamorosos. Quase sempre, são Espíritos que tombaram dos cumes sociais, pelos abusos do poder, da autoridade, da fortuna e da inteligência, e que regressam ao orbe terráqueo para se sacrificarem em favor do grande número de almas que desviaram das sendas luminosas da fé, da caridade e da virtude. [...].1
Sendo assim, o Espírito endividado com as Leis Divinas e desejoso de rapidamente quitar estas pendências morais, necessita empregar este chamado dom, com eficiência, na promoção de sua própria evolução e daqueles que o cercam, seja no ambiente familiar, no trabalho, na religião ou em sociedade.
É oportuno esclarecer que este assim chamado dom não é uma dádiva graciosa ofereci[1]da por Deus, função de alguma proteção ou privilégio a este e não àquele Espírito, conforme muitos assim o creem. A menção a este dom, nos textos espíritas, e mesmo nos Evangelhos, não traduz uma graça recebida de um santo ou alguma entidade espiritual; é, antes, uma séria oportunidade de serviço, previa[1]mente acordada entre as partes – o interessado e os responsáveis pela sua reencarnação –, que a maioria, infelizmente, não consegue honrar, embora tenham feito promessas de que se fossem médiuns trabalhariam em prol da Humanidade.
São várias as razões impedindo que o médium bem se desincumba de sua missão, podendo ser divididas em duas grandes classes – exógenas e endógenas.
Exógenas
• Os pensamentos se propagam como ondas possuindo qualidades boas ou más. Como o médium é mero receptor de pensamentos e de forças psíquicas alheias, se durante a reunião à qual se vincula houver participantes inadequadamente preparados, estes podem acabar influenciando o teor das comunicações de forma negativa. Esta é uma das razões da impropriedade na participação de pessoas estranhas ao grupo mediúnico que, quando convidadas e curiosas diante do fenômeno, podem se assustar, descrer, entre outras tantas inadequadas condutas, emitindo fluidos em desequilíbrio, perturbando, por conta do pensamento em desalinho, a ambiência da reunião.
• A atual condição da Terra, com seus quase oito bilhões de almas e, segundo informam, outros trinta bilhões de Espíritos desencarnados gravitando em torno do planeta, com ampla maioria formada de entidades necessitando de delicados resgates e ainda de muitas provas, cria uma atmosfera fluídica pouco favorável a qualquer atividade voltada ao bem, influenciando, particular[1]mente, de modo negativo, aquelas de intercâmbio mediúnico.
• Diante de tal fato, há necessidade imperiosa de apresentar-se bem-organizada espiritualmente a Casa em que milita o médium, de modo a se opor à avalanche de fluidos deletérios gerados constantemente por mentes indisciplinadas, tais quais as que caracterizam este orbe. Uma Casa com discórdias internas, diferenças pessoais entre os dirigentes, sem programas de estudos sérios, conduzidos por instrutores inexperientes e mal capacitados, pouco ajuda as atividades na Área da Mediunidade, podendo mesmo prejudicá-las.
• Esta ínfima parte da Humanidade universal se encontra altamente endividada com as leis eternas. Além disso, aqui não se encontram, em sua maioria, almas nobres e elevadas, de modo que o número de obsessores que pululam na atmosfera terrena é elevadíssimo, alguns deles particulares obsessores do médium, enquanto outros, de ocasião, aproveitam-se de brechas morais e éticas, tanto do médium como de qualquer participante do grupo mediúnico, conta[1]minando negativamente o teor dos fenômenos.
• Além dos obsessores propriamente ditos, que mais não desejam do que criar toda a sorte de grosseiros embaraços ao médium, ou mesmo ao grupo, existe a possibilidade da interferência mistificadora, mais sutil, discreta, outro capítulo de trato delicado aos que se apresentam para intermediar o intercâmbio entre o lado de lá e o de cá. Estudo sério, modéstia e humildade serão elementos válidos para tentar controlar a incidência destas indesejadas influências.
Endógenas
• Os pensamentos e esta[1]do de ânimo do médium influenciam diretamente o teor da mensagem veiculada; se em desalinho, dificultam a sintonia com o agente exterior – o Espírito comunicante. Por esta razão, há que haver preparo, principalmente durante o dia da reunião, a fim de se evitar discussões, debates acalorados, excessiva preocupação com questões materiais, distúrbios emocionais de monta, entre outras situações que o médium poderá levar ao ambiente mediúnico, provocando interferência na comunicação.
• Algumas virtudes importantes de serem cultivadas por todos os Espíritos vinculados a um mundo de provas e expiações, para o médium, se revestem de especial atenção: disciplina, paciência, abnegação, renúncia, vigilância, capacidade de se sacrificar em prol dos outros etc. Ninguém se impressiona[1]rá com estas informações, pois nenhum médium está desavisado de sua tarefa mediúnica, uma vez que, bem antes de aqui voltar, o candidato ao exercício do mediunato foi preparado e muito bem instruído por Espíritos capazes e bem orientados nestes processos reencarnatórios, bem como devidamente esclarecido pelo seu guia espiritual sobre os percalços que enfrentaria.
• A formação do trabalha[1]dor deverá sempre estar lastreada nas obras de Allan Kardec, principalmente em O livro dos médiuns. Literatura subsidiária de autores consagrados, desencarnados ou não, deverá também fazer parte da base doutrinária do médium, sob pena de, mal desenvolvida a faculdade e mal-educado o médium, sem bons fundamentos espíritas, facilmente poderá ocorrer o desvirtuamento do trabalho, abrindo portas para a instalação de graves situações. O médium se empenhará em manter boas imagens na sua atmosfera psíquica, um bom reservatório de palavras e ideias salutares, hauridas na boa literatura, na reta conduta, facilitando a construção da comunicação.
• Na defesa de si mesmo, o médium reservará, diariamente, alguns minutos para a oração sincera, pro[1]vidência que o auxiliará em inúmeras dificuldades geradas pelos fatores mencionados anteriormente e o defenderá do assédio de Espíritos desorientados que desejem usar seus dotes mediúnicos para suas manifestações grosseiras e desalinhadas com os princípios morais.
• Há também os transborda[1]mentos de personalidades anteriores, construídas em existências passadas, que podem exteriorizar-se dos arquivos perispirituais, do subconsciente do médium, quando em transe, misturando-se às mensagens e interferindo indevidamente no seu conteúdo. Oração e vigilância serão sempre medidas eficazes para tentar controlar estas interferências.
Além destes esclarecimentos doutrinários, todo o material recebido do Além, em princípio, se direciona ao próprio receptor da mensagem, seja por qual meio for escrito, falado, ouvido ou visto. Instruções, recomendações, possíveis advertências ou palavras de incentivo, oriundas do Espaço, se aplicam em primeiro lugar ao trabalhador-médium. Caso ele assim proceda, ou seja, tentando aplicar, sempre que possível, a si mesmo o que capta dos Espíritos, ficará cada vez mais preparado e fortalecerá sua fé, corrigindo falhas e discrepâncias doutrinárias em conduta mediúnica nos futuros encontros.
Se o médium observar em seu cotidiano estas despretensiosas sugestões, terá real possibilidade de, ao término da jornada, apresentar-se como mais um Espírito cumpridor de sua missão, sem ter de que se envergonhar ou lamentar, podendo olhar sem receio seu guia espiritual, que o acompanhou durante seus desafios na prática mediúnica e que o esta[1]rá certamente aguardando para recebê-lo com alegria e júbilo, já que seu protegido soube aproveitar a ferramenta mediunidade na construção de um mundo melhor, para si mesmo e para o próximo.
REFERÊNCIA:
1 XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 9. imp. Brasília, DF: FEB, 2020. 1a pt., cap. 11 – Mensagem aos médiuns, it. 11.2.
Rogério Miguez
Comentário
Saudações Rogério,
grata por esses ensinamentos! São muito bons e nos enriquece o conhecimento! Gratidão 🙏
Kátia Teixeira