Éder Andrade
Expositor e articulista de periódicos espíritas.
Rio de Janeiro/RJ
Expositor e articulista de periódicos espíritas.
Rio de Janeiro/RJ
22 - As Viagens de Paulo pelo Mediterrâneo (17/03/2025)
Quando Saulo de Tarso foi até Jerusalém, após sua conversão na estrada de Damasco, procurou Pedro para conversar e pegou uma cópia dos manuscritos de Levi (Mateus), pois era um dos poucos que sabia ler e escrever, já que tinha sido coletor de impostos.
Saulo percebeu que o conhecimento moral dos ensinos de Jesus não poderia ficar restrito à religião judaica, deveria ser propagado a outros povos. De posse desses manuscritos, Saulo se isolou no deserto em meditação durante um tempo e quando retornou decidiu pregar por conta própria aquele ensinamento. (1)
Saulo era de uma família de posses e tinha sido educado para ser sumo sacerdote. Era um homem muito culto, dotado de um intelecto incomum. Falava latim, grego, hebraico e aramaico e dessa forma não tinha dificuldades em se comunicar no Oriente Médio com as pessoas que cruzassem seu caminho. Cada viagem realizada levava vários anos, pois ele ia e voltava às cidades de acordo com a necessidade.
Realizou ao longo da sua peregrinação quatro longas viagens para divulgação do Evangelho, onde sempre encontrou grandes dificuldades, porém graças à sua perseverança, temos hoje acesso aos ensinamentos do Cristo.
Seguindo o exemplo de Pedro, que fundou a Casa do Caminho, procurava por onde passava fundar uma igreja cristã primitiva e uma comunidade local, onde os cristãos poderiam se encontrar para orar e trocar ideias. Dessa forma, Saulo às vezes preferia fazer longas caminhadas pelas estradas do Oriente Médio do que fazer uma viagem costeira de barco pelo mar Egeu, que seria mais rápida e menos cansativa. (1)
Pelo fato de Saulo ser cidadão romano, tinha uma grande facilidade de acesso aos lugares, sendo seu principal objetivo a conversão dos gentios. As viagens foram estratégicas, pois ele buscava percorrer as principais rotas de importantes entrepostos comerciais, para facilitar a divulgação do Cristianismo. Saulo era inspirado pelo espírito de Estêvão, que procurava orientá-lo no processo de divulgação nas regiões mais acessíveis e receptivas ao conhecimento do Evangelho.
Durante suas viagens muitas coisas aconteceram, foi perseguido, ameaçado de apedrejamento e humilhado publicamente, mas isso não o esmoreceu. Devido a boa recepção dos povos pagãos, começou a usar seu nome grego Paulo, de preferência ao nome judaico Saulo.
Na primeira viagem realizada, foi de Jerusalém até Salamina na ilha de Chipre, onde realizou pregações. O êxito de seus esforços missionários nessa ilha, incentivaram Paulo a avançar para situações mais audaciosas.
Ele tinha um grande poder de oratória e conseguia devido a sua habilidade e conhecimento converter, tanto os pagãos, quanto os judeus. Discursava para pessoas simples, como também políticos e pessoas influentes, como foi o caso do procônsul Sérgio Paulo que estava interessado em ouvir sua pregação, ficando maravilhado com a doutrina do Senhor, em Pafos, cidade na ilha de Chipre. (1)
Já na segunda viagem, percorreu um longo trecho até Trôade, na Ásia Menor, onde teve uma visão de um homem pedindo ajuda e pelo tipo de vestimenta que esse homem usava, deduziu ser da Macedônia. Ele pedia que Paulo fosse até lá, levar o Evangelho para os necessitados.
Pelos lugares onde passava e realizava sua pregação, procurava organizar uma congregação para não deixar seus convertidos desorganizados e sem uma liderança. Por esse motivo estava sempre viajando e nunca permanecia muito tempo em um local só. Desejava dar atenção às igrejas e às comunidades por ele fundadas.
Paulo libertou uma médium da influência de um espírito que a obrigava a praticar a adivinhação e esse fato revoltou aqueles que se beneficiavam das consultas mediúnicas, provavelmente pagas. Paulo foi preso e levado à presença de magistrados, sob a alegação de estar perturbando a ordem imposta pelos romanos.
Na terceira viagem em Éfeso, na Grécia, acabou fazendo também inimigos, por interesses econômicos em alguns importantes centros comerciais e religiosos, como o célebre santuário de Ártemis (Diana), onde ocorreu um motim, realizado pelos ourives e negociantes devocionais. A presença de Paulo desviava a atenção do comércio local para suas pregações. Acabou sendo obrigado a abandonar a cidade.
Ao retornar a Jerusalém foi preso e apelou ao governador para ser submetido ao Julgamento de César em Roma, uma vez que ele era cidadão romano. Dessa forma, realizaria o início da sua última viagem encerrando uma longa trajetória missionária em Roma.
Segundo Emmanuel, no Livro Paulo e Estêvão, Paulo ao ser libertado em Roma, aproveitou para ir até a Espanha falar do Evangelho, sabendo que Pedro estaria em Roma e o substituiria com vantagens.
Quando voltou para Roma, foi preso novamente. No final da sua vida enviou cartas às comunidades por ele fundadas e morreu como mártir do Cristianismo. A firmeza da sua fé e a convicção irredutível no amor ao Cristo são grandiosas, envolvendo Tigilino, seu carrasco, que, trêmulo, lamenta ter que decapitá-lo. (1)
Paulo foi responsável pela propagação do Cristianismo no lado oriental e ocidental do Império Romano, despertando o interesse tanto dos pagãos, como de pessoas influentes no Evangelho do Cristo, além de ser perseguido não só por motivos religiosos, mas por interferir no comércio local dos judeus e romanos.
No retorno de Paulo ao plano espiritual, reencontra antigos companheiros de jornada, como Ananias e Gamaliel, e nos conta Emmanuel no livro Paulo e Estêvão, psicografado por Chico Xavier, a surpresa reservada para Paulo quando notou:
[...] O Mestre estava no centro, conservando Estêvão à direita e Abigail ao lado do coração. Deslumbrado, arrebatado, o Apóstolo apenas pôde estender os braços, porque a voz lhe fugia no auge da comoção.
[...] O Mestre sorriu, indulgente e carinhoso e falou:
— Sim, Paulo, sê feliz! Vem, agora, a meus braços, pois é da vontade de meu Pai que os verdugos e os mártires se reúnam, para sempre, no meu reino! (2)
Referências:
1) Moura, Maria Antunes de Oliveira de (Organizadora); EADE - Livro 1- Mod. II: Rot.12 - Conversão e missão de Paulo de Tarso; Rot. 13 - As viagens Missionárias de Paulo de Tarso; FEB.
2) Xavier, Francisco Cândido; Paulo e Estêvão; 2a parte - Cap.10: Ao encontro do Mestre; FEB.
3) FEB-TV (Biografias).
Obs.: Artigo revisado e resumido para o Site da CEIP. Foi publicado pela
Revista o Consolador do Paraná em 29 de outubro de 2023.
Éder Andrade
21 - Herculano Pires (03/02/2025)
José Herculano Pires nasceu na cidade de Avaré, no Estado de São Paulo, em 25 de setembro de 1914. Filho do farmacêutico José Pires Correia e da pianista Bonina Amaral Simonetti Pires e revelou sua vocação literária desde que começou a escrever.
Em dezembro de 1938, Herculano (com 24 anos) casou-se com Maria Virgínia Ferraz Pires, evangelizadora infantil do Centro onde ele realizou sua primeira conferência espírita. O casal se mudou para o município de Cerqueira César e, em 1940, transferiram-se para Marília, onde ele adquiriu o jornal Diário Paulista e o dirigiu durante seis anos.
Em 1946, mudou-se para São Paulo (capital) e lançou seu primeiro romance, "O Caminho do Meio", que mereceu críticas elogiosas de Afonso Schmidt, Geraldo Vieira e Wilson Martins.
Foi repórter, redator, secretário, cronista parlamentar e crítico literário dos Diários Associados. Herculano Pires exerceu essas funções na Rua 7 de Abril por cerca de trinta anos. Foi autor de 81 livros de Filosofia, Ensaios, História, Psicologia, Pedagogia, Parapsicologia, Romances e Espiritismo.
Lançou a série de ensaios Pensamento da Era Cósmica e a de romances e novelas de Ficção Científica Paranormal. Alegava sofrer de “grafomania”, escrevendo compulsivamente noite e dia.
Espírita desde os 22 anos de idade, Herculano Pires não poupou esforços na divulgação falada e escrita da Doutrina Codificada por Allan Kardec, tarefa essa a que dedicou a maior parte da sua vida.
Chico Xavier recebeu a revelação:
Emmanuel falou, através de Chico, que Herculano foi o metro que melhor mediu Kardec. Disse, também, que ele era a maior inteligência espírita contemporânea.
Durante 20 anos, manteve uma coluna diária sobre Espiritismo nos Diários Associados como pseudônimo de "Irmão Saulo". Durante quatro anos, manteve no mesmo jornal uma coluna em parceria com Chico Xavier sob o título "Chico Xavier pede licença".
Em parceria com o médium mineiro, escreveu diversos livros espíritas inteiramente dedicados ao estudo e divulgação da Doutrina, como, Chico Xavier pede Licença e Astronautas do Além.
Em 1954, publicou Barrabás, que recebeu um prêmio do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo, constituindo o primeiro volume da Trilogia Caminhos do Espírito. Em 1970, Ano Internacional da Educação, Herculano Pires percebeu um momento propício para tratar mais diretamente da Pedagogia Espírita. Escreveu ele: "Os cristãos primitivos tiveram de lutar contra a educação pagã para implantar no mundo a Educação Cristã. Agora é a hora dos espíritas, numa batalha muito mais suave, mas que deve ser tão pertinaz como aquela."
Levou a proposta a Frederico Giannini, proprietário da Editora Edicel, que concordou em produzir e divulgar a Revista Educação Espírita, lançada em 28 de dezembro daquele ano. Diante das dificuldades encontradas durante as publicações, mas movido por um propósito maior, Herculano produziu um total de seis edições da publicação.
Junto com sua fiel companheira, Dona Maria Virgínia, e amigos mais próximos, Herculano fundou no começo dos anos 1970 o Grupo Espírita Cairbar Schutel, cujas primeiras reuniões se deram na garagem de sua própria residência, organizando as sessões de tal modo a consagrar o estudo e a reflexão da mensagem espírita, bem como a prática mediúnica, especialmente voltada para os espíritos necessitados de atendimento fraterno.
Entre 1971 e 1974, a convite do proprietário da Rádio Mulher de São Paulo Roberto Montoro, apresentou e comandou o programa semanal “No Limiar do Amanhã” cuja proposta era tratar do Espiritismo em todos os seus aspectos, sem restrição, e responder a qualquer pergunta dos ouvintes. Sob a direção do Grupo Espírita Cairbar Schutel, em dezembro de 1974, lançou o jornal Mensagem.
Traduziu cuidadosamente as obras da Codificação Kardequiana enriquecendo-as com notas explicativas nos rodapés. Nesse mesmo ano, em parceria com Irani Ribeiro, ajudou na organização dos roteiros da telenovela A Viagem exibida pela extinta TV Tupi.
Herculano Pires infartou em 9 de março de 1979, desencarnando na capital paulista. Deixou vários artigos e textos originais que foram publicados na Revista Espírita, os quais vêm sendo divulgados atualmente pela Editora Paideia.
Na casa em que Maria Virgínia e Herculano Pires residiam de 1949 a 1979 foi criada a Fundação Maria Virgínia e José Herculano Pires, uma instituição sem fins lucrativos, ligada à memória de Herculano Pires e à sua esposa Maria Virgínia Ferraz Pires, grandes defensores e divulgadores da Doutrina Espírita.
A Fundação tem como objetivo conservar, recolher material e divulgar o acervo de Herculano Pires, sua obra poética, literária, filosófica e doutrinária. Visa, através da conservação e disponibilização de livros, artigos, crônicas, gravações, palestras, iconografia etc., dar continuidade à divulgação da Doutrina Espírita, da qual foi um grande divulgador, por meio da tradução e comentários das obras de Allan Kardec.
Recentemente a Fundação passou a administrar e conservar também, o acervo dos escritores Júlio Abreu Filho e Jorge Rizzini, divulgadores espíritas que estiveram sempre próximos a Herculano Pires.
A Fundação também apoia iniciativas de divulgação das obras de Herculano Pires e Allan Kardec em feiras, congressos, palestras, cursos e debates, além de disponibilizar bolsas de estudos para pesquisas e teses de mestrados sobre Herculano Pires e Allan Kardec.
Atualmente, tanto a Fundação quanto a Editora Paideia funcionam no mesmo prédio do Grupo Espírita Cairbar Schutel, fundado por Herculano, Maria Virgínia e amigos na Vila Mariana, município de São Paulo.
Referências de consulta
a) Texto utilizado e adaptado da União Espírita Mineira (UEM).
b) Rizzini, Jorge; J. Herculano Pires: O Apóstolo de Kardec. Ed. Paideia.
c) Aleixo, Sergio; O metro que melhor mediu Kardec; Ed. Paideia.
d) Fundação Maria Virgínia e Herculano Pires (Rua Dr. Pinto Ferraz nº70 – S.P.)
Obs.: Artigo revisado e resumido para o Site da CEIP. Foi publicado
pelo Jornal o Consolador de Copacabana na edição nº Ed. 55/2024.
Éder Andrade
20 - Animismo e Espiritismo (15/01/2025)
Existe uma grande dúvida que paira sobre as comunicações mediúnicas ocorridas nas casas espíritas, até que ponto uma determinada comunicação é de fato realizada por um espírito desencarnado e não produzida pela mente do médium? Dessa forma, muitos estudiosos desenvolveram pesquisas para mostrar a possível influência dos médiuns nas comunicações mediúnicas de forma inconsciente, tanto pela psicografia, como pela psicofonia.
Allan Kardec no “Livro dos Médiuns”(1), que completa agora em 15 de janeiro de 2025, 164 anos de lançamento, nos mostra o “Papel dos Médiuns nas comunicações espíritas”, explicando um conjunto de fatores que podem levar a ocorrer um fenômeno que chamamos de Animismo (do termo latino animus, alma ou vida) e que pode influenciar na autenticidade da comunicação mediúnica.
Segundo Allan Kardec o médium em estado sonambúlico permite ao “espírito a posse plena de si mesmo”, favorecendo uma comunicação onde o próprio espírito, acessando uma lembrança de uma vida passada, em um clichê mental, promove um download de uma antiga situação por ele vivenciada e por alguma razão difícil de ter sido superada. Em uma manifestação mediúnica, pode ocorrer um fenômeno anímico, levando o médium a dar comunicação de um das suas vidas passadas. Esse fenômeno não é mistificação.
A mistificação ou encenação é quando um médium finge receber uma entidade ou comunicação com objetivo de conseguir algum tipo de vantagem ou favor de alguém ou de algum grupo. Isso ocorre de forma intencional. No animismo não. O médium entra em transe e acessa seu inconsciente profundo, trazendo à tona uma lembrança sua, sem ter consciência de que está fazendo isso, até que o dirigente da reunião de desenvolvimento mediúnico converse com ele e explique o que está acontecendo.
As manifestações anímicas apresentam um padrão de repetição e tem uma semelhança com a personalidade do médium em questão. Enquanto que as manifestações espirituais refletem as diferentes situações que os desencarnados estão vivendo e suas tentativas de encontrar ajuda e esclarecimento. Em alguns casos refletem com precisão a personalidade do espírito comunicante, exigindo do médium, atitude de controle e educação mediúnica.
A diversidade de situações podem nos confundir e para conseguir uma orientação adequada, o dirigente mediúnico deve estudar, assim como o médium, estudar e se conhecer melhor, até para perceber que a manifestação anímica vem do seu mundo íntimo, de dentro do seu ser e não uma intuição ou influência externa forte, de maneira a ter que exteriorizá-la.
Como existem vários tipos de mediunidade, apenas com o tempo e a prática é possível aprimorar a comunicação dos espíritos. Temos como grande exemplo Chico Xavier que era possuidor de quase todos os tipos de mediunidade que conhecemos e ao longo do tempo aperfeiçoou sua capacidade de comunicação de psicografia e psicofonia, ganhando de todos o reconhecimento e confiabilidade.
No final do século XIX, muitos céticos de projeção social e científica na Europa, passaram a questionar a veracidade das comunicações, onde até que ponto não eram produzidas pela mente dos médiuns. Entre eles podemos destacar o Barão Karl Robert Eduard von Hartmann, que contestava as manifestações espíritas com base na ação da “mente inconsciente”, segundo sua obra “Filosofia do Inconsciente”.
Nesse momento histórico, na última década do século XIX, um pesquisador dos fenômenos espíritas escreveu uma interessante obra em resposta às ideias anti-espíritas de Von Hartmann. Graças a análise meticulosa e imparcial dos inúmeros casos expostos na obra “Animismo e Espiritismo” (2) por Alexandre Aksakof (foto), revela um valioso instrumento de entendimento para nos ajudar a perceber e distinguir a diferença entre os fenômenos anímicos, produzidos pelo encarnado e os fenômenos espirituais, produzidos pelo desencarnado.
Pelo acesso ao conhecimento atual e as fontes de estudo que existem, já podemos ter parâmetros de avaliação e análise das obras, assim como de comunicações mediúnicas muito frequentes não apenas no nosso país como no estrangeiro.
Nossa diretriz de estudo são as Obras Básicas, a Codificação de Kardec e as Obras Secundárias que a FEB avalia e passa em um crivo doutrinário minucioso e responsável para não sermos reféns de mistificações de aproveitadores, da mesma forma que Alexandre Aksakof nos legou essa magnífica obra(2).
Referências:
1) Kardec, Allan; O Livro dos Médiuns; 2ª Parte – Cap. XIX - Do papel dos médiuns nas comunicações espíritas; FEB.
2) Aksakof, Alexandre; Animismo e Espiritismo; FEB.
3) Wikipédia (Enciclopédia livre).
Obs.: Artigo revisado e resumido para o Site da CEIP. Foi publicado pela
Revista o Consolador do Paraná em 10 de outubro de 2022.
Éder Andrade
19 - Amargo despertar (04/12/2024)
Segundo Carl Jung: "não há despertar da consciência sem dor". Existe uma visão psiquiátrica que aponta como inevitável para o ser humano a dor do despertar da sua consciência. Ao amadurecer moralmente a ponto de perceber que em um momento passado teve atitudes equivocadas e nem saber explicar porque fez, mas fez.
Existem casos em que o próprio indivíduo não se reconhece como responsável pelos seus atos, pois não tem consciência de que estava fazendo algo realmente errado, chegando até mesmo, duvidar da veracidade das cobranças. O sentimento de culpa que ele será portador, só vai se deflagrar no momento em que ele se deparar com a atitude, que cometeu em um passado distante.
Podemos ver isso no livro "Memórias de um Suicida", psicografado por dona Yvonne Pereira e ditado pelo espírito Camilo Cândido Botelho, onde ele conta a experiência que teve no Hospital Maria de Nazaré, quando realizou uma regressão de memória e se viu em duas encarnações passadas, onde fazia coisas que, não acreditava que um dia teria agido daquela forma, mas era ele mesmo que fazia. 1
Curiosamente foram duas situações completamente diferentes que ocorreram, porém ambas tinham um ponto em comum, a falta de bom senso por parte do indivíduo que devido a posição que se encontrava, se achou no direito de fazer o que bem entendia, se aproveitando da posição social que tinha.
Provavelmente essa situação seja mais comum do que imaginamos em nossas vidas. No livro "Entre a Terra e o Céu", psicografado por Chico Xavier e ditado pelo Espírito André Luiz, temos uma trama intrincada que teve seu início na Guerra do Paraguai e o seu desfecho na primeira metade do século XX, nos subúrbios da cidade do Rio de Janeiro.
A Lei de Ação e Reação vai atuar reunindo em uma nova encarnação os mesmos personagens do passado, para em uma nova convivência, conseguirem se harmonizar uns com os outros, de acordo com a Lei de Deus. Reparando as faltas cometidas através de atitudes equilibradas e do exercício da prática do perdão e amor ao próximo. 2
Curiosamente o conhecimento que recebemos do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, serve como um alerta para determinadas atitudes que nossa sociedade ainda banaliza. Os espíritos mais amadurecidos moralmente percebem claramente que nem tudo que é lícito convém fazer ou tirar proveito. Dessa forma evita-se envolver e se comprometer desnecessariamente. Sabemos que a Terra é um Planeta de Provas e Expiações, mas isso não pode ser usado para justificar nossos erros ou equívocos, assim como certas recaídas.
O Livre Arbítrio é relativamente proporcional à nossa evolução moral e somos muito influenciados pela cultura da geração que vivemos. Dessa forma banalizar ou usar como desculpa que somos espíritos atrasados para explicar certos erros que ainda cometemos, não é aceitável, levando em conta o nível de informação que já temos acesso em pleno século XXI, onde um smartphone é uma ferramenta de busca do conhecimento, se bem utilizado e explorado.
Camilo Cândido Botelho deixa claro que ele sabia o que estava fazendo, a ponto de tramar suas atitudes em uma das encarnações como membro da Inquisição. O desconforto que sentiu após rever suas escolhas na encarnação que ocorreu na Espanha, levou ele a ser amparado pelos atendentes do hospital e levado à enfermaria para receber um tratamento de passes magnéticos revigorantes.
O psiquiatra Jorge Andréa explica em muitas das suas obras, que reside nos escaninhos do inconsciente profundo do ser, lembranças armazenadas das nossas atitudes. Elas vão sendo liberadas para o nosso consciente na proporção que vamos amadurecendo moralmente para saber como lidar com as escolhas que um dia fizemos e que hoje nos envergonham, diante da nossa consciência como espíritos imortais.
Infelizmente somos obrigados a reconhecer que existe uma banalização de comportamentos doentios na nossa sociedade, onde a manutenção é feita pela nossa afinidade mórbida, que não percebe quando estamos fazendo escolhas impulsivamente, até porque nas palavras de Carl Jung: “As pessoas farão de tudo, chegando ao limite do absurdo para evitar enfrentar a sua alma”, em outras palavras enfrentar a sua consciência, enfrentar a si mesmo, faremos de tudo para evitar a dor moral. Na verdade, não compreendemos como essa dor pode nos libertar do sentimento de culpa que carregamos no nosso mundo mental.
Esse processo terapêutico pode ser encarado de duas formas: através de um sentimento de culpa ou de um processo transformação, onde vamos ressignificando nosso comportamento e nos preparando gradativamente para um dia reparar as faltas cometidas, mesmo que seja em uma nova encarnação.
A história contada no livro “Entre a Terra e o Céu” é exatamente a aplicação da lei da reencarnação, pois apresenta a intercessão espiritual de forma a conseguir que todos os envolvidos nas tramas do passado, aceitem de bom grado a oportunidade de reencarnar e na conivência uns com os outros, se auxiliarem mutuamente e evoluírem.
Pela mediunidade de Chico Xavier o espírito Jésus Gonçalves nos deixou a seguinte trova e oportuna mensagem:
"Uma lei que nunca erra:
Reencarnação, a lei bendita...
Cada ser retorna à Terra
Na lição que necessita." 3
Referências:
1) Pereira, Yvonne Amaral; Memórias de um Suicida; 3a Parte; V – A causa da minha cegueira no século XIX; FEB.
2) Xavier, Francisco Cândido; Entre a Terra e o Céu; Cap 13 – Análise Mental; Ed. FEB.
3) Xavier, Francisco Cândido; Rosas com Amor; it. 42 – A Lei Bendita pág. 20; Ed. IDE.
Obs.: Artigo revisado e resumido para o Site da CEIP. Foi publicado pelo
Jornal O Clarim em junho de 2023.
Éder Andrade
18 - Tens realmente fé? (11/11/2024)
Na primeira metade do século XXI, passando por grandes desafios no campo social e econômico, somos levados a parar e refletir. Temos realmente fé para lidar com o que vem acontecendo ou simplesmente passamos a aceitar, sem nenhum questionamento?
Não faltarão sociólogos, historiadores e políticos para dentro de uma visão acadêmica, tentar explicar o que acontece com a Humanidade, em particular com o homem, o ser social responsável pelas escolhas equivocadas em todos os continentes. Escolhas que reverberam no restante do planeta, gerando aquecimento global, aumento do nível das marés, derretimento das calotas polares e acima de tudo um acúmulo impressionante de lixo nos rios e nos mares.
Será um árduo trabalho para os ecologistas batalharem na correção do desequilíbrio causado no planeta pelo abuso cometido pelos povos como um todo, ao longo da História. Dentro da visão espírita, há um comprometimento de tal forma que terá de ser saudado coletivamente pela humanidade.
As agruras que a sociedade moderna vem passando refletem o resgate de nossas ações contrárias à Lei Divina. O objetivo dessa Lei, segundo “O Livro dos Espíritos”, questão 737, é “fazê-lo avançar mais depressa” e as calamidades “são frequentemente necessárias para fazerem com que as coisas cheguem mais prontamente a uma ordem melhor, realizando-se em alguns anos o que necessitaria de muitos séculos”. 1
Sabemos que nem todos acreditam na Terceira Revelação, por seguirem uma outra religião ou terem uma crença baseada em conhecimentos mais sócio-políticos. Apresentamos esse artigo como um convite a uma revisão dos nossos verdadeiros sentimentos em relação ao Criador.
No livro psicografado por Chico Xavier, Espírito da Verdade, ditado pelo espírito Emmanuel, nos deixou a seguinte reflexão: “Em Doutrina Espírita, a fé representa dever de raciocinar com responsabilidade de viver. Desse modo, não te restrinjas à confiança inerte, porque a existência em toda parte nos honra, a cada um, com a obrigação de servir. Se tens fé, não permitirás que os eventos humanos te desmantelem a fortaleza do coração.” 2
A Doutrina Espírita nunca foi e nem pretende ser proselitista, apenas convida aqueles que assim desejarem conhecer novas informações que podem despertar nossas consciências contra o sentimento materialista que assola a Humanidade.
A grande revelação que Allan Kardec deixou com o lançamento do Livro dos Espíritos em abril de 1857, foi um conhecimento que rompeu com históricos paradigmas culturais e religiosos, onde a morte não representa o fim para o princípio inteligente que somos. Já existíamos antes do berço e vamos continuar existindo após o túmulo.
O homem espera encontrar em sua crença, respostas e ajuda para os momentos de necessidade e dor, atitude natural, mas Emmanuel no livro Caminho, Verdade e Vida, quando brilhantemente comenta: “Os auxílios do invisível são incontestáveis e jamais falham em suas multiformes expressões, no momento oportuno; mas é imprescindível não se vicie o crente com essa espécie de cooperação, aprendendo a caminhar sozinho, usando a independência e à vontade no que é justo e útil, convicto de que se encontra no mundo para aprender, não lhe sendo permitido reclamar dos instrutores a solução de problemas necessários à sua condição de aluno.” 3
Fica evidente que a falta de perseverança do crente ou o desafio da prova, leva ao esmorecimento no testemunho de fé, até pela falta de elementos que ajudem a fazer sentido, a prova pela qual passa as pessoas, independentes da religião, pois nem todos já possuem maturidade do senso moral para lidar com a dor e as intempéries da vida.
Um elemento que nos ajuda no fortalecimento dos nossos ideais é a prática da fé consciente. No Evangelho Segundo o Espiritismo, vamos encontrar uma orientação de Kardec, de como utilizar a prática diária da prece a nosso favor. O indivíduo amadurecido moralmente sabe como conduzir suas súplicas, ao encontro de valores espirituais inalienáveis da vida, que carregamos após a morte do corpo físico. 4
O exercício da fé raciocinada é uma conquista individual do espírito, onde envolve autoconhecimento, a prática da prece e testemunhos silenciosos de boa vontade e perseverança. Isso independente da religião. Temos como milenar exemplo a história de Cornélius, o Centurião que viu Jesus:
E, entrando Jesus em Cafarnaum, chegou junto dele um centurião, rogando-lhe e dizendo: Senhor, o meu criado jaz em casa paralítico e violentamente atormentado. E Jesus lhe disse: Eu irei e lhe darei saúde. E o centurião, respondendo, disse: Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas dize somente uma palavra, e o meu criado sarará, pois também eu sou homem sob autoridade e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: vai, e ele vai; e a outro: vem, e ele vem; e ao meu criado: faze isto, e ele o faz. E maravilhou-se Jesus, ouvindo isso, e disse aos que o seguiam: Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei tanta fé. 5
(Mateus 8:5-13)
O Centurião não era hebreu, era um romano a serviço de César, mas um espírito amadurecido moralmente, que percebeu algo muito além das palavras de Jesus, quando disse:
“Então, disse Jesus ao Centurião: Vai, e como creste te seja feito.
E, naquela mesma hora, o seu criado sarou.”
(Mateus 8:13)
Referências:
1) Kardec; Allan; O Livro dos Espíritos; Cap. VI – Da Lei da Destruição; FEB.
2) _____, _______________; Espírito da Verdade; Cap. 29; Se tens fé; FEB.
3) _____, _______________; Caminho Verdade e Vida; Cap.100 – Auxílio do invisível; FEB.
4) Kardec, Allan; O Evangelho Segundo o Espiritismo; Cap. XXVII - item 11- Ação da prece; FEB.
5) Coelho; Maria Gertrudes; (Pelo espírito Rochester); Cornélius, O Centurião que viu Jesus; Ed. Espírita: Lírio.
Obs.: Artigo revisado e resumido para o Site da CEIP. Foi publicado pela
Revista Internacional do Espiritismo (REI) em março de 2023.
Éder Andrade
17 - Emanuel Swedenborg (05/10/2024)
Nascido Emanuel Swedberg em 29 de janeiro de 1688 e falecido em 29 de março de 1772. Foi um sueco filósofo-pluralista, cristão, teólogo, cientista e místico, que se tornou mais conhecido por seu livro sobre a vida após a morte, Céu e Inferno (1758).
Com idade entre 15 e 21 anos, Emanuel Swedberg morou na casa de seu cunhado em Uppsala, onde completou seu curso universitário em 1709 e no ano seguinte fez uma grande viagem pela Holanda, França e Alemanha antes de chegar a Londres, onde passaria os quatro anos seguintes. Londres era um florescente centro de ideias e descobertas científicas na época. Ele estudou Física, Mecânica e Filosofia.
Em 1715, aos 27 anos, Swedberg voltou para a Suécia, onde se dedicou às ciências naturais e a projetos de engenharia nas duas décadas seguintes. Um primeiro passo foi seu encontro com o rei Carlos XII da Suécia, na cidade de Lund, em 1716. O objetivo de Swedberg era persuadir o rei a financiar um observatório no norte da Suécia.
Aos 30 anos, Swedberg publicou um periódico científico intitulado "O Dédalo do Norte ", um registro de invenções e descobertas mecânicas e matemáticas. Uma descrição notável foi a de uma máquina voadora, a mesma que ele havia esboçado alguns anos antes.
Em 1718, Swedberg publicou um artigo que tentava explicar os eventos espirituais e mentais em termos de vibrações diminutas, ou "tremulações".
Após a morte de Carlos XII, a rainha Ulrika Eleonora deu um título de nobreza a Swedberg e seus irmãos. Era comum na Suécia durante os séculos XVII e XVIII conceder essa honra, como reconhecimento pelos serviços prestados. O nome da família foi mudado de Swedberg para Swedenborg.
Na década de 1730, Swedenborg tornou-se cada vez mais interessado em questões espirituais e estava determinado a encontrar uma teoria para explicar como a matéria se relaciona com o espírito. O desejo dele de entender a ordem e o propósito da vida, o levou primeiro a investigar a estrutura da matéria e o próprio processo de criação.
Swedenborg teve uma carreira profícua como inventor e cientista. Em 1741, aos 53 anos, entrou em uma fase espiritual na qual começou a ter sonhos e visões, notadamente no fim de semana da Páscoa. Suas experiências culminaram em um "despertar espiritual" no qual ele recebeu uma revelação de que Jesus Cristo o designou para escrever “A Doutrina Celestial” para reformar o Cristianismo. De acordo com a Doutrina Celestial, o Senhor abriu os olhos espirituais de Swedenborg para que, a partir de então, ele pudesse visitar livremente o céu e o inferno para conversar com anjos, demônios e outros espíritos.
Quando tinha 56 anos, Swedenborg viajou para a Holanda. Na época, ele começou a ter sonhos estranhos. Sempre carregava um diário de viagem com ele e o fez nesta jornada. O paradeiro do diário ficou desconhecido por muito tempo, mas foi descoberto na Biblioteca Real na década de 1850 e publicado como Drömboken.
Swedenborg experimentou muitos sonhos e visões diferentes. No ano de 1745, aos 57 anos, estava jantando em uma sala privada em uma taverna em Londres. No final da refeição, uma escuridão caiu sobre seus olhos e ele teve uma visão. De repente, ele viu uma pessoa sentada, em um canto da sala, dizendo a ele: "Não coma demais!". Swedenborg, assustado, correu para casa. Mais tarde naquela noite, a mesma pessoa apareceu em seus sonhos e o mundo espiritual foi revelado para Swedenborg.
Em 1758 ocorreu um evento psíquico, quando Swedenborg visitou a rainha Louisa Ulrika da Suécia, que lhe pediu que lhe contasse algo sobre seu falecido irmão, o príncipe Augusto Guilherme da Prússia. No dia seguinte, ele sussurrou algo em seu ouvido que deixou a rainha pálida e ela explicou que isso era algo que apenas ela e seu irmão poderiam saber.
Em Earths in the Universe, afirma-se que ele conversou com espíritos de planetas além do Sistema Solar. Desses "encontros", concluiu-se que os planetas do Sistema Solar são habitados e que um empreendimento tão grande como o universo não poderia ter sido criado para apenas uma raça. Ele publicou seu trabalho em Londres e na Holanda para escapar da censura do Império Sueco.
No verão de 1771, viajou para Londres, pouco antes do Natal, quando teve um derrame, ficando parcialmente paralisado e confinado à cama. Há vários relatos da sua saúde nos últimos meses de vida, feitos por aqueles com quem conviveu e pelo pastor da Igreja sueca em Londres, que o visitou várias vezes.
Nas horas finais de Swedenborg, um amigo, disse-lhe que algumas pessoas pensavam que ele havia escrito sua teologia apenas para se promover e perguntou se ele gostaria de fazer uma retratação pública. Erguendo-se na cama, com a mão no coração, Swedenborg respondeu sinceramente:
"Tão verdadeiro quanto você me vê diante de seus olhos, tão verdadeiro é tudo o que escrevi; e eu poderia ter dito mais se fosse permitido. Quando você entrar na eternidade, verá tudo, e então você e eu teremos muito o que conversar sobre".
Ele morreu, à tarde, na data que havia previsto, 29 de março de 1772. Os fundamentos da teologia de Swedenborg foram estabelecidos em Arcana Cœlestia (Mistérios Celestiais), publicado em oito volumes latinos de 1749 a 1756.
A Doutrina Celestial rejeita o conceito de salvação somente pela fé, uma vez que considerava a fé e a caridade necessárias para a salvação, mas não uma sem a outra.
Swedenborg foi um precursor e visionário do Espiritismo, que surgiria um século e meio mais tarde, quando Allan Kardec lançou “O Livro dos Espíritos” em 18 de abril de 1857.
Referências consultadas:
· Doyle, Arthur Ig. Conan; A História do Espiritismo; Cap I - A História de Swedenborg - p. 33; Ed. Luz Espírita.
· Diversos Autores; Os Cientistas; Abril Cultural; 1972.
· Wikipédia (A Enciclopédia Livre)
Obs.: Artigo revisado e resumido para o Site da CEIP. Foi publicado
pelo Jornal o Consolador de Copacabana na edição nº51 de 2023.
Éder Andrade
16 - Lançamento da 1ª edição do O Céu e o Inferno (11/09/2024)
Algumas capas do Livro O Céu e o Inferno
No dia 1º de agosto de 1865, Allan Kardec lançou a primeira edição do livro O Céu e o Inferno. Esse livro trouxe à tona revelações através de depoimentos de espíritos que por meio da psicografia, se comunicaram fazendo uma narrativa do seu retorno à vida espiritual, essa obra completou agora em agosto de 2024, 159 anos.
São depoimentos muito interessantes que nos mostram a diversidade evolutiva em que nos encontramos, assim como o desdobramento das nossas atitudes e escolhas feitas no mundo material em nossa vida espiritual.
Somos herdeiros de nós mesmos e ao desencarnar, após a morte do corpo físico, vamos de encontro das questões que tivemos dificuldade de superar ou aquelas que nos comprometemos pelo mau uso do livre arbítrio.
O livro O Céu e ó Inferno é o quarto livro da codificação espírita, tendo sido antecedido pelo Livro dos Espíritos em 18 de abril de 1957, Livro dos Médiuns em janeiro de 1861 e Evangelho Segundo o Espiritismo em 15 abril de 1864.
Todos os livros têm uma importância histórica fundamental para compreensão da Terceira Revelação, porém por questões de necessidade e curiosidade, recorremos mais ao Livro dos Espíritos e ao Evangelho.
Entre as peculiaridades dessa obra, encontramos na Segunda Parte, os exemplos de depoimentos, através de psicografias de espíritos em diferentes graus evolutivos, sendo que antes relata, no:
Cap. I – O Passamento, as condições morais em que as pessoas se encontravam no momento do seu desencarne, levando em conta o tipo de vida que sempre viveram e dando continuação, os exemplos de evolução do senso moral de vários espíritos:
E depois:
Cap. II - Espíritos felizes; Cap. III - Espíritos em condições medianas;
Cap, IV - Espíritos sofredores; Cap. V - Suicidas;
Cap. VI - Criminosos arrependidos; Cap. VII- Espíritos endurecidos;
Cap. VIII - Expiações terrestres.
Várias histórias abrangendo as diferentes categorias de espíritos no processo de desencarnação, procuram nos mostrar o despertamento no plano espiritual dos espíritos nos diferentes graus evolutivos e do comprometimento de ordem moral.
Vamos comentar o caso do espírito Joseph Bré:
“Morto em 1840, evocado em Bordeaux em 1862 pela neta.
O homem honesto segundo Deus ou segundo os homens.
1. Querido avô, quereis dizer-me como estais entre os Espíritos, e dar-me alguns detalhes instrutivos para nosso avanço?
R. Tudo o que quiseres, minha querida filha. Estou expiando minha falta de fé; mas a bondade de Deus é grande: ele leva em conta as circunstâncias. Sofro, não como poderias entender, mas de arrependimento por não ter empregado bem meu tempo na terra.”1
Podemos observar por esse relato, que devemos ser coerentes nas nossas atitudes não apenas diante dos homens, mas para com nossa consciência e para com Deus. Não basta ser um homem de bem, honesto e cumpridor das suas obrigações na frente dos outros, é necessário que em seu íntimo seja verdadeiro em seus sentimentos, o que pelo visto o Espírito Joseph Bré, não era.
Na frente das pessoas tinha um comportamento, porém por trás ou pelas costas, tinha outro diferente. Muito parecido com a grande maioria da Humanidade que não consegue se definir moralmente e acaba ocultando publicamente algumas situações infelizes, que todos nós na condição moral que nos encontramos, podemos ser parecidos, por uma questão de conveniência pessoal para cada um.
Os ensinamentos do livro O Céu e o Inferno se dão por exemplos e depoimentos de espíritos em diferentes níveis evolutivos que procuram nos exortar a uma mudança de conduta moral, pois a felicidade é uma conquista individual de cada um de nós, como um desdobramento da nossa Reforma Íntima.
Referências:
1) Kardec, Allan; O Céu e o Inferno; 2a parte, Capítulo III - Espíritos em condições medianas: FEB.
2) Wikipédia (Enciclopédia livre)
Obs.: Artigo revisado e resumido para o Site da CEIP. Publicado pelo Correio
Espírita de Niterói (RJ) em agosto de 2022.
Éder Andrade
15 - Kardec e Napoleão (09/08/2024)
Nos contam os livros de História que Napoleão Bonaparte ascendeu rapidamente ao poder na França, lutando contra tropas monarquistas, os contrarrevolucionários que desejavam derrubar o novo governo republicano. Devido à fraqueza política, o Diretório foi deposto através de um golpe de Estado em novembro de 1799 ("o 18 de Brumário" de acordo com o calendário revolucionário), quando Napoleão se tornou "primeiro cônsul".
Pela psicografia de Chico Xavier, o espírito Humberto de Campos, usando o pseudônimo de irmão X, nos ofereceu o livro Cartas e Crônicas 1 e nos conta que em uma noite de dezembro de 1799, em esferas elevadas, ocorreu um encontro espiritual entre Napoleão, em desdobramento durante o sono e o espírito de Allan Kardec. Esse ali se encontrava para ajudar e orientar Napoleão, pois futuramente viria a reencarnar na França na cidade de Léon.
Nesse encontro intermediado por mentores, fica claro que Napoleão estava se afastando da sua programação espiritual pré-estabelecida, que era propagar os ideais da Revolução Francesa pelos quatro cantos da Europa, estendendo a todos o acesso ao conhecimento do Iluminismo e o compêndio do enciclopedismo. Napoleão tinha como principal objetivo lutar contra a tirania dos governos absolutistas que se mantinham hereditariamente nas lideranças dos países, através do uso da força e valorizar o sacrifício que o povo francês vinha fazendo.
Napoleão se deixou arrastar pela vaidade e pelo poder, acabando por reproduzir na França uma forma de governo que ele deveria combater. Alegando conspiração para assassiná-lo e possivelmente um levante monarquista, promoveu um plebiscito. Com grande apoio popular, acabou coroado Imperador dos Franceses, cerimônia oficiada pelo Papa Pio VII, na igreja de Notre Dame em Paris, em dezembro de 1804.
Apesar do desvio da sua programação espiritual inicial, conseguiu a façanha de desdobrar os princípios iluministas dentro e fora da Europa, chegando até o Continente Americano e influenciando um grande movimento continental de independência política das colônias espanholas e a portuguesa. Essas novas ideias foram extremamente favoráveis para o advento de diversas manifestações espirituais como as Irmãs Fox e os Irmãos Davenport nos Estados Unidos, assim também o fenômeno das Mesas Girantes na Europa em particular Paris.
Surgiram grande pesquisadores que embasados pelos pensamentos visionários do Iluminismo, abriram caminho para as pesquisas de renomados pensadores como William Crookes, um químico e físico britânico; Ernesto Bozzano, foi um professor de Filosofia da Ciência na Universidade de Turim e pesquisador espírita italiano; Alexandre Aksakof um diplomata russo, conselheiro de Alexandre III, filósofo e grande pesquisador dos fenômenos espíritas durante o século XIX.
Todos esses homens eruditos foram grandes colaboradores para a divulgação da Terceira Revelação organizada e codificada por Allan Kardec, na medida que suas pesquisas legitimaram os argumentos e teorias apresentadas pelo Mestre de Léon na segunda metade do século XIX, não apenas na Europa, mas também nas Américas. Uma boa prova disso foi a grande aceitação popular que ocorreu no Brasil durante o Segundo Reinado, devido a histórica miscigenação das raízes culturais indígenas e africanas. Elas sempre deram ao nosso povo uma visão holística dos fenômenos sobrenaturais, apesar das manifestações contrárias da Igreja. No ano de 1881, o bispo do Rio de Janeiro, Pedro Maria de Lacerda publicou um manifesto que chamava os seguidores de Kardec de "possessos, dementes e alucinados".
O livro “A Caminho da Luz” 2, psicografado por Chico Xavier e ditado pelo espírito Emmanuel, faz uma correlação entre as novas ideias propagadas pelo Iluminismo, assim como o desdobramento das Guerras Napoleônicas, procurando mostrar que os acontecimentos científicos e literários ocorridos já no século XIX, tiveram seu movimento embrionário nos acontecimentos europeus do início da Idade Contemporânea. Apesar das grandes perdas humanas, um grande esplendor cultural e muitas transformações estavam prestes a acontecer, que iriam modificar os rumos não só do próprio continente, mas da cultura e economia mundial.
A renovação de pensamento foi tão acentuada que produziu uma revolução cultural com descobertas que mudaram os rumos da estrutura do pensamento científico apesar da resistência contrária do conservadorismo religioso, quando o Papa Pio IX, percebendo o avanço que o desdobramento dessas novas ideias poderiam causar na cristandade, em julho de 1870, decreta por intermédio de uma “bula”, um dogma para a Igreja Católica, da infalibilidade papal.
Esses acontecimentos conjugados contribuíram para uma grande mudança de foco da humanidade, não apenas em relação à religião, mas principalmente em relação às ciências, abrindo campo de pesquisa para diversas descobertas que desde a Idade Moderna vinham sendo cerceadas ou freadas, por interesses políticos no controle do conhecimento.
Uma nova forma de ver o Universo e os fenômenos naturais, não apenas por uma intervenção divina, mas também como uma combinação de fatores científicos, entre os quais o homem se tornava o arquiteto do seu destino e dono da sua felicidade.
Referências:
1) Xavier, Francisco Cândido; Cartas e Crônicas; Cap. 28 – Kardec e Napoleão; FEB.
2) _____, _______________; A Caminho da Luz; Cap. XXI – Época de Transição;
Cap. XXII – Revolução Francesa; Cap. – XXIII - O Século XIX; FEB.
3) Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro (fonte de consulta da CEERJ).
4) Wikipédia (Enciclopédia livre).
Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o Site da CEIP. Foi publicado
pela Revista O Consolador do Paraná em 08 de janeiro de 2023.
Éder Andrade
14 - Batuíra, um precursor pouco conhecido. (08/07/2024)
Muitos espíritas já ouviram falar nesse nome, Batuíra, mas poucos sabem dizer quem de fato ele foi. Um personagem da História do Espiritismo no Brasil, na segunda metade do século XIX. Viveu boa parte da sua vida na capital da Província de São Paulo e foi um dos precursores na divulgação da Doutrina Espírita ainda no Segundo Reinado e início da República Velha, porém passou quase despercebido nos livros de História do Espiritismo e suas atividades são pouco conhecidas pelo público espírita em geral.
Antônio Gonçalves da Silva era português, nascido na freguesia de São Tomé do Castelo, local que hoje faz parte do Distrito de Vila Real, norte de Portugal.
Emigrou com onze anos de idade para o Brasil, com apenas a instrução primária, juntamente com seus pais, desembarcando na Baía de Guanabara a 3 de janeiro de 1850. Permaneceu no Rio de Janeiro por três anos, onde viveu até aos quatorze anos na cidade de São Sebastião, na época capital do Império (Município Neutro, mas tarde conhecido como Município das Cortes), que corresponde hoje ao município atual do Rio de Janeiro, período que trabalhou no comércio da Corte.
Depois de algum tempo, mudou-se para Campinas na Província de São Paulo, onde ficou até se transferir definitivamente para a cidade de São Paulo, que na época não tinha uma população expressiva, embora já fosse a Capital Bandeirante com maiores oportunidades.
Durante os primeiros anos, foi distribuidor do tabloide Correio Paulistano. Como na época, não existiam bancas de jornais nos lugares públicos, a entrega se fazia de porta em porta e somente para os assinantes. Como entregador de jornais, fez amigos e admiradores. Correndo daqui para acolá, com agilidade e facilidade, ganhava a admiração por onde passava pelas pessoas da rua, devido ao seu espírito alegre e despachado.
Com a Proclamação da República, a imprensa trazia inovações importantes, como distribuição dos periódicos em carroças, mudando o antigo sistema de entrega dos periódicos, que era feito a pé, de casa em casa.
Antônio Gonçalves da Silva, muito ativo, foi apelidado “O Batuíra", nome que o povo dava à narceja, ave pernalta, muito ligeira, de voo rápido, que frequentava os charcos na várzea. Parece que neste período ele aprendeu a arte tipográfica, certamente nas próprias oficinas do Correio Paulistano.
Esse nome engraçado volta e meia chega aos nossos ouvidos, principalmente daqueles que procuram melhor se informar através do estudo e da pesquisa. Um apelido de um dos maiores divulgadores do Espiritismo no interior do Brasil no século XIX, que ainda hoje passa despercebido para alguns expositores espíritas.
Com bastante empenho, dedicação e economia, Batuíra também investiu na fabricação de charutos e assim, ele fazia crescer suas modestas finanças, o que acabou lhe permitindo se casar. Ele se casou duas vezes, a primeira vez com Brandina Maria de Jesus, com quem teve um filho, chamado Joaquim Gonçalves Batuíra e depois em segundas núpcias com Maria das Dores Coutinho e Silva, com quem teve um outro filho. Quando tudo parecia correr bem, a criança faleceu, quase repentinamente, o filho único com sua segunda esposa, uma criança de apenas doze anos.
Com a perda do seu único filho do segundo casamento, Batuíra levou um golpe que o desequilibrou e sua família. Esse acontecimento contribuiu para entrar em contato com o Espiritismo, onde ele e a esposa encontraram lenitivo à dor, na consoladora Doutrina dos Espíritos.
No final do Segundo Reinado, Batuíra tornou-se o agente exclusivo de distribuição do tabloide "Reformador", na cidade de São Paulo, função que se encarregou até 1899 ou 1900.
Ficou tão surpreendido com a paz que passou a desfrutar, que procurou estender a todos os seus amigos e conhecidos aquela abençoada Doutrina. Imediatamente pôs mãos à obra, no desejo ardente de que outras pessoas também tivessem conhecimento e acesso àquela filosofia esclarecedora.
Batuíra era um homem de espírito humanitário e idealista, aderindo muito cedo à campanha abolicionista, onde em sua casa, abrigava escravos foragidos e os liberava com uma Carta de Alforria. Ele nunca negou ajuda àqueles que lhe pediam alimento ou abrigo.
Sua casa era ao mesmo tempo hospital, farmácia, albergue, escola e asilo. Ele a doou para a sede da Instituição Beneficente "Verdade e Luz". Recolhia os doentes e os desamparados, infundindo-lhes a fé necessária para poderem suportar suas provas terrenas.
Tornou-se um dos precursores do Espiritismo no Brasil reinaugurando o "Grupo Espírita Verdade e Luz", onde no dia 6 de abril de 1890, diante de enorme assembleia, dava início a uma série de exposições doutrinárias públicas sobre O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Pouco tempo depois, Batuíra adquiriu uma pequena tipografia, a que denominou "Tipografia Espírita". Iniciou a 20 de maio de 1890 a publicação de um tabloide quinzenal de quatro páginas com o nome "Verdade e Luz". Posteriormente foi transformado em revista e do qual foi o diretor responsável até a data de sua desencarnação em 22 de janeiro de 1909.
Desenvolveu com o tempo a mediunidade de “médium curador”, sendo centenas as curas de caráter físico e espiritual que se tem notícia, obtidos ministrando “água fluidificada” ou aplicando "passes magnéticos".
Segundo contavam, Batuíra se debruçava nos livros de homeopatia com o objetivo de aprimorar seu conhecimento e fazer de sua mediunidade um instrumento de alívio para os necessitados. Muitos perturbados e desequilibrados, tidos como loucos incuráveis pela medicina da época, voltaram à normalidade, graças a seu trabalho mediúnico.
Sua preocupação com a verdadeira saúde dos necessitados, fez que com ele fundasse também outras agremiações e centros espíritas na Capital Bandeirante e outras cidades. Procurava estar sempre presente realizando a divulgação do Espiritismo através de palestras públicas, visitando enfermos em hospitais e distribuindo folhetos sobre a Doutrina Espírita.
Foi um personagem incomum, era visto como o “velhinho de barbas brancas”, um notável filantropo e médium curador que nada cobrava pelas curas físicas e mentais que promovia, fossem seus assistidos pessoas pobres ou de famílias ricas. São muitas as suas histórias, onde sua atitude altruísta, despertava a curiosidade das pessoas, numa época em que a capital da província de São Paulo possuía pouco mais de 30 mil habitantes.
Isso sem falar nos atritos que Batuíra teve com o clero e as lideranças católicas na cidade, por conta da divulgação da Doutrina. Não podemos nos esquecer que nessa época, na década de 1880 o catolicismo era a religião oficial do Segundo Reinado e a Igreja era favorecida por um conjunto de regalias, conhecido por “regime do padroado”
Antônio Gonçalves da Silva, ou simplesmente “O Batuíra”, foi um personagem relevante do movimento espírita para sua época.
Referências:
1) Wantuil, Zêus (organizador); Grandes Espíritas do Brasil (53 Biografias); Ed. FEB
2) Quintella, Mauro; História do espiritismo no Brasil; (Pesquisa – 1ª e 2ª parte); Jaú – S.P.
3) Monteiro, Eduardo Carvalho: Batuíra - O diabo e a igreja; Ed. Madras.
Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o Site da CEIP. Foi publicado
pela Revista Internacional do Espiritismo (REI) em novembro de 2022.
Éder Andrade
13 - O início da transição planetária (05/06/2024)
Desde o início da História da Humanidade, vários espíritos missionários reencarnaram com objetivo de orientar os homens de forma a cometerem menos imprudências, na tentativa de acelerar sua evolução. Podemos perceber isso na obra psicografada por Chico Xavier e ditada pelo espírito Emmanuel, A Caminho da Luz. 1
Não faltaram as advertências da espiritualidade para que os homens fossem solidários uns com os outros, exercendo a prática da caridade e do amor ao próximo, como nos deixou o exemplo de Paulo de Tarso e São Francisco de Assis.
Mesmo assim, ao longo da história, embriagados pelo poder e pelos prazeres materiais, muitos governantes e até mesmo membros do alto clero negligenciaram na sua tarefa assumida junto ao mundo maior antes de reencarnarem. Dessa forma tornou-se necessário que doenças consoladoras, com objetivo terapêutico e reparador, ocorressem na humanidade, levando os homens pararem para refletir nas suas atitudes, com eles próprios e com a sociedade.
Os abusos cometidos foram de tamanha ordem que no século XIV, um conjunto de mazelas assolou o mundo ocidental, a esse conjunto de acontecimentos, a Igreja Católica associou as previsões de João Evangelista, aos Cavaleiros do Apocalipse, que destruiriam a Humanidade.
Os historiadores perceberam que a atitude imprudente dos governantes, permitiu que esses acontecimentos se desdobrassem, chegando até ao continente americano.
Allan Kardec fazendo uma abordagem sobre Destruição Necessária (perg. 728 a 736) no Livro dos Espíritos 2 procurou nos mostrar que às vezes é necessário desconstruir o modelo antigo para edificar um novo, em outras palavras, o velho mundo deveria ser desconstruído para a edificação de uma nova sociedade.
Na obra de Allan Kardec, O Céu e o Inferno 3, observamos depoimentos, quando os espíritos solicitam reencarnações provacionais, para depuração do perispirito deformado ou adoecido pelo abuso do livre arbítrio em antigas encarnações. O esclarecimento doutrinário é extremamente oportuno e contemporâneo, nos permitindo utilizá-lo de forma terapêutica como uma profilaxia das dores da alma, pelas quais o mundo moderno vem passando.
Com o advento do iluminismo no século XVIII no final da Idade Moderna e do prenúncio da Revolução Francesa, a cultura do mundo ocidental presencia o aparecimento de pensadores e cientistas, que vão contribuir para o advento do Mundo Contemporâneo.
Essas descobertas e uma nova maneira de pensar, colocam um freio nas antigas tradições medievais que ainda limitavam a sociedade, como a divisão social por classes, com base na origem ou nascimento.
Aparentemente algumas dessas antigas tradições limitavam às novas formas de pensamento, mas na verdade, elas eram mecanismos de manipulação dos governantes e dos altos membros do clero como uma forma de ter um pleno controle social, impedindo que mudanças acontecessem.
O início da Idade Contemporânea no cenário europeu, não foi muito diferente dos períodos históricos anteriores, apesar do avanço científico e cultural, as descobertas e novas invenções passaram a ser usadas pelos governantes para atingirem os seus objetivos. Em pleno século XIX, essas modernidades ajudaram no aperfeiçoamento da indústria bélica, uma vez que existia uma forte rivalidade entre várias nações industrializadas.
O continente americano também apresentou sob controle dos europeus e da classe dominante nativa local, um forte comprometimento social. Podemos pegar o Brasil como exemplo, quando manteve um regime de trabalho escravo africano, por mais de quatrocentos anos. Isso sem falar também que na falta de trabalhadores escravos vindos da África, expedições bandeirantes de apresamento, atacavam aldeias no interior do continente, para capturar silvícolas para serem submetidos ao trabalho forçado.
Seria ingenuidade de nossa parte acreditar que com o fenômeno da morte, todos os males da atual encarnação seriam resolvidos. O fenômeno do encarne e desencarne, não promove a evolução do espírito, apenas a reeducação, a prática do amor e a reforma íntima podem com o tempo modificar o indivíduo, pois as enfermidades da alma desenvolvidas pelo mau uso do livre arbítrio se transferem de uma encarnação para outra, levando a eclodir no corpo físico, mazelas para serem tratadas.
Observamos que o processo de mudança de vibração do planeta Terra, deixando de ser um Mundo de Provas e Expiações para se tornar um Mundo de Regeneração, já começou desde a mais remota a Antiguidade.
Paralelo à história da Humanidade, a espiritualidade procurou oferecer aos encarnados condições de um aperfeiçoamento moral e iniciar uma capacitação de novos valores, para promover um crescimento cultural e intelectual, porém, devido a manutenção das paixões e dos arrastamentos doentios, apenas uma terapia mais incisiva e mais enérgica poderá modificar os homens.
Referências:
1) Xavier, Francisco Cândido; A Caminho da Luz; FEB.
2) Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; FEB.
3) ______, ____; O Céu e o Inferno; ____.
Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o Site da CEIP. Foi publicado
pela Revista O Caminho do C.E.A.K. em outubro de 2022.
Éder Andrade
12 - Os Desdobramentos da Terceira Revelação (13/05/2024)
Ao longo da História da Humanidade muitos missionários encarnaram, enviados pelo mundo maior, com o propósito de orientar e na medida do possível esclarecer a Humanidade do verdadeiro sentido da vida no mundo material, no planeta Terra.
O Espírito Emmanuel na obra psicografada por Chico Xavier, A Caminho da Luz, procura esclarecer que o planeta Terra é um mundo de provas e expiações. Dessa forma todos os espíritos que encarnam nesse mundo, com raríssimas exceções, são indivíduos comprometidos com sua consciência, devido a erros ocorridos em vidas passadas. 1
Os equívocos cometidos pelo desconhecimento da verdade espiritual que envolve a todos nós, atrasam o processo coletivo da nossa sociedade, assim como do planeta Terra como um todo. Segundo o Espiritismo, ocorreram três grandes revelações ao longo da História da Humanidade, que foram enviadas pelo mundo espiritual para promover o esclarecimento dos homens.
A primeira revelação foi Moisés que nos deixou os dez mandamentos. A segunda revelação foi Jesus Cristo, que procurou deixar esclarecimentos, novas ideias, as parábolas, assim como o Sermão da Montanha. Jesus sabendo que não teria como explicar tudo que a Humanidade precisava conhecer, promete que em momento futuro, Deus nosso pai, enviaria um Consolador, que seria a terceira revelação, de acordo com o Espiritismo.
Essas revelações eram um aceno do plano espiritual tentando chamar atenção dos homens encarnados, de que a vida não se limitava ao mundo físico. Todos nós somos espíritos imortais de posse de um corpo físico, estagiando na matéria, em uma experiência reencarnatória, entre as várias que já tivemos a oportunidade de vivenciar no mundo material.
Algumas obras psicografadas por Chico Xavier, nas décadas de 1930 e 1940, como Emmanuel, O Consolador e Boa Nova, onde procuraram exortar os homens a uma mudança de conduta, apresentando pensamentos e ideias para ajudá-los a colocar os valores espirituais acima dos valores materiais.
Foram necessários vários séculos até que a humanidade amadurecesse intelectualmente e culturalmente, para receber revelações espirituais de maior monta. Esse fato só vai ocorrer no século XVIII após o advento do movimento Iluminista, do Enciclopedismo e da Revolução Francesa. Porém apenas na metade do século XIX, a sociedade europeia vai apresentar as condições culturais propícias para o advento da Terceira Revelação, por intermédio do Espírito da Verdade.
O professor e pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail foi o grande organizador da Terceira Revelação. Como ele não criou a Codificação Espírita, adotou o pseudônimo de Allan Kardec, que segundo ele, foi uma das suas encarnações como um druida. Os druidas na antiga Gália, eram preceptores de conhecimento.
O conhecimento que a Terceira Revelação nos apresentou, vai além da nossa capacidade de compreensão e entendimento momentâneo, pois por ser um conhecimento visionário, à frente do seu próprio tempo, tem a função de revelar, esclarecer e consolar os homens, diante de um sofrimento moral, produzido pela ignorância de uma crença ultrapassada, mas principalmente pelo desconhecimento das verdades espirituais que foram ocultas pelos iniciados desde a antiguidade até o mundo moderno em que vivemos.
Hoje já é de fácil acesso esse conhecimento, por meios de várias ferramentas de pesquisa da internet, favorecendo aqueles que assim desejarem entender, que somos espíritos imortais, de posse de um corpo físico transitório. Existíamos antes do berço e vamos continuar vivendo após o túmulo, pois todos somos seres espirituais imortais. Dessa forma torna-se possível ressignificar nosso sofrimento, pois as perdas são inevitáveis, mas o arrasto do sofrimento pode ser remediado através do estudo da Doutrina Espírita.
O grande benefício que todos nós poderemos ser herdeiros é a revelação da sobrevivência do princípio inteligente à morte do corpo físico. Conhecimento esse que desde o Antigo Egito, na Índia e na Antiga Grécia já se sabia e por isso desenvolveram o ritual de veneração aos ancestrais e evocação dos mortos.
A crença da sobrevivência do princípio inteligente, assim como a transmigração da alma ou metempsicose, expressões antigas usadas para reencarnação, são oriundas da Antiguidade Oriental, não são termos recentes.
“Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo”.
(Espírito da Verdade. Paris, 1860.)
Referências:
1) Xavier, Francisco Cândido; A Caminho da Luz; FEB.
2) Wikipédia (Enciclopédia livre)
Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o Site da CEIP. Foi publicado
pela Revista O Consolador do Paraná (PR) em agosto de 2022.
Éder Andrade
11 - O Médico dos Pobres (04/04/2024)
Farmácia Cordeiro, onde Dr. Bezerra clinicava.
Adolfo Bezerra de Menezes nascido em Riacho do Sangue, no Ceará, no dia 29 de agosto de 1831 e falecido no Rio de Janeiro em 11 de abril de 1900, mais conhecido como Bezerra de Menezes, foi médico, militar, escritor, jornalista, político, filantropo e um expoente da Doutrina Espírita na segunda metade século XIX no Brasil.
Bezerra de Menezes ganhou o apelido "o Médico dos Pobres", pelo trabalho que desempenhou junto aos necessitados na cidade do Rio de Janeiro.
Com 20 anos de idade, após o falecimento do seu pai, mudou-se para o Rio de Janeiro e iniciou os estudos na faculdade de medicina. Em novembro de 1852 ingressou como residente no Hospital da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.
Para custear seus estudos, nas horas vagas dava aulas particulares de Filosofia e Matemática, pois também precisava de dinheiro para pagar o aluguel do quarto em que vivia.
Foi nomeado em 1858 como assistente do Corpo de Saúde do Exército no posto de Cirurgião Tenente e nesse mesmo ano se casou com Maria Cândida Lacerda, que faleceu de súbito e com quem teve dois filhos.
Em 1865 casou-se em segundas núpcias com Cândida Augusta de Lacerda Machado, irmã por parte de mãe de sua primeira esposa, e que cuidava dos seus filhos até então, com quem teve mais sete filhos.
Devido a sua conduta de médico caridoso, atendendo pessoas necessitadas, que não podiam pagar, ficou conhecido como "o Médico dos Pobres", assunto muito relatado em suas biografias.
Doutor Bezerra de Menezes entrou em contato com a Doutrina Espírita em 1875 com uma tradução para língua portuguesa do Livro dos Espíritos. Um exemplar que lhe foi oferecido pelo seu tradutor, amigo e também médico Dr. Joaquim Carlos Travassos.
Durante o trajeto que realizava diariamente de bonde do centro do Rio de Janeiro até a Tijuca onde morava, percurso que levava em torno de uma hora, foi quando teve a oportunidade de ler o Livro dos Espíritos, se identificando bastante com o conteúdo, chegando até afirmar: "parece que eu era espírita inconsciente ou mesmo como se diz vulgarmente de nascença".
Com o lançamento do periódico Reformador, passou a colaborar com a redação de artigos doutrinários. Nesse período Bezerra de Menezes já era um personagem muito estimado na sociedade e pela sua participação política e como médico.
Em 16 de agosto de 1886 no Rio de Janeiro, assumiu publicamente sua intenção em abraçar o Espiritismo. Esse acontecimento teve uma significativa repercussão, sendo publicada uma nota pelo jornal O Paíz, periódico de maior circulação da época.
Na década de 1880 o movimento espírita na capital do Brasil era muito reduzido e seus adeptos muito dispersos pelas casas espíritas onde se reuniam. Nessa época existia uma clara divisão entre os grupos de espíritas, os que aceitavam o Espiritismo dando ênfase ao seu aspecto religioso e os que aceitavam o Espiritismo apenas no aspecto científico.
No final da década de 1880, o Dr. Bezerra de Menezes foi identificado como o único capaz de superar essas divisões, sendo eleito Presidente da Federação Espírita Brasileira e nesse período iniciou o estudo sistemático do Livro dos Espíritos nas reuniões públicas, quando passou a dirigir o Reformador, exercendo ainda a tarefa de doutrinador de espíritos obsessores.
Em 1893, a convulsão provocada no Brasil pela Revolta da Armada ocasionou o fechamento de todas as sociedades espíritas. Em 1894, ocorreu uma melhora política e o nome de Bezerra de Menezes foi lembrado como o único capaz de manter a unificação do movimento espírita.
Infatigável batalhador, com 63 anos de idade, assumiu novamente a presidência da Federação Espírita Brasileira, cargo que ocupou até a sua desencarnação. Se dedicou ao trabalho de homeopatia, conseguindo que a FEB, fizesse um trabalho de receituário gratuito, mantido até os dias de hoje. O seu consultório no subúrbio tinha sempre fila na porta, pois ele não deixava de atender ninguém. Desencarnou na pobreza, porém foi muito ajudado pelos seus antigos pacientes.
Pela atuação destacada no movimento espírita da capital brasileira nos últimos anos do século XIX, Bezerra de Menezes foi considerado um modelo para muitos seguidores da Doutrina Espírita. Destacaram a índole caridosa, a perseverança e a disposição amorosa para superar os desafios. Essas características, somadas à sua militância na divulgação e na reestruturação do movimento espírita no país, fizeram com que fosse considerado o "Kardec Brasileiro", numa homenagem devida ao papel de relevância que desempenhou.
Referências:
1) Aquarone, Francisco; Bezerra de Menezes: o Médico dos Pobres; Editora Aliança.
2) Wikipédia (Enciclopédia livre)
Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o Site da CEIP. Foi publicado
pela Revista O Caminho do CEAK em agosto de 2022.
Éder Andrade
10 - O Céu e o Inferno - Lançamento (06/03/2024)
No dia 1º de agosto de 1865, Allan Kardec lançou a primeira edição do livro O Céu e o Inferno. Esse livro trouxe à tona revelações através de depoimentos de espíritos que por meio da psicografia, se comunicaram fazendo uma narrativa do seu retorno à vida espiritual, essa obra completa agora em agosto de 2024, 159 anos.
São depoimentos muito interessantes que nos mostram a diversidade evolutiva em que nos encontramos, assim como o desdobramento das nossas atitudes e escolhas feitas no mundo material em nossa vida espiritual.
Somos herdeiros de nós mesmos e ao desencarnar, após a morte do corpo físico, vamos de encontro as questões que tivemos dificuldade de superar ou aquelas que nos comprometemos pelo mau uso do livre arbítrio.
O livro O Céu e o Inferno é o quarto livro da codificação espírita, tendo sido antecedido pelo Livro dos Espíritos em 18 de abril de 1957, Livro dos Médiuns em janeiro de 1861 e Evangelho Segundo o Espiritismo em 15 abril de 1864.
Todos os livros têm uma importância histórica fundamental para compreensão da Terceira Revelação, porém por questões de necessidade e curiosidade, recorremos mais ao Livro dos Espíritos e ao Evangelho.
Entre as peculiaridades dessa obra, encontramos na segunda parte, os exemplos de depoimentos, através de psicografias de espíritos em diferentes graus evolutivos, sendo que antes relata:
Cap. I - O Passamento, as condições morais em que as pessoas se encontravam no momento do seu desencarne, levando em conta o tipo de vida que sempre viveram e dando continuação, aos exemplos de evolução do senso moral de vários espíritos:
Cap. II - Espíritos felizes;
Cap. III - Espíritos em condições medianas;
Cap. IV - Espíritos sofredores;
Cap. V - Suicidas;
Cap. VI - Criminosos arrependidos;
Cap. VII - Espíritos endurecidos;
Cap. VIII - Expiações terrestres.
Várias histórias abrangendo as diferentes categorias de espíritos no processo de desencarnação, procuram nos mostrar o despertamento no plano espiritual dos espíritos nos diferentes graus evolutivos e do comprometimento de ordem moral.
Vamos comentar o caso do espírito Joseph Bré: 1
“Morto em 1840, evocado em Bordeaux em 1862 pela neta.
O homem honesto segundo Deus ou segundo os homens.
1. Querido avô, quereis dizer-me como estais entre os Espíritos, e dar-me alguns detalhes instrutivos para nosso avanço?
R. Tudo o que quiseres, minha querida filha. Estou expiando minha falta de fé; mas a bondade de Deus é grande: ele leva em conta as circunstâncias. Sofro, não como poderias entender, mas de arrependimento por não ter empregado bem meu tempo na terra”.
Podemos observar por esse relato que devemos ser coerentes nas nossas atitudes não apenas diante dos homens, mas para com nossa consciência e para com Deus. Não basta ser um homem de bem, honesto e cumpridor das suas obrigações na frente dos outros, é necessário que em seu íntimo seja verdadeiro em seus sentimentos, o que pelo visto o Espírito Joseph Bré, não era.
Na frente das pessoas tinha um comportamento, porém por trás ou pelas costas, tinha outro diferente. Muito parecido com a grande maioria da humanidade que não consegue se definir moralmente e acaba ocultando publicamente algumas situações infelizes, que todos nós na condição moral que nos encontramos, podemos ser parecidos, por uma questão de conveniência pessoal para cada um.
Os ensinamentos do livro O Céu e o Inferno se dão por exemplos e depoimentos de espíritos em diferentes níveis evolutivos que procuram nos exortar a uma mudança de conduta moral, pois a felicidade é uma conquista individual de cada um de nós, como um desdobramento da nossa Reforma Íntima.
Referências:
1) Kardec, Allan; O Céu e o Inferno; 2a parte, Capítulo III - Espíritos em condições medianas: FEB.
2) Wikipédia (Enciclopédia livre)
Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o site da CEIP.
Foi publicado pelo Correio Espírita de Niterói em agosto de 2022.
Éder Andrade
09 - Cairbar Schutel e a Divulgação do Espiritismo (08/02/2024)
Pelos dados históricos que temos acesso, o primeiro veículo de divulgação pública do Espiritismo que se tem conhecimento de maior alcance foi o periódico lançado em 21 de janeiro de 1883 com o nome de Reformador, que passou a ser o veículo oficial de todo o movimento espírita da época. Era impresso como um jornal, com quatro páginas de texto, formato que conservou até dezembro de 1902, quando foi editado em formato de revista pela FEB. O jornal então com pequena tiragem, vinha a público quinzenalmente.
O serviço de divulgação da Doutrina Espírita era muito acanhado e restrito aos grandes centros urbanos, até porque, boa parte da população era analfabeta. Com a Proclamação da República, foi incentivada a tradução e publicação para o português de todas as obras em língua estrangeira, acontecimento que facilitou a divulgação do Espiritismo, estimulando o acesso à Codificação Espírita em português, pois a maioria das obras eram em francês.
No ano de 1889 na cidade de São Paulo não havia banca de jornal nos lugares públicos. A entrega se fazia de casa em casa, de porta em porta.
Antônio Gonçalves da Silva, distribuidor do "Correio Paulistano", muito ativo, correndo daqui para acolá, foi apelidado “o batuíra”, nome que o povo dava à narceja, ave pernalta muito ligeira, típica dos rios e brejos. Acabou se tornando o agente exclusivo de distribuição do "Reformador" até 1900.
Em 13 de agosto de 1896 chegou ao povoado de Senhor Bom Jesus das Palmeiras do Matão um jovem prático de farmácia que ficou conhecido como “Bandeirante do Espiritismo”, devido ao empenho com que se dedicou à divulgação do Espiritismo ao longo de sua vida, se estendendo pelas regiões vizinhas, era Cairbar de Souza Schutel.
Cairbar Schutel ficou conhecido por propagar a Doutrina Espírita por meio de textos e artigos em jornal, revistas, livros e até no rádio. Contribuiu na elevação do povoado de Matão para emancipação política do município.
O trabalho no setor doutrinário e assistencial, assim como a divulgação da Doutrina Espírita foram grandes alavancas para tornar o Espiritismo mais conhecido naquela região, no interior do país conhecida como Sertão, para muitos viajantes.
Muitos anos antes do nascimento de Chico Xavier, Cairbar recebeu o título de O Pai dos Pobres da cidade de Matão, pois dava remédio de graça aos carentes e utilizava sua própria casa para acolher doentes.
A 15 de julho de 1905 fundou o atual Centro Espírita “O Clarim”, o primeiro centro espírita em toda região daquela zona paulista. No mês seguinte, fundou o jornal espírita "O Clarim" em 15 de agosto, em formato de tabloide reduzido e mais tarde se ampliando. Sem sombra de dúvida, depois do Reformador, foi o jornal espírita de maior projeção e divulgação da época, pois o Reformador já havia deixado de ser editado como tabloide, passando a circular como revista nesse mesmo período.
Com o passar dos anos ao longo da sua história, o Clarim ganhou uma projeção nacional. Atualmente em formato de papel e digital, permite seu acesso por meio de várias plataformas. No mês de agosto/2024 completará 119 anos de circulação, muitos são os assinantes que acompanham o editorial e as colunas.
Após vinte anos do lançamento do Clarim, em 15 de fevereiro de 1925, Cairbar Schutel fundou com o auxílio moral e recursos materiais de um amigo a Revista Internacional de Espiritismo (RIE), publicação mensal dedicada aos estudos dos fenômenos anímicos e espíritas, assim como estudos doutrinários de relevância para o meio espírita. Hoje a revista facilita a leitura e o estudo para os conhecedores do assunto, assim como dos iniciantes, alcançando projeção até fora do país.
Desejando contemplar todos os meios de comunicação da época no processo de divulgação doutrinária, ocorre de forma arrojada e inovadora no período de 19 de agosto de 1936 a 02 de maio de 1937, aos domingos, as palestras radiofônicas, conhecidas como "Conferências Radiofônicas", através da Rádio Cultura PRD-4, de Araraquara, publicadas em livro no mês de setembro de 1937. Não podemos nos esquecer que o rádio nasceu no Brasil oficialmente, quinze anos antes.
Na época muitos acharam que não teria visibilidade ou audiência, pois o rádio era um artigo de luxo e poucas eram as pessoas que possuíam luz elétrica em casa, na segunda metade da década de 1930, tanto no interior do país, como até na capital. Um acontecimento épico e visionário para a época, enquanto nesse mesmo momento, Chico Xavier começou a se tornar conhecido no meio espírita, quando Manuel Quintão vai até Pedro Leopoldo conhecer o jovem médium, abrindo as portas da FEB para editar seus primeiros livros.
Não é difícil de perceber em um estudo histórico o quanto Cairbar Schutel foi precursor e propagador do Espiritismo no interior do país, numa época que seu trabalho foi considerado como desbravador em uma região onde os meios de comunicação eram precários, abrindo canais facilitadores para que outros tivessem mais facilidade na divulgação doutrinária.
Na lápide onde seu corpo foi sepultado na cidade de Matão, está gravada a célebre frase:
“Vivi, vivo e viverei, porque sou imortal”.
Ele é conhecido nos meios espíritas como o “Apóstolo de Matão” ou “Bandeirante do Espiritismo”. Um verdadeiro sertanista em nome do Espiritismo daquela zona paulista e de regiões circunvizinhas.
Referências:
1) Sestini, Gerson; O Sertão os esperava (Um tributo a Cairbar Schutel); Ed. Celd.
2) Zuculoto, Valci Regina Mousquer; A história do Rádio Público no Brasil; Intercom.
3) Wikipédia (Enciclopédia Livre).
Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o Site da CEIP. Foi publicado
pela Revista Internacional do Espiritismo (RIE) no Clarim em agosto de 2022.
Éder Andrade
08 - Noventa anos de Parnaso de Além-Túmulo (04/01/2024)
Existe um grande marco na História do Espiritismo do Brasil, antes e depois de Chico Xavier, devido às revelações e conhecimentos oferecidos através da sua mediunidade. Vários espíritos, em particular Emmanuel, seu mentor, nos oferece várias obras psicografadas de esclarecimento doutrinário. Atualmente existem mais de 450 obras psicografadas e editadas por diversos espíritos por intermédio direto e indireto de Chico Xavier, algumas obras publicadas em vida e outras após seu desencarne, que podem ser encontradas para nosso esclarecimento e consolação.
Nascido em Pedro Leopoldo em 2 de abril de 1910, recebeu o nome de Francisco de Paula Cândido, em homenagem ao santo do dia de seu nascimento. Membro de uma família de modestas condições, teve oito irmãos, filho de João Cândido Xavier, um vendedor de bilhetes de loteria e de Maria João de Deus, uma lavadeira católica, ambos analfabetos.
Sua mãe morreu quando Chico tinha apenas cinco anos. Incapaz de criá-los, o pai distribuiu os nove filhos entre familiares. A segunda esposa de seu pai, Cidália Batista, uma mulher generosa e de grande coração, adotou e reuniu todos os seus irmãos e ainda teve mais seis filhos com o pai de Chico, João Xavier.
Em 1927, então com dezessete anos de idade, Chico viu-se diante da insanidade de uma irmã, que acreditava ser causada por um processo de obsessão espiritual. Nessa época Dona Carmen e Senhor Perácio, casal amigo de uma fazenda vizinha, ajudaram a irmã do Chico e o convidaram para participar de uma reunião espírita em sua casa, iniciando o contato dele com a Doutrina Espírita.
Orientado pelo casal Perácio, Chico fundou em Pedro Leopoldo com seu irmão José e alguns amigos, o Centro Espírita Luiz Gonzaga, onde psicografava e dava psicofonias em geral, despertando o interesse das pessoas. Em 1931 houve um momento que chegou ao conhecimento do então vice-presidente da Federação Espírita Brasileira e ex-presidente da FEB, Manuel Quintão que foi a Pedro Leopoldo conhecer pessoalmente o Chico e trouxe uma série de poemas psicografados e assinados por diversos poetas portugueses e brasileiros, a grande maioria parnasianos. Esses poemas foram levados para a FEB, onde decidiram editar um livro, cujo título foi Parnaso de Além Túmulo, lançado no dia 08 de julho de 1932. Obra que já completa esse ano de 2024, 92 anos de lançamento.
Esta primeira edição trazia sessenta poemas, assinados por nove poetas brasileiros, quatro portugueses e um anônimo. A partir da segunda edição, publicada em 1935, foram sendo gradualmente incorporados novos poemas à obra até à 6ª edição, publicada em 1955, quando fixou-se a quantidade de poemas em duzentos e cinquenta e nove, atribuídos a cinquenta e seis autores luso-brasileiros, entre renomados e anônimos.
O mais interessante foi o fato de ter chamado grande atenção da imprensa, gerando repercussão no meio acadêmico, por sua peculiaridade suscitou rapidamente a reação de literatos e intelectuais brasileiros. Elogiando ou criticando seu conteúdo, membros da Academia Brasileira de Letras, poetas, críticos literários e até psiquiatras pronunciaram-se, à época, a respeito da obra, contribuindo em muito para a sua divulgação.
O vice-presidente da FEB, o jornalista Manuel Quintão, prefaciando o livro, analisou:
Romantismo, Condoreirismo, Parnasianismo, Simbolismo, aí se ostentam em louçanias de sons e de cores, para afirmar não mais subjetiva, mas objetivamente, a sobrevivência de seus intérpretes. É ler Casimiro e reviver 'Primaveras'; é recitar Castro Alves e sentir 'Espumas Flutuantes'; é declamar Junqueiro e lembrar a 'Morte de D. João'; é frasear Augusto dos Anjos e evocar 'Eu'.1
Entre os fatos curiosos foi quando o escritor Monteiro Lobato disse na época: "Se Chico Xavier produziu tudo aquilo por conta própria, então ele merece ocupar quantas cadeiras quiser na Academia Brasileira de Letras". Vários episódios marcaram o lançamento dessa obra, que abriu as portas da FEB para as psicografias de Chico Xavier e seus livros tiveram uma grande aceitação junto a população brasileira, que passaram a acompanhar a psicografia das obras, aguardando sempre o lançamento de um novo livro do Chico pela FEB.
Ao permitir que os benfeitores espirituais em particular Emmanuel e André Luiz ditassem uma grande quantidade de material didático e doutrinário, levou a despertar a curiosidade das pessoas e revelou informações sobre a vida no mundo espiritual. Esses acontecimentos favoreceram o Espírito André Luiz a iniciar o lançamento na década seguinte da série de livros “A Vida no Mundo Espiritual”. A primeira obra se tornou um grande best-seller da literatura espírita brasileira, que no ano de 2010, quando Chico completaria 100 anos, serviu de inspiração para o lançamento do filme Nosso Lar.
Referências:
1) Xavier, Francisco Cândido; Parnaso de Além-Túmulo; FEB.
2) Sestini, Gerson; Inesquecível Chico; Ed. GEEM.
3) Wikipédia (A Enciclopédia Livre)
Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o site da CEIP.
Foi publicado pelo Correio Espírita de Niterói em julho de 2022.
Éder Andrade
07 - Chico Xavier e o Espiritismo no Brasil (07/12/2023)
A história do Espiritismo no Brasil passa por grandes acontecimentos ao longo do século XIX e início do século XX, onde vários médiuns e trabalhadores deram grande testemunho de boa vontade e perseverança. Poderíamos relacionar muitos personagens que marcaram a trajetória de consolidação do espiritismo desde Antônio Luiz Sayão, fundador do Grupo dos Humildes, depois Grupo Ismael da Federação Espírita Brasileira, do qual foi diretor, até Manuel Justiniano de Freitas Quintão que ingressou na FEB em 1903 e permaneceu no quadro social por 44 anos. Ali atuou como médium curador por quase meio século. Foi presidente da Federação Espírita Brasileira em 1915, 1918, 1919 e 1929.
Não podemos esquecer da fantástica mediunidade de efeitos físicos de Anna Rebello Prado, quando em 28/04/1921, numa sessão de materialização se manifesta o espírito de Rachel Figner, anteriormente desencarnada, na presença de seu pai, Frederico Figner, diretor da conceituada Casa Edison, no Rio de Janeiro, que foi tesoureiro, membro do Conselho Fiscal e vice-presidente da FEB.
Todos esses acontecimentos foram contribuindo para o advento de uma grande revelação que estava por vir, por intermédio da mediunidade de Chico Xavier, pois sem sombra de dúvida, podemos afirmar que sua mediunidade e seus trabalhos de revelação e consolação feitos por esse médium são um grande marco na história do Espiritismo do Brasil.
Nascido na cidade de Pedro Leopoldo em 02/04/1910, recebeu o nome de Francisco de Paula Cândido. Era integrante de uma família muito simples, tinha oito irmãos, filho de João Cândido Xavier, um vendedor de bilhetes da loteria federal e Maria João de Deus, uma lavadeira, ambos analfabetos.
Sua mãe morreu quando Chico tinha apenas cinco anos. Incapaz de criá-los, o pai distribuiu os nove filhos entre familiares. A segunda esposa de seu pai, Cidália Batista, uma mulher generosa e de grande coração, reuniu todos os seus irmãos e ainda teve mais seis filhos com o pai de Chico, João Xavier.
Em 1927, então com dezessete anos de idade, Chico viu-se diante da insanidade de uma irmã, que acreditava ser causada por um processo de perturbação mental. Nessa mesma época, Dona Carmen e Seu Perácio, casal de uma fazenda vizinha, convidam o Chico para participar de uma reunião espírita em sua casa, iniciando o contato dele com a Doutrina Espírita, quando apresentaram-lhe o Evangelho Segundo o Espiritismo e o Livro dos Espíritos.
Nessa mesma época, Chico funda em Pedro Leopoldo com seu irmão José e alguns amigos, o Centro Espírita Luiz Gonzaga, onde psicografava e dava psicofonias em geral. Em 1931 todo seu trabalho no Centro Espírita chegou ao conhecimento do então vice-presidente da Federação Espírita Brasileira e ex-presidente da FEB, Manuel Quintão que foi a Pedro Leopoldo conhecer Chico pessoalmente e trouxe uma série de poemas psicografados por ele e assinados por diversos poetas portugueses e brasileiros, a grande maioria parnasianos. Esses poemas foram levados para a FEB, onde decidiram editar um livro, cujo título foi Parnaso de Além-Túmulo, lançado no dia 08 de julho de 1932. Esse foi o primeiro livro editado pela FEB, obra essa que completou esse ano 91 anos de lançamento, concebido pela psicografia de Chico Xavier.
Manuel Quintão vai abrir as portas da FEB para as psicografias de Chico Xavier que num intervalo de uma década lançou os seguintes 14 livros:
Parnaso de Além-Túmulo – 1931 / Cartas de Uma Morta – 1935 / Palavras do Infinito – 1936
Crônicas de Além-Túmulo – 1937 / Emmanuel – 1937
Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho - 1938
Lira Imortal – 1938 / A Caminho da Luz – 1938 / Há Dois Mil Anos... – 1939 / Novas Mensagens – 1939
50 Anos Depois – 1939 / O Consolador – 1940 / Cartas do Evangelho – 1940 / Boa Nova – 1940
Sem sombra de dúvida, uma grande produção literária em um curto espaço de tempo, fato esse que pode ser explicado, quando Emmanuel se apresentou ao Chico no ano de 1931, em uma represa de Pedro Leopoldo, quando Chico estava em oração à sombra de uma árvore e o informa sobre a sua missão de psicografar uma série de trinta livros, mas para tal seria necessário muita disciplina e assiduidade e Chico aceita o compromisso.
A FEB foi o principal veículo de divulgação das obras psicografadas por Chico no início da sua produção literária e existia um sistema parecido com um “clube do livro espírita”, cujo nome na época era “Novidades”. Que enviava por reembolso postal os lançamentos, que eram aguardados com entusiasmo por todos nas Casas Espíritas.
Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.
(Chico Xavier)
Atualmente existem cerca de mais de 500 obras psicografadas, editadas e organizadas por diversos espíritos por intermédio direto e indireto de Chico Xavier, algumas obras publicadas em vida e outras organizadas após seu desencarne, que podem ser encontradas para nosso estudo e pesquisa.
As revelações oferecidas a todos por intermédio da sua mediunidade, permitiram desvendar os bastidores da vida espiritual em detalhes, com o lançamento da série de livros “A Vida no Mundo Espiritual”, ditadas pelo Espírito André Luiz, conhecida por todos, cujo o primeiro da série foi: “Nosso Lar”.
Referências:
1) Arantes, Hércio Marcos Cintra; Notáveis Reportagens com Chico Xavier;
Ed. Instituto de Difusão Espírita.
2) FEBTV – Vida e Obras de Chico Xavier.
3) Sestini, Gerson; Inesquecível Chico; Ed. GEEM.
4) Wikipédia (Enciclopédia Livre).
Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o site da CEIP. Foi publicado
pela Revista O Consolador do Paraná em 17 de julho de 2022.
Éder Andrade
Comentário:
Obrigada por essas postagens, tenho aprendido muito, não sabia por exemplo do primeiro livro editado da FEB. Gratidão 🌹
Madalena Saboia
06 - Metempsicose na Visão Espírita (23/11/2023)
Os livros de História Geral nos contam que no Antigo Egito, assim como em alguns outros povos do Oriente, existiam formas de governo conhecidas como Modo de Produção Asiático, onde os governantes eram vistos como deuses encarnados que controlavam a produção e todos os trabalhadores. A classe dos sacerdotes fazia a manutenção dessa ideologia religiosa, sendo que no caso do Egito, o Faraó, era um deus vivo e todos deveriam obediência, assim como pagamentos de tributos, que poderia ser sob a forma de trabalho ou oferendas, práticas de culto e adoração.
Para se conseguir a obediência da população, utilizaram-se de uma remota crença religiosa vinda da Antiguidade, que afirmava na possibilidade de o indivíduo por “decisão” dos deuses renascer em um corpo de um animal ou planta. No caso do Egito, poderia renascer em um corpo de um crocodilo ou hipopótamo. Era a teoria da metempsicose, utilizada pelos governantes e a classe dominante para explorar a população mais humilde, geralmente os lavradores e trabalhadores braçais, pois aqueles que não obedecessem poderiam em outra vida voltar em um corpo de animal.
Uma teoria absurda, associada ao culto da morte e explorada pelos governantes para se aproveitarem da crendice popular, muito comum nos povos orientais em particular no Antigo Império do Egito.
Essa foi uma das principais doutrinas religiosas que os povos do Ocidente receberam em contato com os povos do Oriente, a crença de que todas as almas são imortais e que, após a morte, uma alma é transferida para um novo corpo, era a teoria da transmigração da alma.
Essa crença não se restringia apenas à reencarnação humana, mas abrangia também a possibilidade de a alma humana encarnar em animais ou vegetais.
Esse termo é encontrado em Pitágoras e Platão. Acredita-se que Pitágoras aprendeu seu significado com os egípcios, que por sua vez aprenderam com os indianos.
“A problemática desse raciocínio é a divergência entre as crenças”.
Platão e os indianos não acreditavam na metempsicose, porém utilizavam o termo na ausência de outro como sinônimo de reencarnação. A teoria da transmigração da alma, como um sinônimo para metempsicose, que vai ajudar a entender séculos mais tarde a ideia de reencarnação, surge muito tempo depois. Já os egípcios, estes sim, acreditavam na possibilidade de a alma humana poder encarnar em animais.
“O Espírito dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal e desperta no homem”1.
(León Denis)
No livro dos Espíritos2, Allan Kardec na pergunta 100 esclarece: “A classificação dos Espíritos se baseia no grau de adiantamento deles, nas qualidades que já adquiriram e nas imperfeições de que ainda terão de despojar-se” e dessa forma estabelece três ordens que se subdividem de acordo com o nível de evolução moral dos espíritos e na pergunta 612 indaga:
“Poderia encarnar num animal o Espírito que animou o corpo de um homem?
Isso seria retrogradar e o espírito não retrograda...”
Os Espíritos evoluem sempre. Em suas múltiplas encarnações podem até estacionar, mas nunca regridem. A rapidez do seu progresso depende dos esforços que façam para chegar à perfeição. Em outras palavras o ritmo da caminhada evolutiva é muito individual.
O desconhecimento da verdade e o atraso moral, favoreciam os antigos governantes na Antiguidade manipularem a população atrasada e ignorante, porém nos dias de hoje, não faz sentido acreditar nesse absurdo, pois o espírito imortal tende sempre a evoluir, pode por razões particulares até estacionar, porém em momento algum regredir a formas primitivas.
Charles Darwin foi um naturalista, geólogo e biólogo britânico, que desenvolveu uma teoria baseada nos princípios da seleção natural e da ancestralidade comum. Darwinismo é o nome dado à teoria proposta por Charles Darwin para explicar como ocorre a evolução das espécies. Se Darwin concluiu a possibilidade da evolução dos seres vivos no século XIX, seria uma incoerência acreditar na possibilidade que a metempsicose seria possível, pois seria o mesmo que dizer a que o animal voltaria como planta ou mineral. Imaginem o anfíbio retornando a vida como peixe?
Na escala ou teoria evolucionista dos seres vivos, todos evoluímos e nunca retroagimos.
Referências:
1) Denis, León; O Problema do Ser, do Destino e da Dor; FEB.
2) Kardec, Allan; O livro dos Espíritos; Cap. I – Escala Espírita; Cap. XI – Metempsicose; FEB.
3) Wikipédia (Enciclopédia livre).
Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o site da CEIP. Foi publicado
pela Revista O Consolador do Paraná em 03 de julho de 2022.
Éder Andrade
05 - Giordano Bruno e a Repressão da Inquisição (02/11/2023)
Muitos acreditavam que com os ventos das navegações atlânticas e as grandes invenções do final da Idade Média ocorreria uma profunda mudança no pensamento científico, filosófico e até mesmo religioso do século XV. Porém, esse fato não se deu no ritmo esperado, pois a Igreja em pleno século XVI procurava impedir que pensadores, filósofos e teólogos, influenciados pela reforma protestante e novos conhecimentos, colocassem em xeque a autoridade eclesiástica. Por intermédio de ideias que viessem a comprometer os pensamentos e teorias defendidas pela Cristandade desde sua fundação, como o pensamento ptolomaico e pensamento sistemático aristotélico.
Entre os vários pensadores que se destacaram no período do século XVI, podemos citar em particular, Giordano Bruno, um homem místico e visionário, que estava muito à frente do seu próprio tempo, defensor da teoria que a Terra não era o centro do universo. Para ele as estrelas eram astros, que assim como o Sol, poderiam até ter planetas girando ao seu redor em órbitas diferentes. Ele também insistia que o Universo é infinito e não teria "centro". Dessa forma, sugeria vida em outros mundos, assim como existia na Terra. Ele foi o precursor da “posição cosmológica”, conhecida como Pluralismo Cósmico ou Pluralidade dos Mundos.
Curiosamente também defendia a ideia da transmigração da alma. Teoria venerada por vários povos do Oriente como os egípcios e os hindus, filosofia essa que favoreceu a compreensão melhor com o tempo da reencarnação.
Diante dessas ideias tão visionárias, bem articuladas e devido a sua rigidez na maneira com que defendia seus pontos de vista, como professor, religioso e teólogo, passou a ser perseguido pelo Tribunal da Santa Inquisição, sendo acusado de heresia. Foi excomungado e condenado à morte, sendo queimado vivo no Campo dei Fiori, em Roma, em uma demonstração do poder da Inquisição para aqueles que questionassem os dogmas da Igreja, quanto mais da Bíblia. Hoje no local, ele é relembrado desde 1899 com um monumento.
Quando estudamos essa passagem da Idade Média para a Idade Moderna, com um pouco mais de atenção e sob um ponto de vista histórico-espírita, percebemos claramente que qualquer tentativa do mundo espiritual em despertar nos homens daquele período histórico, as verdades sobre a sobrevivência da alma após morte do corpo físico, eram impedidas pela forte oposição do clero. Provavelmente manipulado por interesses políticos e econômicos e com um forte respaldo na retaguarda no plano físico, de forças sombrias para o atraso da humanidade.
Se pensadores como Johannes Kepler, Galileu Galilei e Giordano Bruno, tivessem tido liberdade para expor seus pensamentos, ensinando o conhecimento que desabrochou aos poucos no decorrer da encarnação, teríamos avançado quase meio milênio em termos científicos, astronômicos e filosóficos. Porém a forte influência da Igreja vai reprimir a manifestação desses pensadores, cientistas e teólogos que poderiam ter alavancado a evolução espiritual da humanidade, e dessa forma, percebemos claramente que o advento da Terceira Revelação precisou ser adiado pela espiritualidade até que a sociedade ocidental tivesse liberdade de pensamento e condições de melhor interagir com novos conceitos filosóficos e ideias científicas.
Foi necessário, que no final do século XVII e ao longo do século XVIII, muitos espíritos evoluídos reencarnassem, trazendo um grande cabedal de conhecimento e um novo momento histórico, com apoio de reis, príncipes e nobres, interessados em limitar o poder temporal da Igreja na Europa Ocidental. Passam a estimular a propagação do conhecimento e dessa forma tivemos o primeiro grande passo para a transformação das mentalidades, com o advento do Iluminismo e do Enciclopedismo, abrindo caminho para a Terceira Revelação na metade do século XIX com Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais conhecido como Allan Kardec.
Fontes de pesquisa:
1) Diversos Autores; Os Cientistas; Abril Cultural.
2) Kardec, Allan; O Céu e o Inferno; FEB.
3) Xavier, Francisco Cândido; A Caminho da Luz; FEB.
Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o site da CEIP.
Foi publicado pelo Correio Espírita de Niterói em junho de 2022.
Éder Andrade
04 - A Reverberação das Emoções Pretéritas na Atual Reencarnação. (20/10/2023)
Segundo a Doutrina Espírita, algumas lembranças de vidas passadas podem despertar no atual momento que estamos vivendo com o objetivo de chamar nossa atenção que algo precisa ser feito, como um acerto de contas com nossa consciência, sinalizando a necessidade de uma ajuda médica ou espiritual.
É possível perceber que somos portadores de certas dificuldades e que deveríamos buscar ajuda especializada, até para não recairmos no círculo vicioso das paixões que nos levaram a tornarmos dependentes de sentimentos doentios. São novas oportunidades oferecidas pela espiritualidade para reeducar nossas emoções, promovendo nossa reeducação.
Nas obras secundárias da doutrina espírita, podemos encontrar nos romances relatos onde emoções cristalizadas do passado são liberadas na atual encarnação para o espírito em numa nova identidade, conseguir ressignificar emocionalmente seus sentimentos de maneira a tratá-los.
Quando for possível encontrar um processo de equilíbrio, para não recair em um looping de dificuldades e arrastamentos que um dia, ele se permitiu entregar por afinidade ou fraqueza. O passado sempre vai bater à nossa porta em momento oportuno quando amadurecemos moralmente, tendo condições de reparar as antigas faltas contraídas.
Chamamos de reverberação de antigas lembranças ao desconforto produzido no nosso inconsciente das emoções que não foram curadas. Em outras palavras, o amadurecimento do senso moral na encarnação atual acaba produzindo um conflito de consciência com antigas lembranças em um passado remoto que nos locupletávamos. Poderíamos dizer que o homem que desejamos nos tornar sente vergonha do homem que já fomos ou das emoções que nutríamos.
Dona Ivone Pereira tinha um sério problema ligado às suas memórias do passado e deixa isso claro em suas obras, principalmente em sua trilogia, que reúne emocionantes histórias de amor, perdão e redenção, que não haviam sido superadas. Para enfrentar a si mesma, solicitou da espiritualidade reencarnar em uma família humilde que oferecesse as condições necessárias para sua evolução. Dessa forma passou privações e uma série de dificuldades, que ela própria solicitou, como uma maneira de se melhorar espiritualmente.
A mitologia da Grécia Antiga diz que é muito difícil o indivíduo reencarnar não trazendo lembranças de outras existências, pois elas fazem parte da nossa essência, do nosso ser. A própria “justiça divina” se encarrega de forma didática que as coisas mal resolvidas em numa nova encarnação venham à tona, para serem tratadas e se possível curadas.
Jorge Andréia, psiquiatra espírita baiano, muito amigo de Divaldo Franco, procurou nos orientar em quase todas as suas obras sobre sentimentos enfermos da alma. As emoções armazenadas no inconsciente, vão sendo liberadas gradativamente, quando o espírito passa a ter condições e maturidade para lidar com suas atitudes imprudentes de um passado. Essa liberação é relativamente proporcional ao grau de amadurecimento pessoal de cada indivíduo.
André Luiz na sua obra psicografada por Chico Xavier, Ação e Reação da série “A Vida no Mundo Espiritual” procura correlacionar o sentimento de desconforto, remorso ou culpa consciente do espírito na erraticidade, que se transfere para o corpo físico sob a forma de doenças, pois o forte sentimento de tristeza ou melancolia é um reflexo de emoções adoecidas que não foram tratadas na devida encarnação.
Não podemos nos envergonhar das nossas dificuldades ou fraquezas. Precisamos sim, em um mundo moderno e globalizado, com tantas facilidades, buscarmos ajuda e tratamento psicológico, clínico e espiritual adequado para nosso restabelecimento. Realizando o nosso papel na sociedade e em nossas vidas, devemos assim, cumprir a nossa programação reencarnatória.
Referências:
1. Andréia, Jorge; Psicologia Espírita; Ed. Societo Lorenz; v:1 e 2.
2. Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; FEB; Cap.VII; Esquecimento do passado.
3. Pereira, Yvonne do A.; Memórias de um Suicida; 3a parte; IV - O “homem velho” ;FEB.
4. Xavier, Francisco Candido; Ação e Reação; FEB. Cap. 2.
Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o site da CEIP.
Foi publicado pelo Correio Espírita de Niterói em maio de 2022.
Éder Andrade
03 - A Visão Espirita Atual (29/09/2023)
Ao longo da história da Terra, vários espíritos missionários encarnaram com objetivo de orientar os homens a cometerem menos imprudências na tentativa de acelerar a evolução da Humanidade, como podemos perceber na obra, psicografada por Chico Xavier e ditada pelo espírito Emmanuel, A Caminho da Luz. 1
Não faltaram as advertências da espiritualidade para que os homens fossem solidários uns com os outros, exercendo a prática da caridade e do amor ao próximo, como nos deixou o exemplo de Paulo de Tarso e São Francisco de Assis.
Mesmo assim, ao longo dos tempos, embriagados pelo poder e pelos prazeres materiais, muitos governantes e até mesmo membros do alto clero negligenciaram na sua tarefa assumida junto ao mundo maior antes de reencarnar. Dessa forma, tornou-se necessário que doenças consoladoras com objetivo terapêutico ocorressem na humanidade para que os homens pensassem e refletissem nas suas atitudes para com eles próprios e para com a sociedade.
Os abusos cometidos foram de tamanha ordem que no século XIV, um conjunto de catástrofes assolou o mundo ocidental, destacando a Peste Negra, a Guerra dos Cem Anos, a fome e os incêndios provocados pelos camponeses nas moradias dos nobres.
A esse conjunto de acontecimentos, a Igreja Católica associou às previsões de João Evangelista, os Cavaleiros do Apocalipse, que destruiriam a Humanidade. Os historiadores perceberam que a atitude imprudente dos governantes permitiu que esses acontecimentos se desdobrassem, chegando até o continente americano.
Allan Kardec perguntando ao Espírito da Verdade sobre destruição necessária (p. 728 a 736) no Livro dos Espíritos, procurou nos mostrar que às vezes se torna necessário desconstruir o modelo estabelecido para edificar um novo, em outras palavras o velho mundo deve ser demolido para a construção de uma nova sociedade. 2
Quando temos oportunidade de estudar a relação entre política e religião, podemos perceber o quanto a humanidade se comprometeu com atitudes erradas que foram sendo replicadas ao longo da Idade Média até a Idade Moderna. Os compromissos espirituais assumidos ao longo de séculos desembocaram sob a forma de diversos desequilíbrios que em um mundo contemporâneo e globalizado, tornam-se rapidamente de conhecimento público.
As mazelas que a medicina vem tentando combater são muitas delas reflexo das doenças mentais plasmadas pelos homens ao longo de várias gerações. Observamos isso na obra de Allan Kardec, O Céu e o Inferno, quando os espíritos solicitam reencarnações provacionais, para depuração de um perispírito deformado ou adoecido pelo abuso do livre arbítrio em outras encarnações. O esclarecimento doutrinário é extremamente oportuno e nos permite utilizá-lo de forma terapêutica como uma profilaxia contra os males que o mundo moderno vem passando. 3
Com o advento do iluminismo no século XVIII em meados da Idade Moderna e no prenúncio da Revolução Francesa, a cultura do mundo ocidental presencia o aparecimento de pensadores e cientistas, que vão contribuir para o advento do mundo contemporâneo.
Descobertas e uma nova maneira de pensar colocaram um ponto final nas tradições medievais que ainda atrasavam a sociedade, como a divisão social por classes.
Aparentemente algumas dessas antigas tradições limitavam as novas formas de pensamento que surgiam, mas na verdade elas eram mecanismos de manipulação dos governantes e dos membros do alto clero, impedindo que mudanças acontecessem.
A Idade Contemporânea, no cenário europeu, não foi muito diferente dos períodos históricos anteriores, apesar do avanço científico e cultural.
As descobertas e novas invenções passaram a ser usadas pelos governantes para atingirem os seus objetivos e com isso, em pleno século XIX, a indústria bélica se aperfeiçoou, uma vez que existia uma rivalidade entre várias nações.
O continente americano também apresentou sob controle dos europeus, um forte comprometimento social. Como exemplo, podemos pegar o Brasil que manteve um regime de trabalho escravo africano, por quase quatrocentos anos.
Como não admitir que nossa sociedade tenha uma dívida moral com gerações de trabalhadores africanos que foram trazidos como escravos ou de índios que foram submetidos ao trabalho forçado.
Diante desse relato histórico é fácil entender que a epidemia que assola não só nosso país, assim como a humanidade, é um reflexo das projeções mentais deletérias construídas pelo próprio homem como uma forma de burilamento a todos nós.
Seria ingenuidade de nossa parte acreditar que com o fenômeno da morte todos os males da atual encarnação seriam resolvidos. O fenômeno do encarne e desencarne não promove a evolução do espírito, apenas a reeducação, a prática do amor e a reforma íntima podem com o tempo modificar o indivíduo, pois as enfermidades da alma pelo mau uso do livre arbítrio, se transferem de uma encarnação para outra, levando a despertar no corpo físico, sintomas para serem tratados.
Destacamos no livro Ação e Reação psicografado por Chico Xavier, ditado pelo espírito André Luiz, o seguinte comentário feito pelos Instrutor Druso a André Luiz e Hilário:
O pretérito fala em nós com gritos de credor exigente, amontoando sobre as nossas cabeças os frutos amargos da plantação que fizemos... Daí, os desajustes e enfermidades que nos assaltam a mente, desarticulando-nos os veículos de manifestação. Admitíamos que a transição do sepulcro fosse lavagem miraculosa, liberando-nos o Espírito, mas ressuscitamos no corpo sutil de agora com os males que alimentamos em nosso ser. Nossas ligações com a retaguarda, por essa razão, continuam vivas. 4
Referências:
1) Xavier, Francisco Cândido; A Caminho da Luz; Cap. XV - Edificação Cristã; FEB.
2) Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; 3a Parte - Cap.VI - Lei da Destruição (Destruição necessária); FEB.
3) ______, ____; O Céu e o Inferno; 1a Parte - Cap. VII - O Código Penal da Vida Futura; FEB.
4) Xavier, Francisco Cândido; Ação e Reação; Cap. 2 - Comentários do Instrutor; FEB.
Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o site da CEIP.
Foi publicado pelo Correio Espírita de Niterói em março de 2022.
Éder Andrade
02 - Ciência e Religião (15/09/2023)
Desde a Idade Média até a Idade Contemporânea, percebemos uma forte oposição dos membros do Alto Clero, com raríssimas exceções, às descobertas científicas realizadas pelos pensadores e cientistas que procuravam nos mostrar que ciência e religião não deveriam se misturar.
As descobertas feitas na observação astronômica demonstravam todo um conjunto de ideias contrárias defendidas pela Igreja Católica, que foi estruturada desde a Teoria Ptolomaica, onde a cristandade defendia seus pontos de vista e que a Terra era o centro do Universo.
Existia um controle de divulgação do conhecimento por parte da Igreja, porém, os pensadores da Idade Média afirmavam que cabia aos teólogos o estudo de Platão e da Bíblia, enquanto aos filósofos cabia à observação da Natureza. Isso, para não misturar à interpretação dos conhecimentos, embora muitos membros do clero procurassem encontrar nas Sagradas Escrituras explicações para os fenômenos.
A relação entre o conhecimento medieval e os primórdios do espiritismo, pode ser percebida quando a Igreja Católica proibia ideias contrárias ao conhecimento milenar de Aristóteles e Ptolomeu. As mudanças que começam a ser defendidas por Galileu Galilei, por exemplo, colocavam em discussão todas as afirmações da cristandade e precisavam ser contidas, pela intervenção da Inquisição, se assim fosse preciso.
O mesmo fato ocorreu com Giordano Bruno, quando afirmou sobre a Pluralidade de Mundos, e que a Terra seria apenas mais um mundo, entre tantos outros existentes no Universo, assim como as estrelas, que eram sóis distantes cercados por seus próprios planetas.
Muitos espíritos precursores que reencarnaram para revelar ideias que poderiam mudar o curso da história científica e religiosa, foram perseguidos pela Igreja, adiando o advento de novos conhecimentos para a Idade Moderna como o Iluminismo.
As descobertas científicas e tecnológicas auxiliaram nas pesquisas astronômicas, de forma que Galileu Galilei utilizando uma luneta, permitiu a observação da Lua, das suas fases, dos satélites de Júpiter e das manchas no Sol. Esse conhecimento abria campo para pesquisa científica mais apurada, porém, por discordância com o Papa Urbano VIII, Galileu foi "suspeito veemente de heresia" e foi punido com prisão domiciliar.
O pensamento científico e filosófico no século XVII abria um precedente que fortaleceria a reforma religiosa, mas também auxiliaria os pensadores que estavam reencarnando a ter uma liberdade de expressão muito maior no século seguinte, que deu origem ao Iluminismo, o chamado Século das Luzes. Essas reflexões permitiram uma grande transformação social, política e cultural, abrindo campo para o advento de novos conhecimentos propagados na Europa pela divulgação da Enciclopédia e chegando até ao continente americano.
Os cientistas e pensadores iluministas passaram a comprovar cientificamente suas teorias pela experimentação, de tal forma que se desenvolveram métodos científicos para comprovação de fenômenos considerados até aquele presente momento como sobrenaturais, passando a ser estudados de forma séria e não como num interrogatório da Inquisição.
A espiritualidade vê junto aos homens as condições propícias para a reencarnação de estudiosos que abriram campo de pesquisa científica, como Benjamin Franklin, um dos líderes da Revolução Americana, conhecido por ser um polímata norte-americano. Suas experiências com a eletricidade em um espaço de poucos anos, levou a descobertas que lhe deram reputação internacional, demonstrando que os raios são fenômenos de natureza elétrica, experiências essas que anos antes provavelmente seriam combatidas pela Igreja.
O terreno propício para o advento do Espiritismo começou a se formar com as mudanças provocadas no Ocidente, a expansão do exército napoleônico, com a queda das antigas monarquias absolutistas e a Independência dos Estados Unidos, favoreceu a expansão de novas ideias, enfraquecendo a influência da ação da Igreja no campo cultural e científico.
O advento do Espiritismo encontrou uma série de obstáculos ao longo da história para ser revelado, pois a sociedade ocidental, precisava estar mais preparada, amadurecida intelectualmente e espiritualmente para recebê-lo.
Como uma forma de se contrapor às descobertas científicas e acontecimentos que ameaçavam a autoridade eclesiástica, a Igreja Católica no ano 1870 adotou o “dogma da infalibilidade dos papas” em questões referentes à fé cristã. O dogma da infalibilidade foi instituído pelo Concílio Vaticano I, convocado pelo Papa Pio IX.
O conjunto de acontecimentos do século XIX, que envolveu o surgimento do Manifesto Comunista com Max e Engels, o advento do Espiritismo, a Unificação Alemã e Italiana, a 2a Revolução Industrial e os incentivos oferecidos aos cientistas pela Era Vitoriana na Inglaterra, foram eventos marcantes que enfraqueceram a autoridade eclesiástica na Europa.
Esses acontecimentos levaram a Igreja a estabelecer novos parâmentos, admitindo que o uso da infalibilidade era restrito somente às questões de verdades relativas à fé e à moral dos costumes que são divinamente reveladas ou que estão em íntima conexão com a “Revelação Divina”.
Uma vez proclamadas e definidas solenemente, estas matérias de fé e de moral transformam-se em dogmas, ou seja, em verdades imutáveis e infalíveis que qualquer católico deveria aderir, aceitar e acreditar de uma maneira irrevogável. Um instrumento de repressão ideológica que vai afetar toda a cristandade ocidental, inclusive a expansão do Espiritismo no Brasil, no final do Segundo Reinado e após a Proclamação da República.
Referências:
1) Kardec; Allan; O Evangelho Segundo o Espiritismo; FEB.
2) ______; ____: A Gênese; FEB.
3) ______; ____; O livro dos Espíritos; FEB.
Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o site da CEIP. Foi publicado
pela Revista Internacional do Espiritismo (RIE) do Clarim em fevereiro de 2022.
Éder Andrade
01 - Ajuda Sempre (01/09/2023)
Os exemplos deixados pelo Cristo e os Apóstolos são do exercício constante da caridade material e moral, procurando ajudar sempre. Com isso, Pedro fundou a Casa do Caminho, onde o principal objetivo era socorrer materialmente e moralmente todos os viajantes e necessitados que por ela passassem.
Podemos também citar os exemplos deixados por Saulo de Tarso, que estava decidido a se sacrificar, se assim fosse preciso, pelos necessitados que cruzassem sua vida. Estendia as mãos aos sofredores e enxugava-lhes o pranto, sem se entregar ao desânimo e ao desespero inútil, quando a provação batia de porta em porta.
O amadurecimento do senso moral, leva o homem a perceber que existe uma necessidade perene da prática da caridade, onde a compaixão pelos que sofrem, desperta a necessidade do exercício do bem e às vezes de maneira totalmente informal.
Mas Paulo respondeu: Que fazeis vós, chorando e magoando-me o coração? (Atos, 21:13.)
O Apóstolo Saulo exortava seus seguidores a não hesitar diante da dor e das provas e fazia necessário um testemunho pessoal de acolhimento aos necessitados e sofredores, estendendo sempre as mãos no intuito de auxiliar.
A verdadeira caridade exigia de cada companheiro uma cota de sacrifício e abnegação, mesmo que esses seguidores tivessem de resistir ao próprio pranto e não se entregar às aflições, diante do sofrimento alheio nas provas de tempos tão difíceis.
O mérito do bem está na dificuldade. Não há mérito em fazer o bem sem trabalho e quando nada custa. Deus tem mais em conta o pobre que reparte seu único pedaço de pão do que o rico que não dá senão seu supérfluo. (Livro dos Espíritos p. 646)
Nas esquinas das estradas do mundo, encontramos muitas pessoas vivendo nas mais variadas condições de miséria. Fica difícil às vezes perceber qual a miséria mais urgente a ser combatida, a miséria moral ou material, talvez as duas, ao mesmo tempo ou de forma alternada.
Quantas instituições realizam trabalhos voluntários, onde poderíamos nos engajar para auxiliar direta ou indiretamente os necessitados. Segundo os espíritos nos relatam, nós seremos os principais beneficiados, promovendo nossa reforma íntima, ressignificando os acontecimentos passados e educando nossas emoções.
Como resultado prático deste gesto altruísta, o indivíduo entra em harmonia consigo mesmo, se ajustando com suas questões íntimas de culpa ou remorso. O benefício da prática do bem é recíproco, tanto para quem recebe a ajuda, como para aquele que a pratica. Diríamos um movimento de mão dupla que favorece a ambos, nos diferentes momentos da vida!
Não precisamos de uma catástrofe ou acidente, a miséria material existe em todo o planeta Terra e principalmente na periferia das grandes cidades. Muitos espíritos reencarnam para resgatarem uma prova ou expiação em condições de pobreza ou miséria. Acabam precisando que as pessoas mais aquinhoadas possam ajudar de alguma forma, através de uma cesta básica, um enxoval para gestante, um atendimento médico comunitário ou uma mensagem cristã de incentivo.
A maior caridade que pode ser feita paralelamente à ajuda material é a divulgação do evangelho, para despertar a realidade que nos encontramos nessa experiência material.
Porque todos devemos comparecer ante o tribunal do Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito, estando no corpo, o bem ou o mal. (Paulo – II Coríntios, 5:10.)
As cartas deixadas por Saulo de Tarso, procuravam contextualizar o mundo daquela época e as necessidades de transformação moral, através de atitudes em prol do bem, alicerçadas na Boa Nova. Os ensinamentos que o Cristo trouxe aos homens, não foram suficientes para sensibilizar uma sociedade que valorizava os bens materiais, os prazeres da vida, a riqueza e acima de tudo o poder.
Quando tratamos de caridade moral, precisamos nos lembrar que o pão do espírito esclarece verdades que muitos desconhecem, mesmo depois da Terceira Revelação com Allan Kardec, quando organizou a Codificação Espírita.
O Pentateuco consiste nas orientações espirituais prometidas por Jesus aos homens. Mesmo assim, ainda não teve o interesse necessário dos homens para entenderem o fenômeno da morte.
Fazer o bem pelo bem, pelo prazer de ver a paz interior nos outros e poder sanar as suas aflições consigo mesmo, representa um grande mecanismo, de auto esclarecimento, assim como de auto perdão.
Segundo Saulo de Tarso, a salvação deveria ser baseada na fé e não apenas nas "Obras da Lei”. Em outras palavras, ele queria dizer que a caridade deve ser feita por amor e não por mera obrigação. Essa passagem nos lembra a parábola do “Óbolo da Viúva”, ajudar porque sentimos a necessidade de fazê-lo e esse ato nos faz sentir feliz e em paz conosco.
“A caridade é paciente, é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta (aborrece), nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente é a caridade.
(Paulo, 1a Epístola aos Coríntios, 13:1 a 7 e 13.)
Os grandes emissários do Alto foram enviados ao mundo físico com o objetivo de deixarem exemplos significativos junto aos homens de bem, de forma instruí-los não apenas com palavras, mas também com exemplos de uma fé raciocinada.
Ressaltamos o trabalho dos Eméritos Espíritas Brasileiros, como Chico Xavier em particular, que se dedicou a parte doutrinária, porém nunca se descuidou do atendimento fraterno aos necessitados e procurou conciliar de acordo com as possibilidades a caridade moral e material, deixando a todos nós um legado de perseverança no bem.
Referências:
1) Xavier, Francisco Cândido; Pão Nosso; FEB.
2) Kardec, Allan; O Evangelho Segundo o Espiritismo; FEB
3) ______, ____; Livro dos Espíritos; FEB
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Obs.: Artigo revisado, resumido e atualizado para o Site da CEIP.
Foi publicado pela Revista Internacional do Espiritismo (RIE) no Clarim em dezembro de 2021.
Éder Andrade
Comentários:
Lindo trabalho edificante que toca corações e modifica vibrações. Parabéns pela iniciativa e por fazer esse belíssimo trabalho para ajudar o mundo a ficar melhor.
Selma Coltro
Acompanhando seus textos maravilhosos, vou imprimir para deixar na CEIP.
Gratidão amigo.
Luciana Palma
Excelente texto Éder. Obrigada por compartilhar conosco.
Silvia Almeida
Boa tarde Éder!
Você sempre nos trazendo conhecimentos e informações importantes! Gratidão. 🙏
Kátia Teixeira
Os textos do nosso irmão Éder retratam a sua seriedade nas pesquisas e informações que ele nos traz de forma didática e inteligência, facilitando a nossa compreensão de pontos importantes da Doutrina Espírita. Parabéns!
Marcos Jüwer
Excelente texto.
Carla de Carvalho